No Piauí, exploração de opala garante 1º emprego e renda
No passado, o garimpo da opala no interior do Piauí não garantia mais que um ano de renda para os trabalhadores da região, já que o dinheiro da exploração desordenada da pedra costumava ser gasto com a mesma facilidade com que era retirado das minas.
Publicado 31/05/2011 13:01 | Editado 04/03/2020 17:00
Desde a extração da opala, encontrada em alta qualidade apenas no Piauí e na Austrália, até o design das peças passa pelas mãos dos pedro-segundenses, permitindo que muitos vivam só disso. Na família de Osmarina Uchôa, 40 anos, o garimpo das pedras cabe ao seu marido e a criação das joias, à sua imaginação.
Há seis meses Osmarina abriu uma loja no centro de Pedro II, a Pedra Joia, emprega dois funcionários e disse ter faturamento bruto de R$ 4.000 por mês. "Meu sonho agora é terminar de registrar meu negócio como loja mesmo, ser dona da minha microempresa. Quero fazer cursos e ampliar esse comércio", afirmou Osmarina, que antes era funcionária da prefeitura de Pedro II.
As perspectivas positivas da renda que a opala pode gerar estão estimulando jovens do pequeno município a investirem na venda das joias, ampliando o tamanho das lojas e procurando pontos com melhor localização, "para vender mais". "Me mudei aqui para o centro há uns meses, já pensando no Festival de Inverno. Vem gente não só do Piauí, mas de vários estados. Eles ficam bem em frente da nossa loja, então conseguimos vender bastante. O estoque está cheio", disse Wellington Rodrigues, 22 anos, sócio, com o seu irmão, da ALTA.L & Joias.
Dono de uma das maiores e mais antigas lojas da cidade, inaugurada em 1992, Juscelino Souza também é uma dessas pessoas que apostaram tudo o que tinham na opala, seguindo, de certa maneira, os passos do pai, que era garimpeiro. No ateliê onde produz as peças – desde a lapidação até a ourivesaria – o empresário emprega 18 funcionários. Para a maioria, é o primeiro emprego. Quando começou, eram só oito, mas, à medida que as pedras começaram a cair no gosto de estrangeiros, a joalheria teve de ser expandida. No início, 90% do que era produzido por Juscelino tinha a exportação como destino, chegando principalmente a França, Alemanha e Estados Unidos.
Quem está no ramo há mais tempo também começa a dividir o que aprendeu: como fabricar uma bela peça e administrar o próprio negócio. Antonio Márcio de Oliveira trabalha desde 1989 com lapidação de joias. Em 2000, abriu sua primeira joalheria, o Ateliê de Prata. Em 2004 formalizou-se e, neste ano, ampliou uma de suas duas instalações. Juntas, elas empregam dez funcionários e faturam R$ 220 mil por ano, de acordo com Oliveira. No Sebrae, o empresário capacita pessoas interessadas em receber orientações para serem bem sucedidas como ele.
Atrás do sucesso mais recente que tem vivido o comércio de Pedro II está o garimpo. Nas mãos desses homens tem início a primeira etapa do ciclo produtivo das joias de opala. Hoje, com a crescente e necessária legalização da exploração das minas, muitos abandonaram a atividade, segundo contam os trabalhadores.
No entanto, os que ainda insistem garantem que o esforço vale a pena. Antonio Ferreira Neto, 48 anos, chamado de Marola, é garimpeiro e lavrador desde os 17. Em Pedro II, conhecida como Suíça piauiense devido às temperaturas amenas que permitem o cultivo de legumes e hortaliças, a maioria das famílias que vivem do garimpo complementam a renda com a produção de suas pequenas lavouras.
"Consegui criar dois filhos com o dinheiro daqui. Tem o lado ruim, desgasta a gente. Tem que ficar aqui o dia inteiro procurando pedra, e nem sempre acha, mas eles estão lá. Um estuda em faculdade pública em Teresina, faz biologia e quer voltar para trabalhar com meio ambiente em Pedro II, e o outro foi para São Paulo, trabalhar em um restaurante muito chique, aquele Fasano."
Com sorte e muita insistência, há garimpeiros que já chegaram a ganhar R$ 60 mil em pedras em um mês, segundo contou o presidente da cooperativa dos trabalhadores, José Cícero da Silva Oliveira.
Fonte: Portal da Clube