Baianos lançam Comitê pela Verdade

"Esse Comitê tem o objetivo de pressionar pela aprovação do projeto que cria a Comissão da Verdade, que está no Congresso Nacional desde maio de 2009. Vamos trabalhar junto aos deputados e senadores baianos pela aprovação da Comissão e depois vamos participar da mobilização da sociedade civil para que esta comissão de fato venha a resgatar a história de luta do povo brasileiro”, afirmou Diva Santana, da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Para o presidente do Grupo Tortura Nunca Mais na Bahia, Joviniano Neto, após a criação da Comissão da Verdade começa a fase mais difícil do processo, que é fazer com que no prazo previsto a Comissão tenha condições de funcionar e produzir resultados. “É a partir dela, que o povo brasileiro pode ter uma versão documentada, oficial dos fatos, ouvindo não apenas a voz das vítimas, que até hoje falaram bastante, mas também os responsáveis pela repressão, para que se reconstitua uma verdade mais objetiva possível. É uma Comissão que terá o poder de convocar as pessoas para falar e de solicitar qualquer documento. Se ela tem o poder de analisar qualquer documento, então pode ser que documentos sobre a ditadura militar na Bahia e no Brasil venham à luz”, acrescentou Joviniano Neto, que participa da coordenação do Comitê Baiano pela Verdade.

“Desde que a ditadura acabou, a sociedade tem se mobilizado para contar a verdadeira história do país. Não foram poucos os patriotas que foram assassinados, torturados, que foram, digamos assim, ofendidos em sua dignidade pelas mentiras difundidas pelos ditadores. E retomar o processo democrático no Brasil significa efetivamente revelar a verdade. Nós tivemos uma anistia pela metade, um processo de retomada da democracia que ainda não se completou integralmente e é preciso efetivamente revelar a verdade sobre estes brasileiros que foram perseguidos e injustiçados”, acrescentou Carlos Mariguella, filho do militante político baiano Carlos Mariguella, assassinado pelos militares.

Movimento nacional

Segundo a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, os comitês estaduais pela Verdade estão sendo criados com o apoio do Ministério e já são 16 em todo o país. “Estes comitês terão o importante papel de pressionar o Congresso pela votação da Comissão da Verdade e depois poderão auxiliar o seu funcionamento, inclusive a vigiando para que seja uma Comissão da Verdade de fato”, ressaltou a ministra.

“Nós estamos produzindo caminhos para a verdade no Brasil com atraso. Em todo o mundo, mais de 40 países já criaram suas comissões da verdade. O Brasil está fazendo esta trajetória de forma muito sofrida. Quem governa o país hoje tem plena consciência de que é preciso completar a democracia. E é preciso fazer isso agora”, disse Maria do Rosário, acrescentando que o governo federal está disposto a avançar para a votação do projeto no Congresso, além de trabalhar para a retirada do sigilo eterno dos documentos ultra-secretos.

A ministra conclamou os presentes a se mobilizar contra as forças conservadoras que querem entrar na Justiça contra a Comissão da Verdade, além de buscarem junto a militares que participaram das operações naquele período, que passem as informações sobre a localização dos corpos dos desaparecidos, principalmente na Guerrilha do Arraguaia.. Para ela, esclarecer a verdade sobre as torturas, as mortes e os desaparecimentos forçados que aconteceram durante a ditadura militar é uma dívida não apenas com os familiares destes militantes, mas com toda a sociedade brasileira.

De Salvador,
Eliane Costa