FMI muda discurso e admite necessidade de controlar capitais
Numa autocrítica envergonhada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) resolveu mudar o discurso em relação aos movimentos dos capitais estrangeiros pelo mundo. Intransigente defensor da completa liberalização dos fluxos de investimentos, agora o órgão já admite o controle de capitais.
Publicado 14/04/2011 17:10
O diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse nesta quinta-feira (14) na sede da instituição, em Washington, ser "absolutamente correto" que os mercados emergentes se preocupem com um risco de inflação. O economista reconheceu que a entrada de capital é muito grande em muitos dos países emergentes e que é preciso controlar isso, indicando uma mudança na abordagem tradicional do FMI que costumava ser avessa a medidas para o controle de fluxos de capitais.
Culpa no cartório
"Por décadas dizíamos que o controle de capital era ruim. Agora temos uma visão mais pragmática e achamos que ele pode ser útil. Até ontem o controle de capital não fazia parte da nossa caixa de ferramentas, mas agora é uma das nossas ferramentas", afirmou Strauss-Kahn. Na verdade, o FMI não apenas recomendou como, em muitos casos, impôs a completa liberalização dos fluxos em acordos assinados com países às voltas com crises financeiras. Neste sentido, desempenhou um papel nefasto na chamada crise asiática de 1997, conforme denunciou o economista Josefh Stiglitz em seu livro “Malefícios da globalização”. A verdade, não admitida pelos diretores do órgão, é que o FMI tem muita culpa no cartório pelo carnaval de especulação e o estado deplorável das finanças mundiais.
Segundo Strauss-Kahn, o maior risco para a economia mundial atualmente é a complacência. "Adverti a comunidade internacional em novembro passado, em Seul (durante a 5ª Cúpula do G20) que a segunda fase da crise seria mais difícil, pois os responsáveis pela elaboração de políticas veem a crise como superada", disse o chefe do FMI. Strauss-Kahn falou na importância de uma cooperação entre todas as nações para que os problemas econômicos mundiais sejam controlados.
"É errado ter soluções locais para desafios globais", afirmou ele. O economista disse estar satisfeito com o nível de cooperação atual, que demonstra um grande contraste com o cenário mundial de até alguns anos atrás. "Há cinco anos este tipo de cooperação seria um sonho. O nível atual mosrta um aprimoramento incrível", afirmou.
Brasil-França
Christine Lagarde, ministra de Economia e Finanças da França, disse que o Brasil tem sido 'vítima de movimentos bruscos de capital', mas que o controle do mercado global não estará na pauta da reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta quinta-feira. "Não estamos no negócio de fixar preços", afirmou Lagarde, que explicará a Mantega qual é a posição do governo francês com respeito ao preço das commodities.
Lagarde afirmou estar disposta a discutir com Mantega sobre o desenvolvimento pelo G20 de uma possível estrutura para garantir relações mais aprimoradas entre os fornecedores de commodities e as nações compradoras destes produtos, e que quer entender bem o que o ministro brasileiro tem em mente. "Palavras como 'guerra de moedas e confrontação' não estão na nossa agenda", disse a ministra francesa.
Com agências