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Fenômeno de bilheteria, Rio espalha imagem negativa do Brasil

As belas paisagens brasileiras, a princípio, podem até impressionar. Aliás, a beleza da floresta, das cores, do carnaval e das aves é um dos motivos que levaram os 4,2 milhões de espectadores ao cinema para assistir à animação Rio, de Carlos Saldanha. Mas, ao menos, para os adultos que se propuserem a analisar com mais profundidade, Rio fala muito além das fantasias e do samba carioca.

Por Fabíola Perez

Em cartaz desde 8 de abril, a animação em 3D – que pelo terceiro final de semana consecutivo permaneceu no topo dos filmes mais vistos – faz, com certeza, todo o cinema ensaiar e cantarolar conhecidos ritmos brasileiros. Porém, nem todos que alimentam essa indústria cultural atentaram às raízes do “jeitinho” brasileiro presentes durante toda a história.

O agradável samba que embala as cenas do começo ao fim da animação e a graça das mulatas fantasiadas que atravessam uma das avenidas do Rio de Janeiro compõem a trama sobre o contrabando de pássaros no Brasil. Capturada na floresta, a arara Blu é levada para a pequena e fria cidade de Minnesota, nos Estados Unidos. Lá, a arara é encontrada por Linda e tratada como um bicho de estimação.

Certo dia, o biólogo especialista em aves Túlio encontra Linda e explica que Blu é o último macho da espécie e, por isso, precisa ser levado ao Brasil para se reproduzir. É nesse momento que o país será apresentado ao mundo. Em sua aventura pelo Rio, Blu logo se depara com o modo de ser tipicamente brasileiro. Os pássaros que se relacionam com Blu expressam a cordialidade, defendida pelo sociólogo Sérgio Buarque de Holanda, sob a qual os homens agem movidos pela emoção, e não pela razão.

No livro Raízes do Brasil, ele afirma que o brasileiro desenvolveu uma propensão à informalidade, movido por seu caráter emocional. Esse é o espírito das relações entre os pássaros que acolhem Blu, sempre ao som da batucada. As demais cenas do filme escancaram outros problemas brasileiros, como o uso de crianças em crimes organizados, a falta de estrutura familiar de pessoas que vivem nas zonas periféricas da cidade.

Subornado por uma quadrilha de contrabando, o garoto que sequestra Blu do laboratório de tratamento de aves simboliza a pobreza e o oportunismo brasileiro. Nesse sentido, Rio se consolida como uma animação repleta de estereótipos sócioculturais que reforçam apenas a imagem já propagada do Brasil em outros países. Para quem imagina que o maior país da América Latina se resume a uma vastidão de florestas, mulatas, negros, samba, crimes e favelas, o filme serviu para corroborar a ideia.

O filme usa os mais significativos clichês da cultura brasileira para dar dimensão real ao formato 3D. Sob a ótica do entretenimento, Rio cumpre sua função com excelência. Músicas, imagens e cenas de ações prometem continuar atraindo outros milhões de crianças e adultos para as salas de cinema. O único problema é se esse contingente se contentar com a dose de Brasil, apresentado como o país da Copa.