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África Ocidental: Exploração e pobreza sangram o povo da Nigéria

Uma vez mais as facas foram desembainhadas e as armas carregadas na Nigéria. Desta vez o motivo foi o resultado das eleições presidenciais, realizadas em 16 de abril, e as urnas sufragaram Goodluck Jonathan, candidato do Partido Popular Democrático, do delta sul do Rio Niger, com 59,6% dos votos, derrubando os sonhos de poder do ex-ditador general Muhammadu Buhari, do norte do país, que classificou-se em 2º lugar, conseguindo apenas 32,3% dos votos.

Por João Belisário, na Africa News Agency

Desde a noite de 18, quando foi confirmada a arrasadora vitória de Jonathan, até a manhã do dia 23, mais de 200 pessoas (a maioria cristãos e membros do partido governista) foram assassinadas por grupos de jovens muçulmanos pobres do norte do país de estados como Kaduna e Cano (onde foi registrado o maior número de vítimas que foram incineradas e atiradas nas ruas centrais).

O mesmo aconteceu em Yombe, Borno, Bautsi, Tzingawa e Nasarawa. Os feridos, calculados em várias centenas (mais de 500), enquanto as pessoas que foram obrigadas a fugir abandonando suas casas, avalia-se em, pelo menos, 48 mil.

Várias agências noticiosas internacionais apressaram-se em formular interpretações errôneas sobre o atual ciclo de violência no norte da Nigéria, atribuindo-o ao agravamento da disputa entre a comunidade muçulmana do país (que vive no paupérrimo norte, região carente de riquezas minerais e infra-estrutura) e a comunidade cristã (que vive no sul, região com agricultura rica, além de petróleo e gás natural).

Foram interpretações cômodas, particularmente, se busca-se dissimular problemas básicos, que foram deixados de herança ao Estado nigeriano pelo colonialismo britânico e que multiplicaram a classe média-alta e enriqueceram as multinacionais de petróleo e gás natural que assaltam – há vários anos, em colaboração com as elites político-militares domésticas – a gigantesca riqueza mineral do mais populoso país do leste africano e segunda maior economia do Continente Negro.

Conflitos sociais

Assim, os problemas para a maioria dos 152 milhões de nigerianos não situam-se em torno de diferenças religiosas, mas originam-se das gigantescas injustiças socioeconômicas praticadas pelo poder capitalista e a denominada Democracia Urbana após o fim de uma longa série de ditaduras militares, há 12 anos.

Isto é, o problema não é desejo de nenhuma divindade, mas é consequência do fato de que 70% da população do quarto maior país exportador de petróleo aos EUA sobrevivem com menos de US$ 2 por dia e registram média de vida de 47 anos, enquanto inexistem no país os serviços básicos de educação e saúde, infra-estrutura de serviços de redes de água potável, esgoto, energia elétrica e eixos viários.

Neste populoso país, as esperanças dos jovens (que constituem a maior parcela da população) por vida digna, sem o chicote da grande pobreza e fome, é algo extremamente confuso e obscuro.

O corrupto sistema do poder – que "lubrificavam" e continuam "lubrificando", ainda, hoje as gigantesca petrolíferas multinacionais, a fim de garantirem seu enriquecimento – mantém-se em detrimento de milhões de nigerianos.

O presidente Jonathan poderá sentir-se orgulhoso por ter sido reeleito, "honestamente" e confortavelmente, para exercer o poder sobre o povo nigeriano, apesar das injúrias de seu principal adversário Buhari, acusando-o de fraudar os resultados eleitorais, especialmente das urnas das regiões Sul e Sudeste do país, mas a única certeza existente é que continuará mantendo e exercendo a mesma política impopular.

Desestabilização "controlada"

Desde que assumiu, em maio de 2010, o poder presidencial, sucedendo a seu falecido antecessor muçulmano, Oumaru Yar" Andua, Jonathan jurou fidelidade ao neoliberalismo, iniciando uma série de privatizações (leia-se liquidações) de todos os setores da empresa estatal de telecomunicações Nitel e da estatal de eletrificação Power Holding Company of Nigeria (PHCN), argumentando que "os novos proprietários levarão a eletricidade a toda a Nigéria dentro uma década".

O "presidente das privatizações" e do grande capital (nacional e estrangeiro) contribuirá consequentemente para aprofundar o solapamento do povo em benefício deles. E, enquanto este país com as riquíssimas jazidas de petróleo e gás natural for gerenciado pelos capitais e as multinacionais, tanto se disseminará a corrupção e a pobreza em detrimento da maioria dos trabalhadores, independentemente se estes são cristãos ou muçulmanos, pertencem à tribo dos Háuza, Fuláni, Ibó ou Yorúba.

Aliás, uma situação de desestabilização "controlada" e crise prolongada interessa muito, entre outros, aos objetivos estrangeiros multinacionais, os quais sugam a riqueza mineral. Por mais que o governo nacional manipule o povo com o suposto enfrentamento da criminalidade e da "violência religiosa", as multinacionais estrangeiras, mesmo com risco, continuarão sugando a riqueza do povo.

Seguramente, a situação de desestabilização "controlada" está minimamente distante dos perigosos jogos com o fogo. Fato que, eventualmente, se revelará muito em breve por ocasião do último ciclo eleitoral que diz respeito a realização das críticas eleições para governadores e parlamentos estaduais nos 36 estados da Nigéria.

Fonte: Monitor Mercantil