Bertotti: os desafios dos secretários de Ciência e Tecnologia

Na última terça-feira, 05 de abril, José Antonio Bertotti, Secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Recife foi eleito para o cargo de vice presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Ciência, Tecnologia e Inovação. A eleição e posse se realizaram em Brasília durante a 59ª Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitos

Nesta entrevista Bertotti fala um pouco sobre o Fórum, Ciência e Tecnologia e algumas experiências de fomento a inovação tecnológica implementadas pela Prefeitura do Recife, através da secretaria que dirige.

Vermelho: O Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Municipais de Ciência, Tecnologia e Inovação foi criado em 2001. De que maneira o Senhor acha que ele contribuiu para o desenvolvimento da ciência e tecnologia nesse período?
O Fórum permitiu que os municípios brasileiros pudessem interferir na política nacional de C&T e, efetivamente, contribuir para aproximar a produção científica das universidades e dos institutos de pesquisa da população. É fundamental desenvolver mecanismos para que os conhecimentos gerados estejam à disposição e possam servir para solucionar dificuldades da vida nas cidades, como no caso das novas tecnologias para tratamento dos resíduos sólidos, que hoje é um grande problema dos municípios brasileiros.

Vermelho: Quantas cidades fazem parte do Fórum de Secretários e Dirigentes?
Atualmente o Fórum já conta com 180 municípios e entre eles tem muitas cidades importantes, com parques tecnológicos consolidados e experiências políticas exitosas, como o Rio de janeiro, Itajubá, Curitiba, Florianópolis, São José dos Campos, Vitória, Recife.

Vermelho: Na 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, em 2010, os senhores distribuíram um documento conhecido como “Carta de Belo Horizonte”. O que ele representa?
A carta de Belo Horizonte é um documento que consolida hoje a prioridade do Fórum que é a criação de sistemas municipais de ciência e tecnologia para que os municípios atuem de forma coordenada com o governo federal e com as administrações estaduais para implementarem ações que criem ambientes favoráveis para inovação tecnológica nas empresas, indústrias, incrementando assim, o processo de desenvolvimento econômico.

Na carta de Belo Horizonte, reafirmamos a nossa compreensão de que é fundamental produzir o conhecimento para aplicá-lo na solução dos problemas e na melhoria da vida pela população e para incrementar o desenvolvimento econômico permitindo assim que uma fatia cada vez maior do povo tenha acesso aos benefícios gerados através do conhecimento.

Vermelho: Como é composta a nova diretoria do Fórum?
Da Presidente Edna Moura Gouveia Antonelli – Diretora-Executiva da Unidade Criativa de Campo Grande – Campo Grande – MS; dois Vice Presidentes, eu e Marcos Martinelli, Secretário Municipal de Desenvolvimento Sustentável, Ciência e Tecnologia de São Carlos – SP; e os diretores regionais do Sudeste, Anderson Fioreti de Menezes, Presidente da Companhia de Desenvolvimento de Vitória – ES; do Nordeste, Silvio Roberto Barreira, Secretário de Ciência e Tecnologia de Icapuí – CE; e a Diretora Suplente do Nordeste, Irani dos Santos, Secretária Executiva do Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia de Natal – RN; do Centro-oeste, Marcos Alberto Bernardo de Campos, Secretário da Indústria e Comércio, Aparecida de Goiânia – GO; e o Suplente, Fabrízio de Almeida Ribeiro, Secretário Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação de Anápolis-GO; e do Sul, Carlos Roberto De Rolt, Secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico Sustentável de Florianópolis – SC, e o Suplente, Gilberto Cezar Pavanelli, Prefeitura de Maringá – PR.

Vermelho: O que representa para o senhor ter sido reeleito para a nova gestão do Fórum?
Bom, eu vejo como o reconhecimento de que o Recife tem desenvolvido ações inovadoras na área de ciência e tecnologia e, por isso, vem se tornando uma referência para outros municípios. E também, como uma excelente oportunidade de participar do debate junto ao MCT e a comunidade científica sobre os rumos da política nacional de C&T e sua contribuição para o desenvolvimento nacional.

Vermelho: Qual a pauta do debate de C&T que o senhor considera prioridade hoje no Brasil?
Duas questões que eu considero importantíssimas aprofundar hoje na área de C&T são, em primeiro lugar, a consolidação de parques tecnológicos nos municípios, segundo a vocação econômica de cada um, adensando as cadeias produtivas com potencial de inovação, ou seja, no Recife, por exemplo, a indústria criativa e a eletro-eletrônica são setores com boas perspectivas de desenvolvimento econômico, portanto cabe ao poder público, inclusive com parceria da iniciativa privada incentivá-las. Temos aqui na cidade a exitosa experiência do Porto Digital.

Vermelho: Em 2009, a revista Businesse Week citou o Porto Digital como um dos dez parques tecnológicos onde o futuro está sendo criado.
A outra questão é a implementação do plano nacional de banda larga com o objetivo de permitir o acesso universal à internet. Essa iniciativa será muito importante porque, através do plano, o governo federal estará disponibilizando acesso à internet, às novas tecnologias de informação e à comunicação para toda a população brasileira.

Vermelho: No Recife, a Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico que o senhor dirige realizou uma pesquisa sobre as cadeias produtivas da cidade. Qual o objetivo da pesquisa?
Pois é, o estudo, “A Dinâmica da economia e da inovação e perspectivas de desenvolvimento econômico do município do Recife e suas principais cadeias produtivas”, foi realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, através de parceria entre o Ministério da Ciência e Tecnologia e a Prefeitura do Recife com convênio com a Secretaria municipal.

O principal objetivo era fazer um diagnóstico das principais cadeias produtivas na cidade, suas potencialidades e os gargalos enfrentados por elas para se desenvolver. Ou seja, queríamos um instrumento seguro para direcionar nossa política de desenvolvimento econômico. Pernambuco passa hoje por um momento muito dinâmico em sua economia entrando num importante ciclo de crescimento nesta próxima década. A chegada de novos investimentos como o Porto de Suape, o Estaleiro Atlântico Sul, A Refinaria Abreu e Lima e mais uma série de novas empresas naquela área, o Pólo fármaco-químico em Goiana, além do fato do Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014, e porque não falar da transposição do São Francisco e da ferrovia Transnordestina.

A gente procurou dar passos seguros para inserir Recife nesse novo ciclo econômico. A pesquisa das cadeias produtivas é um desses investimentos. Por um lado, levantar novas oportunidades de negócios e atração de novos investimentos para a cidade e por outro apontar caminhos para incrementar a economia do município através da inovação.

Vermelho: Quais os resultados que obtiveram? A partir daí, o que vai acontecer?
A pesquisa já apresenta importantes indicativos para que possamos incrementar a
economia do Recife. Um exemplo disso é quando ela demonstra que a dinâmica da economia de Pernambuco tende a ter duas características principais: a alta concentração no sul da RMR e a elevada densidade de conhecimento e inovação tecnológica

O indicativo mais revelador, entretanto, é que o Recife deve potencializar sua vocação de cidade provedora de serviços modernos com elevado grau de inovação e produtora de conhecimento científico.

Agora vamos continuar o trabalho com a formação de comitês gestores por cadeia produtiva composta dos agentes produtivos numa parceria entre o poder público, a iniciativa privada, o terceiro setor e os centros de pesquisa com o objetivo de aperfeiçoar a política pública de desenvolvimento econômico da cidade focada nas suas características e potencialidades e na inovação científica e tecnológica como instrumentos de superação dos obstáculos enfrentados pelas cadeias produtivas.

Vermelho: O senhor disse que o Recife tinha uma experiência exitosa de parque tecnológico que é o Porto Digital. Pode falar um pouco a respeito?
Bom, no Recife, a Prefeitura instituiu em junho de 2006, o Programa de incentivo ao Porto Digital concedendo de benefícios fiscais condicionados a empresas de tecnologia que se instalassem no Sítio Histórico do Bairro do Recife.

A Lei Municipal 17.244/2006 estabelece um incentivo fiscal correspondente a redução de 60% da alíquota ISSQN para empresas vinculadas ao Porto Digital.

Uma redução, na prática, de 5 para 2 por cento para empresas que desenvolvem serviços de informática e congêneres, desenvolvimento de programas, inclusive educacionais e certificação de produtos em informática e atividades ligadas às funções de relacionamento remoto com clientes, ou seja, call centers;

Isso tem atraído novas empresas para a cidade e assim, gerado novos empregos. A decisão política correta baseada no reconhecimento da importância do setor de Tecnologia da Informação (TI) para o desenvolvimento do estado e do município deu frutos.

Em 2008, o Porto Digital possuía 79 empresas de TI que registraram faturamento anual de cerca de 280 milhões. Em 2010, já contava com 101 empresas, ou seja, 22 a mais em menos de dois anos e agregava cerca de quatro mil empregados. Agora, a PCR já estuda a possibilidade de ampliação do espaço físico para a instalação de novas empresas de TI.


História de vida 

José Antônio Bertotti Júnior é Graduado em Química Industrial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, com pós-graduação lato sensu em Gestão de Políticas Públicas pela Faculdade de Boa Viagem, no Estado de Pernambuco. Atualmente, é Secretário de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Recife, Presidente do Conselho de Apoio ao Porto Digital, Conselheiro Titular junto ao Conselho de Desenvolvimento Urbano – CDU do Recife, Membro da Unidade Temática de Desenvolvimento Econômico Local da Rede Mercocidades, Vice-Presidente do Fórum Nacional de Secretários Municipais da Área de Ciência e Tecnologia, Conselheiro Titular do Conselho Municipal de Política Cultural. Presidente da Comissão Municipal do Emprego. Como principais atuações profissionais, ele ocupou o cargo de Secretário de Assistência Social da Prefeitura do Recife – 2008; Assessor Executivo da Secretaria de Assistência Social – 2005 a 2008; Diretor Executivo da União Nacional dos Estudantes (UNE) – 1993/1995 e 1995/1997.

Do Recife,
Renata Stadtler