Filme baseado em canção de Chico Buarque é destaque em Cannes
O diretor Karim Ainouz apresentou na terça-feira (17) o filme O abismo prateado, a história de uma separação amorosa inspirada na canção Olhos nos olhos, de Chico Buarque, na Quinzena dos Realizadores, mostra paralela do Festival de Cannes, na França.
Publicado 18/05/2011 17:23
Violeta, interpretada por uma sensual Alessandra Negrini, é uma dentista moradora do Rio de Janeiro, casada e mãe de um menino de 15 anos. O casal parece viver bem no novo apartamento que acabou de comprar e a paixão parece estar acesa, uma vez que o filme começa com uma tórrida cena de amor.
No entanto, pouco tempo depois um "terremoto" abala a vida de Violeta, quando seu marido, interpretado por Otto Jr, lhe envia de Porto Alegre uma mensagem dizendo: "Meu amor, já não te amo mais. Sinto que estou sufocado ao teu lado e vou embora para a Patagônia".
O filme conta as 24 horas que se seguem na vida de Violeta, sua peregrinação, seu desespero, seu desejo de partir imediatamente até Porto Alegre para buscar o marido.
A roteirista Beatriz Bracher disse que o filme "não pretende explicar as razões psicológicas da separação. Ele começa com uma forte cena de amor para que logo seja sentida a ausência do homem", explicou.
Já Karim Ainouz falou da canção de Chico Buarque que o inspirou a pensar na história.
"Uma certa noite, quando eu estava num trecho de Copacabana onde o mar bate muito forte e a onda já levou muita gente, notei esse perigo, o abismo", explicou.
"A separação para ela é como um terremoto e a canção é a partida do processo. Talvez dentro de algum tempo, quem sabe daqui a uns 10 anos, será melhor. A personagem da qual trata Olhos nos olhos também é uma mulher abandonada", analisa.
"Eu diria que foi equivalente a uma adaptação literária. Olhos nos Olhos fala de uma mulher que aparentemente foi abandonada. Então, a partir dessa ideia central, eu e a roteirista Beatriz Bracher idealizamos a protagonista, uma mulher de classe média que vive em Copacabana e é mãe de um adolescente. O filme retorna ao dia em que ela foi abandonada e narra a história como se ela escrevesse uma carta, anos depois, dizendo que ‘tudo bem, reconstruí a minha vida’. Mas, em suma, é um filme sobre abandono.”
Chico e cinema
"Chico Buarque é um dos maiores compositores do Brasil. Muitas de suas músicas têm a ver com o Rio de Janeiro, onde há esse forte contraste entre a natureza e a civilização. Queria que o Rio fosse como um personagem, como um espelho da personagem de Violeta", considerou.
"Venho do Nordeste do Brasil, onde existe uma estrutura matriarcal muito forte, uma vez que muitos homens abandonam suas mulheres. Queria falar dos maridos que se vão. Este me parece ser um tema muito importante para as mulheres brasileiras", acrescentou.
Na sua solidão, Violeta se encontra com um jovem pai e sua filha, abandonados pela mulher. "Isso a faz sair de dentro de si mesma e se dar conta de que outras pessoas vivem a mesma situação que ela", afirma o diretor.
Bela abandonada
Alessandra Negrini disse que "a separação ocorre após uma ligação telefônica, só se escuta a voz, enquanto a canção de Chico Buarque entoa algo como 'se voltar e olhar nos meus olhos, verá que terei rejuvenescido'".
"O importante para mim era entrar nesse estado de espírito da mulher abandonada, onde não há um enredo, tudo se dá através da emoção, do sentimento", afirmou a atriz.
Numa das cenas do filme, vê-se Violeta dançando sozinha em uma boate ao som da música Maniac, da trilha sonora de Flashdance.
"Esta música acessa a memória, é uma música muito importante para a nossa geração. E quando Violeta a escuta, entra como que em um transe, como se acessasse uma época de 15 anos atrás, da última vez em que foi a uma boate", disse Ainouz.
da Redação, com agências
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