Capital de curto prazo é "doença holandesa", diz agência da ONU
A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) aponta o enorme fluxo de capital de curto prazo para os emergentes como nova forma de "doença holandesa" que continuará causando valorização do real brasileiro e outras moedas, e "graves repercussões" sobre o crescimento e desenvolvimento.
Publicado 12/04/2011 18:11
"O Brasil tem essa nova doença holandesa e sozinho não pode fazer nada", diz Heiner Flassbeck, economista-chefe da agência da ONU. A entidade apresentou estudo aos países do G-20, propondo um acordo internacional, depois de concluir que enormes fluxos voláteis não serão freados por medidas isoladas de controle de capital.
Até agora, o termo "doença holandesa" descrevia o aumento rápido de receita de exportações de commodities, que leva a forte valorização da moeda nacional e afeta severamente a competitividade do setor industrial tanto nos mercado interno como externo. Para a Unctad, a nova forma da "doença" é provocada pelas operações de "carry trade", pelas quais o mercado financeiro se aproveita da diferença de taxas de juros entre os países, com um movimento especulativo que traz efeitos idênticos de excessiva valorização da moeda, problemas sérios para o setor industrial e ameaça de crise de balança de pagamentos mais tarde.
Um aspecto importante desses fluxos é sua resiliência, num ambiente em que a taxa de câmbio não é determinada pelos fundamentos (taxa de inflação e crescimento do custo unitário do trabalho). O fluxo líquido de capitais, excluindo Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE), acompanhando o diferencial de juros, determina a taxa de câmbio por longos períodos. A Unctad calcula que entre 2005 e 2010 a taxa de câmbio real efetiva da moeda brasileira vis-à-vis dos principais parceiros do país, ajustada pelo diferencial de inflação, teve valorização de 30,7%.
Para a Unctad, sem uma estratégia para alinhar melhor as taxas de câmbio aos fundamentos de todos os países envolvidos, será muito difícil reduzir os níveis da especulação e de fluxos improdutivos de capital ou sua volatilidade.
A agência da ONU colocou na mesa do G-20, que se reúne esta semana em Washington, sua proposta que vem martelando desde 2009 para reduzir o estrago do capital especulativo sobre a estabilidade da economia: o uso de "taxa de câmbio real constante". Para isso, a taxa nominal de câmbio teria que seguir estritamente o diferencial de inflação. Maior inflação seria automaticamente compensada por desvalorização no câmbio. Ou seja, para evitar distorções no fluxo comercial, diferenças no preço e custo teriam que ser compensadas por apreciação ou desvalorização das moedas tão longo surjam.
Na avaliação da Unctad, a taxa de câmbio real constante frearia especulação cambial excessiva por "carry trade", ajudaria a evitar débito insuportável, removeria a necessidade de os bancos centrais acumularem enormes reservas internacionais.
Fonte: Assis Moreira, de Genebra, para o jornal Valor