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Bertha Oliva: Paz é um continente latino-americano sem violência

Bertha Oliva é coordenadora geral do Comitê de Familiares de Detentos Desaparecidos em Honduras (COFADH) e da Comissão da Verdade. Começou sua militância nos Direitos Humanos nos anos 1980, após seu marido ser sequestrado e desaparecido.

Por Érika Ceconi, no Cebrapaz

Ela participou da Conferência Internacional “A Integração Latino-americana e a Luta Pela Paz” promovida pelo Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e a Luta Pela Paz (Cebrapaz), realizada nos dias 17 e 18 de junho em São Paulo.

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“Com forças armadas não se alcança a paz”

Após quase dois anos do golpe de Estado em Honduras, o país sofre com violações aos direitos humanos. Segundo Bertha Oliva, o mundo tem uma visão equivocada sobre a real situação dos hondurenhos. “Isto é parte do duplo discurso com o qual atua o regime atual: desinformar e manipular para que o mundo acredite em uma coisa, mas em nosso país está se fazendo outra, que é atentar contra a vida e a liberdade,” afirmou.

Segundo Oliva, a presença de bases militares dos Estados Unidos, que foi um acordo assinado pelo atual regime de Porfirio Lobo Sosa, de cooperação entre os dois países, é outro fator que contribui com a violência. “Com estas forças armadas não se alcança a paz, o único que conseguimos e temos como resultado é dor e sofrimento”, disse.

Dados do COFADEH apontam que Honduras sofre uma média de 18 mortes violentas por dia, o que eleva a taxa de homicídios a 78 para cada 100 mil habitantes.

Repressão ao povo hondurenho

“Nunca como agora tínhamos visto esta política criminosa do Estado, que se reflete e se concretiza na perseguição e se conclui com a criminalização do protesto social”, critica Oliva.

De acordo com ela, existem três modalidades de repressão ao povo, que são usadas pelos donos do poder, latifundiários e empresas privadas: as forças militares e policiais, a segurança privada e os pistoleiros. “O povo hondurenho está submetido a estas três forças. Ele demanda e reclama direitos sociais violentados permanentemente”, declarou.

Segundo ela só será possível voltar à ordem constitucional no país através de uma Assembleia Nacional Constituinte. E faz um apelo. “Só quero chamar a atenção dos lutadores e lutadoras pela paz no mundo que não nos deixem, porque se ficarmos sozinhos, se a solidariedade internacional não for colocada em prática, em Honduras se instalará o genocídio”, alertou.

Comissão da Verdade

Em relação à Comissão da Verdade, Oliva declarou que “perante a proposta cínica do regime atual de criar uma comissão da verdade e reconciliação afastada de todos os padrões internacionais, que têm formado Comissões da Verdade em mais de 30 países do mundo, nós criamos a Comissão da Verdade, simplesmente assim, porque acreditamos que é a vez de os ofendidos depositarem suas vivências, para que esta comissão investigue os feitos do passado e do presente”, explicou.

“Paz é um continente latino-americano sem violência”

Ao ser questionada sobre qual a definição de “paz” Bertha Oliva respondeu: “A paz é muito mais do que uma palavra e uma frase, muito utilizada nesse momento na região pelos criminosos, pelos que promovem a guerra, mas nós falamos desta paz com qualidade humana, com respeito íntegro aos direitos humanos. No mundo não há paz, se como paz se mantém o silêncio através da violência e através da força e do uso de armas criminosas e letais então é exatamente o contrário. Para nós a paz é um continente latino-americano e um planeta longe da violência armada”, concluiu.