Onda de mobilização de servidores sacode Alagoas

O governador tucano, Teotônio Vilela Filho, vem enfrentando uma grande mobilização dos servidores estaduais de diversas categorias por aumento de salários e melhores condições de trabalho. Na última semana o confronto se acirrou e não há ainda solução à vista.

Maceió

O clima entre servidores públicos e o governo começou a piorar há quinze dias, depois que bombeiros da brigada de incêndio do Aeroporto Internacional Zumbi dos Palmares decidiram paralisar as atividades. O resultado foi o fechamento do aeroporto para pousos e decolagens por quase um dia inteiro. O governo decidiu retaliar. O Comando Geral do Corpo de Bombeiros abriu 56 processos administrativos disciplinares e 18 inquéritos policiais-militares contra os soldados que participaram do “motim” no aeroporto.

Os trabalhadores da Educação iniciaram na última quinta-feira, 19/05, uma greve por oito dias. Além da paralisação de todas as atividades na rede estadual durante esse período, será realizado nesta segunda-feira, 23/05, um ato público em Arapiraca reunindo trabalhadores de toda aquela região. Professores e demais servidores da Educação voltam a reunir-se em assembléia na próxima quarta-feira, 25/05.

O projeto de lei que o governo encaminhou à Assembléia Legislativa para a contratação de servidores por 180 meses sem concurso público aprofundou ainda mais a crise com o funcionalismo estadual. Servidores da Saúde e Educação realizaram assembléias no último dia 18/05, e rechaçaram o projeto, ameaçando decretar greve geral por tempo indeterminado para obrigar o governo a suspender o projeto.

Os servidores do setor agrícola fizeram uma paralisação de advertência na quinta-feira, 19/05, para cobrar do governo a realização de concurso e a concessão do reajuste dos últimos quatro anos. Durante a manhã fecharam as portas da Secretaria de Estado de Agricultura a cadeado e à tarde participaram de assembléia com o Movimento Unificado com demais servidores de outras áreas.

Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Público Agrícola e Ambiental de Alagoas (Sindagro), Sebastião Alexandre, mais de 1.500 servidores atuam no Estado sem condições de trabalho adequadas para dar assistência aos pequenos agricultores. O presidente do Sindagro se queixou da falta de pessoal e criticou a maneira como o governo vem lidando com a contratação de novos funcionários de forma temporária.

Centenas de servidores públicos, dentre os quais bombeiros, professores, policiais civis e militares, agentes penitenciários, pessoal da saúde, se reuniram na Praça Deodoro na última quinta-feira, 19/05, para discutir os rumos da mobilização unificada. Os trabalhadores decidiram que não aceitam a proposta de 7% de reajuste em duas parcelas – uma em maio e a outra em novembro – feita pelo governo e repudiaram o ultimato dado pelo governador de que se não aceitarem a proposta até o dia 30, o percentual será de 5,91%, também em duas parcelas. A mobilização bloqueou várias ruas do Centro de Maceió.

Um mini trio-elétrico foi levado para o meio da praça e reproduzia o som da gargalhada do governador Teotônio Vilela Filho ao responder a pergunta de um jornalista sobre o reajuste dos servidores públicos. Segundo o presidente estadual da CUT, Izac Jacson, os servidores iriam fazer mobilizações nos próximos dias e na quarta-feira se reunirão em grande assembléia com indicativo de greve geral por 48 horas.

Da Praça Deodoro os servidores saíram em caminhada, fizeram uma parada de mais de uma hora em frente à Secretaria de Defesa Social e, por volta das 18:00 horas, seguiram para a frente do palácio do governo, quando decidiram invadir a Secretaria Estadual da Fazenda. Quebraram a porta de acesso ao prédio e algumas câmeras do circuito interno de segurança e ocuparam o prédio. Além desse, outro incidente ocorreu na noite de quinta-feira, quando dois coquetéis molotovs foram jogados no quartel da Polícia Militar.

No dia seguinte, sexta-feira, 20/05, o Estado colocou o Bope e a Cavalaria na porta dos prédios onde funcionam as secretarias de estado, possíveis alvos da manifestação do funcionalismo. A mobilização dos servidores continuou, de forma pacífica.

Na Secretaria de Educação o número de servidores era grande. As portas foram fechadas e o carro de som repetia a gargalhada do governador. Célia Capistrano, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), afirmou que a adesão dos servidores à paralisação é grande, em torno de 90%, acrescentando que recebia a todo momento notícias dos municípios do interior como Pão de Açúcar, Penedo, Palmeira dos Índios, Arapiraca e Delmiro Gouveia. Segundo ela, a categoria pede 25,43% para os professores, referentes à implantação do Plano de Cargos, Carreiras e Salários, baseado no piso nacional de 2011, e 18,02% para outras funções como de serviços gerais, vigilância, merenda e administração, referentes ao acumulado da inflação ao longo dos últimos quatro anos.

Também em frente à Secretaria de Estado da Fazenda, após a desocupação do prédio por volta das 23:00 hs da quinta-feira, muitos grevistas estavam mobilizados, no que era o último dos cinco dias de greve da categoria. O Sindicato do Fisco de Alagoas (Sindfisco) comandava a atividade, cuja categoria pleiteia o cumprimento da Lei Orgânica do Fisco, principalmente no que se refere ao teto salarial.

Durante a manifestação do Movimento Unificado dos servidores, a diretora do Sindicato dos Trabalhadores na Seguridade Social (Sindprev), Olga Chagas, disse que a situação do Hospital Geral do Estado é preocupante e que, além do reajuste salarial, os servidores cobram uma melhor estrutura na Saúde do Estado.

De acordo com o presidente da Associação dos Praças Militares de Alagoas (Aspra/AL), Wagner Simas, os servidores não voltarão atrás em suas reivindicações. Disse ele: “Quanto mais o governo ameaça os servidores com punição e zomba com gargalhada, mais o movimento se fortalece”.

Várias outras entidades também reunidas e mobilizadas rejeitam a proposta do governo. A Associação dos Subtenentes e Sargentos (Assmal), a Associação dos Oficiais Militares de Alagoas (Assomal), a Associação dos Praças da Reserva da Polícia Militar de Alagoas (ARPMAL).

Bombeiros, professores, policiais civis e militares, servidores da saúde e demais categorias do funcionalismo já preparam um novo protesto contra o governo, marcado para o dia 27 de maio, que já vem sendo chamado pelos servidores de Dia “D” da mobilização.

De Maceió, Selma Villela.