Sorrentino: "Não existe PCdoB forte sem militância organizada"
Em Fortaleza para participar do 1º Encontro Cearense sobre Questões de Partido, realizado neste sábado (28), Walter Sorrentino, secretário Nacional de Organização do PCdoB, falou com o Vermelho-CE. Na entrevista, ele ressalta o atual momento político no Brasil, os desafios que deverão ser enfrentados pelos comunistas e ainda a importância de fortalecer os Comitês Municipais para a consolidação de um PCdoB cada vez mais forte.
Publicado 28/05/2011 19:32 | Editado 04/03/2020 16:31
Walter Sorrentino alertou que é preciso conhecer bem o partido para dar passos mais largos. “Precisamos saber em que terreno nos movimentamos para fortalecer ainda mais o nosso partido não só na sua atuação mas também na organização”.
O comunista enaltece o momento especial na vida do país. “Vivemos um momento favorável onde caminhamos num rumo de afirmação, combinando, pela primeira vez na história do Brasil, uma onda de desenvolvimento, aprofundamento da democracia com distribuição de renda e identificamos que o povo está confiante de que se pode sonhar, de que seus sonhos poderão ser realizados”, avalia.
O dirigente ressalta que esta nova situação também cria problemas estruturais, desafios a serem enfrentados e superados em todas as cidades do país. “Vemos carência na saúde, problemas de saneamento básico, pessoas em busca de emprego e qualificação. Vemos pessoas que querem progredir na vida. Poucas vezes viu-se este cenário. O Brasil está mudando”, reforça.
“Estamos otimistas. Vivemos momento parecido na década de 50, nos Governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Naquele tempo também houve uma grande onda de desenvolvimento, momento em que o PCdoB vivia na ilegalidade, época que não se via tanta preocupação com a distribuição de renda como vemos atualmente. Como dizem no popular, na década de 50 o Brasil bombou no mundo inteiro”, compara. Primeiro título do Brasil na Copa, Bossa Nova, inauguração de Brasília foram citados por Sorrentino como exemplos de crescimento do país perante o mundo. “Esta foi a onda mais parecida que o país viveu comparada com a atual. A diferença é que agora, do ponto de vista de expectativa e esperança da nação, o povo vê que pode vencer”.
Cenário atual
Para efetivar as melhorias na vida do povo brasileiro, Sorrentino ressalta que é importante lutar para o êxito do governo da presidente Dilma. “Além das ações iniciadas por Lula, Dilma tem a missão de avançar nas políticas em defesa do país”, ratifica.
O dirigente comunista considera também que a oposição vive uma fase delicada no país. “A oposição perdeu o rumo, a sintonia com a sociedade. Ela está derrotada, abatida, sem perspectiva para o futuro, sem discurso”, avalia. Diante disto, o secretário Nacional de Organização do PCdoB considera ser esta uma “hora boa e importante de avançar”. “Dilma foi eleita amparada com amplo apoio dos parlamentares do Congresso Nacional. Ela tem a clareza de que é preciso investir para poder avançar. Só falta ter coragem de enfrentar algumas questões essenciais ao país para romper de vez com o atraso”. A política econômica de juros e as cadeias de câmbio foram citadas como empecilhos para o crescimento do Brasil.
A pressão dos movimentos sociais e a luta de ideias são ainda questões a serem encaradas pelo novo governo. “As coisas só mudam quando se tem a confiança em outro caminho”. Sorrentino citou a polêmica do Código Florestal, votado nesta semana na Câmara dos Deputados, como um tema a ser refletido pelos participantes sobre as principais vertentes que alimentaram e polemizaram o debate.
Fortalecer o PCdoB
“Fortalecer o PCdoB para avançar não só no Ceará, mas em todo o país é uma tarefa estratégica nacional. Não somos um Partido qualquer. Temos história, um caminho trilhado, um rumo, propostas. Lamentavelmente o PCdoB é o único partido que tem esta maturação”, reforça Sorrentino.
O dirigente comunista avalia que, para unir o povo e travar a luta de ideias, é preciso unir amplas forças tanto nas lutas sociais, como na frente eleitoral e institucional. “Nossa luta será fortalecida não só nas Prefeituras e nas Câmaras de Vereadores. Temos que unir nossas ideias e convicções às lutas sociais. Unir trabalhadores, juventude, mulheres que vão cumprir valoroso papel em casa município. Todos esses segmentos são as forças do futuro”, reconhece.
Walter Sorrentino considera que para o PCdoB se fortalecer é preciso crescer com qualidade. “Neste novo cenário de afirmação do Partido, precisamos ratificar a nossa identidade na luta política, que tem como caminho o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”.
Sorrentino reforça que o PCdoB precisa trazer para suas fileiras lideranças que tenham voz em cada cidade. “O Partido precisa se abrir para a sociedade, ligar-se ao povo, falar pelo povo e para o povo. Apesar de nossa ligação popular, ainda não falamos amplamente para todos. É preciso falar a linguagem do povo, trazer lideranças locais para o Partido. O PCdoB é uma legenda que assume compromissos, que tem projeto coletivo. A impressão que tenho é que todo mundo vê nossas qualidades e nós não nos enxergamos como tal”.
Ao trazer para dentro do Partido lideranças, Sorrentino alerta que é preciso dar qualidades de um Partido Comunista aos novos filiados. “O PCdoB é combativo, unido, mas também precisa romper limites, travas internas. É papel de cada militante o compromisso de tomar para si a aplicação da luta política de estruturação partidária. No PCdoB não cabe mais amadorismo. Nada mais é espontâneo, improvisado”, reforça.
PCdoB nos municípios
Para fortalecer o partido nos municípios, Sorrentino considera ser importante que o PCdoB se apresente como alternativa política viável. “E me refiro a isso não só agora para 2012, ano em que deveremos apresentar projeto eleitoral arrojado, avançado, afirmativo, mas sempre. E não só na luta eleitoral, mas principalmente nos movimentos sociais. As eleições são locomotivas do nosso projeto político, mas não se encerram em si. O PCdoB é maior que projetos eleitorais específicos”.
E para ter um partido forte nacionalmente, defendendo a luta do povo, é preciso fortalecer os comitês do PCdoB nas cidades. “São os militantes que nos ligam ao povo. A militância tem papel central no trabalho do Partido. Neste momento de crescimento do PCdoB, somos chamados a liderar a luta política e de ideias nos municípios”, reforça o dirigente.
Reforçar a militância
Sorrentino destaca, porém, que para fortalecer o PCdoB não basta apenas filiar lideranças políticas. “Fortalecer exige mais vida militante nas bases. Não somos partido como os outros. Temos unidade, programa. Não somos uma junção de correligionários. A militância organizada é a base do nosso Partido”. E o secretário Nacional de Organização questiona. “Será que estamos construindo condições para formar os novos filiados e militantes?”.
O comunista considera que é preciso formar melhor os militantes. “Com isso, daremos um grande impulso para os futuros portadores de um pensamento maduro, avançado. A nossa estrutura partidária ainda não é do tamanho das nossas ideias”, considera.
A decisão de investir no militante é uma bandeira nacional. “Também precisamos romper com nossos limites. Buscaremos usar as ferramentas para organizar nossa política de quadros com o esforço de regular e definir a atuação de cada um dentro das bases. Precisamos construir a vida do Partido nas bases, de forma mais regular. E esta tarefa começa agora, dentro do período das conferências”.
Revisão organizativa
Sorrentino reforça a ideia de que para ser um partido forte nacionalmente, o PCdoB deve intensificar suas ações nas cidades. “É nos municípios onde o povo vive. É lá onde o Partido precisa chegar. E um meio eficaz para isso são as conferências que deverão acontecer em cada cidade. Ainda há quem coloque dificuldade para a realização desses encontros alegando que não há forças no partido. Forças há, precisam é ser trazidas para nosso lado”, defende.
O dirigente comunista informa que deverão ser mapeados os quadros políticos dos partidos em cada município. “Iremos iniciar o que chamamos de revisão organizativa. Será uma forma de encontrar lugar definido para cada militante e identificar quadros que serão responsáveis pela atuação do Partido dentro daquela base”. Sorrentino destaca que esta ação terá importância ainda maior nos grandes centros. “Se um município tem, por exemplo, 20 filiados, dá para reuni-los em seminários ou assembleias, ao contrário das capitais, por exemplo, que precisarão de um melhor controle das ações de cada base”, exemplifica.
De acordo com Sorrentino, cada base terá um quadro responsável para encaminhar as ações do Partido naquele núcleo com agenda de atividades e pautas definidas. “Nosso objetivo é nuclear todos os militantes para que as ações não fiquem soltas e desordenadas. Esses quadros serão nossos elos nas cidades na construção desta corrente do processo organizativo do PCdoB”, ratifica o comunista que acrescenta: “Para pensar grande, temos que começar a atuar de modo focado nas cidades”.
Outro desafio do PCdoB é constituir comitês municipais que também servirão como elos dessa grande corrente. “Buscaremos construir e consolidar comitês capazes, ousados e arrojados com maior inserção dentro da comunidade. Não só nacionalmente, mas também nos Estados este sistema já está consolidado. Implantar os comitês nas cidades será uma ação determinante para o sucesso do Partido nesta etapa de crescimento”, considera o comunista.
Desafio em números
Atualmente o PCdoB conta com cerca de 300 mil filiados em todo o país. A meta para até o final deste ano é alcançar a marca de 400 mil comunistas integrados ao Partido com vida militante. Já para o 13º Congresso Nacional do PCdoB, que deverá acontecer em 2013, o desafio é que 500 mil filiados estejam organizados e atuando nas bases das diversas cidades brasileiras.
Para a primeira etapa de implementação da revisão organizativa, o desafio é criar e identificar 10 mil quadros de bases e 10 mil quadros intermediários e contabilizar entre 2.300 e 2.500 cidades com fortes comitês municipais.
Dados de 2009 contabilizaram 900 bases organizadas nas principais cidades do país. A expectativa é praticamente triplicar este número. Segundo Sorrentino, nesta fase inicial, o PCdoB deverá catalogar entre 2.500 e 3 mil bases identificadas e organizadas nos maiores municípios do país.
Discutir questões partidárias e organizativas tem sido uma tarefa que já está se solidificando em quase todos os Estados do país. “A ideia de promover este encontro é formidável. Neste mesmo final de semana acontece na Bahia um debate semelhante e está reunindo mais de 300 pessoas. Em todos os Estados o clima é de otimismo tanto no lado organizativo quanto no eleitoral”, avalia o comunista.
O secretário Nacional de Organização do PCdoB enumera as capitais onde o Partido irá disputar com grandes chances de vitória as eleições em 2012. “Além de Fortaleza, também lançaremos candidatos em Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Salvador, São Luís, Macapá, Manaus, Rio Branco, Porto Velho além de ser quase universal a intenção de lançar chapa própria para eleições proporcionais”, enumera.
De Fortaleza,
Carolina Campos