América Latina e Caribe consolidarão agenda própria na Celac
Com o nascimento da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Caracas, em 5 e 6 de julho, a região dará um importante passo para a construção de uma agenda política e socioeconômica própria. O bloco, que exclui de seu seio Estados Unidos e Canadá, terá a participação de 33 nações do continente, em um espaço fortalecido por iniciativas integracionistas como a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) e a Unasul.
Publicado 16/06/2011 12:19
Antes da cúpula de fundação da Celac, os países da região realizaram vários foros preparatórios em temas chaves para a área, entre eles a segurança alimentar, o combate à pobreza, a educação, a estabilidade energética, o desenvolvimento econômico e a defesa do meio ambiente diante da mudança climática.
A propósito do nascimento da Comunidade criada pelo Grupo de Rio em Cancún, em fevereiro de 2010, a Prensa Latina conversou com o presidente da Comissão de Política Exterior do Parlamento venezuelano, Saúl Ortega. Veja abaixo:
Prensa Latina: Que significa a materialização da Celac para Venezuela e a região?
Saúl Ortega: A Celac representa a oportunidade de concretizar o sonho de Simón Bolívar e de outros próceres de ver a América Latina unida em uma grande nação. É o surgimento de um pacto que, pela primeira vez, permitirá nos reunir sem Estados Unidos e Canadá, países do norte, diferentes aos nossos. Trata-se, portanto, de tornar realidade a aspiração de avançar com uma agenda própria em todos os níveis, político, econômico, social e cultural; algo impensável há uma década.
Com respeito à Venezuela, estamos muito felizes de que seja aqui na terra do Libertador essa festa da integração, a qual coincidirá com o bicentenário da declaração de independência.
Prensa Latina: Quais seriam as contribuições do novo bloco?
Ortega: Além da oportunidade de empreender juntos um caminho próprio, a Celac trará, com seu nascimento, duas novidades na minha opinião notáveis.
Já mencionava o que significa nos reunir sem os Estados Unidos, cujos governos nos atribuíram tradicionalmente o infame papel de quintal; e a outra, a presença da Cuba revolucionária e soberana, excluída durante tantos anos. (Em janeiro de 1962, em Ponta do Esta, Cuba foi expulsa da Organização de Estados Americanos (OEA) por pressões de Washington).
A Celac também terá impacto no palco internacional, contribuindo com o multilateralismo e o fortalecimento da imagem da América Latina e Caribe ante o mundo.
Prensa Latina: Que esperar desse fortalecimento ante a comunidade internacional?
Ortega: Com respeito aos Estados Unidos, deixar claro que já não somos o quintal como pretende seguir nos vendo a diplomacia imperial; e em termos gerais, construir um bloco merecedor de respeito e reconhecimento, ante a vontade regional de conseguir o trato de igual a igual entre estados soberanos que temos demandado por séculos.
Isto não significa um espírito de confronto, porque a Celac defenderá sempre a paz e o entendimento.
Prensa Latina: A propósito da OEA, qual seria seu destino uma vez fundada a Celac?
Ortega: Não devemos antecipar o futuro, mas podemos assegurar que a OEA está há muito tempo ferida de morte, por atuações que lhe deram o bem merecido qualificativo de ministério de colônias ianques.
Recentes provas da subordinação aos interesses do império foram sua posição no Golpe de Estado em Honduras (2009) e no ataque colombiano ao território do Equador (2008), enfim, acho que a OEA já cavou sua própria tumba.
Prensa Latina: Há na região várias experiências de integração, como se inseririam na Celac?
Ortega: Temos novos mecanismos como a ALBA e a Unasul, verdadeiros espaços de acordo político com efetividade demonstrada, que sem dúvidas contribuirão à Celac. De concreto, serão de muito valor para a integração regional, porque representam os princípios de paz, democracia, solidariedade, cooperação e complementação.
Também estão o Mercosul, o Caricom e outras experiências, a cada uma com algo que tributar. Sem temor de equivocar-me, posso dizer que temos vindo construindo um tecido político, econômico e social capaz, por sua fortaleza, de suportar um projeto tão ambicioso como a Celac.
Prensa Latina: Estaríamos então ante um caminho aberto? Alguma reação previsível dos Estados Unidos?
Ortega: O caminho é bem complexo e os Estados Unidos seguramente continuarão buscando a maneira de boicotar este projeto de grandes dimensões. Nunca deixaram de semear confrontos para nos dividir e agora é o momento de estarmos conscientes de que a intriga tem sido sua arma fundamental, a mesma que usaram em 1826 no Congresso Anfictiônico do Panamá (considerado a primeira tentativa para a unidade da América Latina).
Prensa Latina: Há confirmação sobre a participação dos presidentes na cúpula de fundação da Celac?
Ortega: Aqui em Caracas ocorrerá a assinatura dos documentos constitutivos da Celac, e a informação que temos é que virão todos os presidentes, premiês e chefes de Estado da região.