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Cannes: cineasta que elogiou Hitler é declarado persona non grata

O cineasta dinamarquês Lars von Trier foi declarado “persona non grata” pelo Festival de Cannes, após dizer, na quarta-feira (18), que sentia "empatia" pelo ditador nazista Adolf Hitler. Após uma reunião de urgência convocada para discutir a polêmica, a direção do festival francês divulgou uma nota nesta quinta (19), na qual "condena nos mais firmes termos estas afirmações”.

Apesar do protesto, o filme do diretor na competição. "Temos de separar a obra do cineasta. Estamos punindo o diretor, e não o filme", declarou Gilles Jacob, presidente do Festival de Cannes, em coletiva de imprensa convocada em cima da hora para comentar a expulsão de Von Trier. Jacob é judeu e teve toda a sua família perseguida durante a Segunda Guerra Mundial.

É a primeira vez que Cannes declara alguém como “persona non grata” do festival. Segundo Jacob, não será aberta nenhuma ação jurídica contra Von Trier, que venceu a Palma de Ouro em 2000 com Dançando no Escuro. A punição para o cineasta vale apenas para esta edição — o que significa que seus próximos filmes poderão ser selecionados.

Conhecido pelo gosto por polêmicas, Von Trier pediu desculpas horas após a fatídica entrevista coletiva, na qual se referiu a Israel como "um pé no saco" e afirmou "compreender" Hitler. As brincadeiras de Von Trier foram um pouco longe demais e desagradaram uma parte da imprensa.

Perguntado sobre a cultura alemã nos seus filmes, ele começou de repente a polêmica: “Houve um tempo em que eu queria ser judeu, mas descobri que sou mesmo um nazista. Eu entendo o Hitler. Não é um cara que vocês considerem bonzinho, mas o entendo… Mas deixe explicar: eu não vivi a Segunda Guerra, e não sou contra os judeus, nem mesmo a (cineasta) Susanne Bier. Não gosto muito de Israel… Mas enfim, como eu saio dessa frase agora?”.

Com a repercussão negativa, a organização do festival de cinema resolveu pedir explicações ao diretor, que se retratou em comunicado distribuído à imprensa. “Se ofendi alguém esta manhã com as palavras que disse na coletiva de imprensa, peço desculpas sinceras”, assinalou Von Trier. “Não sou antissemita ou racista de qualquer maneira, e muito menos nazista”.

Nesta quinta, após ser declarado “persona non grata”, o cineasta voltou a se retratar. Visivelmente abalado com o resultado do que define como "brincadeira estúpida", o diretor diz estar se sentido muito mal pelo fato de ter magoado algumas pessoas.

“Normalmente, o que chamam de minhas provocações têm algum propósito. Desta vez, foi só um desentendimento provocado por uma brincadeira estúpida que fiz”, afirmou. “Me arrependo do que eu disse. Quer dizer, me arrependo de ter dito isso na conferência de imprensa. Eu poderia dizer isso para os meus amigos, porque eles me conhecem e sabem que eu não sou um nazista.”

Da Redação, com agências