Dinho, como Paulo Fonteles, é vítima do latifúndio assassino
Escrevo sob impacto de forte emoção. O sábado transcorria tranqüilo, quando recebi telefonema do camarada Renato Rabelo, presidente do PCdoB, informando-me que Adelino Ramos, o Dinho, assassinado na véspera por sicários a serviço de madeireiros e latifundiários, era militante do Partido.
Por José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho
Publicado 28/05/2011 15:37
Não sabia. O ato de banditismo tinha sido noticiado por algumas agências, inclusive pelo Vermelho, mas nenhuma informava sobre a militância do camarada nas fileiras comunistas, sua opção de luta e vida desde 2007. É o terceiro assassinato de lideranças da luta no campo ao longo da semana.
Não conheci pessoalmente o Dinho, mas o telefonema do Renato tornou inevitável a associação com o assassinato do saudoso amigo e camarada Paulo Fonteles. Lembro-me como hoje. Não era um sábado, mas um dia de semana, uma quinta-feira. Estávamos o camarada Aldo Rebelo e eu confabulando na sede do Comitê Estadual do Partido de São Paulo, na rua Condessa de São Joaquim, quando recebemos, por telefone, a triste notícia. Conversávamos muito. Temos uma eterna contradição – ele palmeirense , eu corintiano. E total unidade quanto à necessidade de encontrar os meios e modos para conquistar a emancipação nacional e social do povo brasileiro. Sob a direção de João Amazonas, e com o concurso também do Zé Carlos Ruy, redigiríamos, quase década e meia depois, o documento do Partido em homenagem ao povo brasileiro pela passagem dos 500 anos do assim chamado Descobrimento (22 de abril de 1500).
Lembro-me, também como hoje, do discurso do camarada Sérgio Miranda na reunião do Comitê Central, do qual ele foi membro destacado durante décadas, em que homenageamos o Paulo. O Sérgio, impenitente humanista, em sua exemplar ética comunista, falava das qualidades de lutador do Paulo e do seus dons, como homem e poeta, seu amor à vida, seu sonho de liberdade e vida livre e coletivista. Sonho, mas um sonho vivo no exemplo dos nossos mártires. Sonhos que permanecem, na memória que não se apaga. E de um Partido que permanece em nosso ideal e corações.
Voltando ao dia de hoje, valemo-nos dos meios de que dispomos, e uma hora depois do telefonema, já tínhamos na capa do Vermelho a informação básica sobre o sacrifício do camarada Dinho e as repercussões da sua morte. Ressalto a presteza do camarada Renato, o exemplo que dá sobre a importância de circular com rapidez a informação. Além de orientador e dirigente, o presidente foi também “repórter”.
Atenção, dirigentes intermediários, atenção sucursais : mirem-se no exemplo! Com sua atitude, o Renato me remeteu a outra reminiscência, a do estilo de trabalho do Amazonas. Dizia o velho João: “Direção concreta, este é o nosso estilo”. Bela recomendação e belo exemplo para nossa política e prática de organização e de quadros.
No assassinato de Paulo Fonteles, como agora, ainda insepulto o corpo do Dinho, como em todas as demais situações semelhantes – assassinato de Sebastião e Canuto, ambos do Pará, e de centenas, milhares de mártires do latifúndio assassino – reagimos, o Renato, o Aldo, este escriba, milhares e milhares de camaradas e outros companheiros de outros tantos mártires – com indignação, mas não só.
Os comunistas, inclinamos nossas bandeiras em sinal de respeito aos nossos mortos, para depois reerguê-las, em posição mais alta, junto com os nossos punhos cerrados, para gritar com a mesma revolta dos camponeses e de todo o povo: Abaixo o latifúndio assassino!
Fica por minha conta o desabafo que segue: Abaixo as Kátias Abreus e Ronaldos Caiados da vida, com seus valhacoutos, as CNAs e UDRs!
O Brasil precisa urgentemente de reforma agrária, no quadro de outras tantas reformas estruturais democráticas, indispensáveis ao nosso desenvolvimento, progresso e salto civilizacional. Precisa punir os assassinos e seus agentes. Não pode haver um Brasil urbano, dos direitos humanos, da participação popular e da democracia, e um Brasil rural abandonado à própria sorte, vulnerável à ação de bandidos, a serviço do latifúndio e de um modelo agrícola e extrativista depredador, espoliador e opressor do povo.