Avanços e retrocessos do Sul catarinense
Lucas dos Santos Ferreira*
O Sul do estado de Santa Catarina apresentou ao longo de sua história um vigor econômico singular.
Publicado 04/05/2011 10:47 | Editado 04/03/2020 17:14
O forte incentivo governamental para o setor carbonífero existente desde os tempos de Vargas (reserva de mercado), a capacidade empreendedora dos pequenos produtores que acabam crescendo a partir do atendimento das demandas da mineração (querosene, botas, equipamentos, etc) e os posteriores estímulos dos governos militares (criação da ICC para aproveitamento dos rejeitos do carvão na produção de fertilizantes e do BNH, que acabou por criar mercados para o setor de revestimentos cerâmicos, p. ex) constroem uma dinâmica e diversificada região do ponto de vista produtivo (metal-mecânica, plásticos, vestuário, calçados, etc).
A entrada do neoliberalismo, com os governos Collor e FHC, decreta o fim do padrão desenvolvimentista até então vigente. O fim da obrigatoriedade de utilização do carvão nacional, a extinção da ICC, a privatização da CSN que acarretou o fechamento de minas, bem como as danosas taxas de câmbio e juros que dificultaram as atividades do setor de revestimentos cerâmicos, transformaram a região num verdadeiro mar de desemprego e desolação. Isso sem falar no decorrente sucateamento da infra-estrutura portuária do município de Imbituba, da Ferrovia Teresa Cristina e da danosa privatização do Complexo Termoelétrico Jorge Lacerda (em 1997, FHC inaugura uma nova unidade geradora e conclui a modernização das já existentes, para posteriormente privatizar as estruturas por um valor irrisório para o grupo francês GDF-Suez).
A recuperação regional vem processando-se, como no setor cerâmico estimulado pelo crescimento da construção civil nos últimos anos, mas muito aquém das necessidades concretas existentes. A criação de alíquotas para importação de cerâmicas e têxteis, a melhoria das infra-estruturas (conclusão da BR 101, p. ex), o resgate da política de produção de fertilizantes a partir dos rejeitos carboníferos e a superação da recessiva política macroeconômica do Banco Central, mantida desde a década de 1990, são alguns dos imperativos do desenvolvimento regional e nacional.
*Licenciado em Geografia na Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, onde é pesquisador do Laboratório de Planejamento Urbano e Regional – LABPLAN. Membro da Diretoria Executiva da Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) – Seção Florianópolis.