Dilma viaja para fortalecer relação Brasil-China e ampliar Bric
Depois de enfrentar mais de 24 horas de viagem, com escala no sábado (9) na Grécia, a presidente Dilma Rousseff chegou na manhã desta segunda-feira (ainda domingo no Brasil) a Pequim, em sua primeira visita oficial à China. Acompanhada dos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Edson Lobão (Minas e Energia), às 11h05 ela deu entrada no hotel St. Regis, na região das Embaixadas, no bairro Chaoyang.
Publicado 11/04/2011 10:59
Além da presidente e dos ministros, a comitiva inclui 250 empresários brasileiros –
que representam distintos setores da economia. Os empresários consideram o mercado chinês fundamental, mas também cobram limites para as importações oriundas da China. Segundo o porta-voz da Presidência da República, Rodrigo Baena Soares, a expectativa da viagem é que as conversas levem à abertura de oportunidades em vários setores do comércio na China.
A visita de Dilma conta com uma intensa agenda de compromissos, inaugurada com a reunião, nesta segunda, no próprio hotel, com o CEO da empresa Huawei, Ren Zhengfei. Após o encontro, Zhengfei anunciou a doação de US$ 50 milhões em equipamentos de computação a universidades brasileiras. "A Huawei está sinalizando fortemente a implantação de um centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na região de Campinas”, informou Fernando Pimentel à imprensa após a reunião.
Segundo o ministro, o “próximo passo” da Huawei no Brasil é a construção de um “centro de pesquisa e desenvolvimento”. O custo dessa iniciativa estaria em torno de US$ 200 a RS$ 300 milhões e escancara o interesse das empresas chinesas de tecnologia de informação em investir no Brasil, sobretudo depois do Plano Nacional de Banda Larga.
Brics
Um dos momentos mais esperados da visita de Dilma é a reunião com os líderes dos países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) – e, a partir do dia 14, também a África do Sul, quando o bloco se chamará Brics. Na cidade chinesa de Sanya, haverá a 3ª Cúpula do Brics, com a participação de Dilma, do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, e dos presidentes da China, Hu Jintao, da África do Sul, Jacob Zuma, e da Rússia, Dmitri Medvedev.
A cúpula marca o ingresso da África do Sul no grupo, ampliando a representatividade geográfica do bloco no momento da discussão sobre a reforma do sistema financeiro internacional e do Conselho de Segurança das ONU. No período de 2003 a 2010, o crescimento dos países do Brics representou cerca de 40% da expansão do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, atingindo US$ 19 trilhões – o que corresponde a 25% da economia mundial.
No próximo dia 15, Dilma participará da 10ª Conferência Anual do Fórum de Boao para a Ásia, cujo tema é Desenvolvimento Inclusivo: Agenda Comum e Novos Desafios. Criado em 1998, o fórum é uma organização não-governamental que busca se estabelecer como o "Davos" asiático. Boao fica na província de Hainan, no sul da China. Participam das discussões líderes políticos, empresários e acadêmicos.
Instituto Confúcio
Outros assuntos estão na pauta da visita de Dilma à China. Entre eles, o acordo para instalar o Instituto Confúcio na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O instituto está presente em mais de 90 países para divulgar a cultura mandarim e firmar um intercâmbio cultural e acadêmico entre o país asiático e o mundo.
A assinatura do acordo ocorrerá na terça-feira, no Palácio do Povo, capital chinesa. No ato, deverão ainda ser assinados acordos de compra de aeronaves da Embraer e o lançamento da venda de carne suína brasileira na China. Duas empresas locais, a China Southern e a Hebei Airlines, aproveitarão a viagem de Dilma para anunciar a compra de jatos EMB 190, fabricados pela Embraer.
É uma resposta à reivindicação brasileira de vendas de maior valor agregado ao país asiático. A Hebei, lançada no ano passado, comprará 25 jatos, e a China Southern, que já havia anunciado em janeiro a compra de dez EMB-190, por intermédio da chinesa CDB Leasing, confirmará a aquisição de mais dez.
O Brasil negocia ainda a transformação da fábrica da Embraer na China, para que ela possa montar no país o jato executivo Legacy 600. A unidade está ameaçada de fechamento, por causa da decisão dos chineses de não comprar mais os jatos EMB 145, de 50 lugares, fabricados lá pela associação entre a chinesa Avic e a Embraer. Os contratos com a Embraer fazem parte de um pacote de cerca de 20 acordos e memorandos de entendimento, que devem ser assinados durante a visita de Dilma.
Entre os gestos de aproximação feitos pelos chineses, estará o credenciamento de dez frigoríficos, que serão autorizados a exportar, pela primeira vez, carne de porco do Brasil diretamente à China. Com a medida, a associação dos exportadores de carne suína do Brasil estima que a China, em cinco anos, poderá absorver cerca de 200 mil toneladas anuais, 37% das exportações brasileiros do produto em 2010.
Banco do Brasil e Petrobrás
Também na terça, Dilma se reúne com Hu Jintao e participa de dois eventos distintos – o “Diálogo de Alto Nível Brasil–China em Ciência, Tecnologia e Inovação” e o “Seminário Empresarial Brasil–China: Para Além da Complementaridade”. A viagem será, ainda, uma oportunidade para estreitar relações entre o governo chinês e empresas brasileiras.
O Banco do Brasil, por exemplo, prepara-se para abrir uma agência bancária na China. A instituição aguarda a resposta das autoridades chinesas ao pedido de transformação em agência do escritório de representação mantido em Pequim, mas já tem sinais da aprovação das autoridades.
Já a Petrobras assinará contratos com as chinesas Sinochem e Sinopec, para, respectivamente, recuperação de petróleo em reservas de difícil extração e para iniciar exploração de dois blocos no litoral dos estados do Pará e Maranhão. A Eletrobras e a chinesa State Grid assinarão parceria, o que deve facilitar a entrada da empresa da China nos leilões de energia no Brasil. Os países assinarão, ainda, acordo de defesa, que prevê troca de tecnologias e informações, ações conjuntas e intercâmbio de especialistas.
Dilma fica fora do Brasil até o dia 18. A previsão é que, no retorno da viagem, ela faça duas escalas – em Praga, na República Tcheca, e em Lisboa, Portugal. Na visita à Grécia, a presidente se reuniu com o primeiro-ministro Georgious Papandreou. A Grécia foi o terceiro país visitado por Dilma, que, desde que assumiu o governo, foi à Argentina, em janeiro, e a Portugal, em março.
Da Redação, com agências