Rosana Miranda: Copa 2014, visão estratégica pode superar atrasos

Neste artigo, a arquiteta e professora de urbanismo da USP Rosana Miranda, rebate os agouros do Estadão de que o presidente da FIFA estaria preocupado com o atraso das obras em São Paulo e afirma: "de todos os prazos, o que menos preocupa é o que se refere às obras dos estádios… O que preocupa mais é o sistema de transporte público na região metropolitana de São Paulo." 

Leia a íntegra. 

Copa 2014, visão estratégica pode superar atrasos

A copa do mundo no Brasil será um acontecimento inusitado, não só pelo amor do povo brasileiro pelo futebol, mas porque é uma oportunidade sem igual de alavancar a solução de problemas de infra-estrutura de longo prazo.

Todas as cidades que receberão os jogos durante a copa serão beneficiadas com os investimentos públicos e privados para o desenvolvimento local e de suporte ao grande número de turistas que circularão pelo país no mês de realização dos jogos.

Mas, também outras cidades turísticas onde não acontecerão os jogos atrairão viajantes que se interessam pela cultura e paisagens brasileiras e aproveitarão essa oportunidade de viajar pelo país.
Assim, penso que um plano nacional de recepção de turistas deva ser articulado com os investimentos específicos nas cidades sedes dos jogos e no suporte aos aeroportos do país.

A possibilidade de abertura dos jogos ocorrerem em São Paulo depende da construção do estádio do Corinthians no bairro de Itaquera. Há um compromisso explícito da direção do clube, da Prefeitura e do Governo Federal que se cumpram os cronogramas para a realização das obras do estádio e de infra-estrutura, apesar da insegurança do Presidente da FIFA estampada hoje nos jornais.

Acho que de todos os prazos, o que menos preocupa é o que se refere às obras dos estádios, pois, as empreiteiras brasileiras são tecnicamente competentes para acelerar obras quando necessário, mas, cabe ao poder público monitorar de perto a sua execução. O que preocupa mais é o sistema de transporte público na região metropolitana de São Paulo.

O metrô caminha a passos lentos para a maior metrópole da América Latina, sua ligação com o Aeroporto Internacional de Cumbica não saiu dos planos e ainda não se materializaram como projeto.

Em 2004, quando coordenamos o Plano Regional Estratégico da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo projetamos uma linha de metrô que ligasse a estação Itaquera de metrô ao Aeroporto Internacional de Cumbica passando pelo eixo da Avenida Águia de Haia. Essa linha visava integrar a Zona Leste no sentido norte sul e criar um anel entre o metrô e as duas ferrovias, ligando duas estações de trem, a USP Leste, o Aeroporto e posteriormente se estenderia ao sul no sentido do ABC e Baixada Santista e ao norte transporia a rodovia Fernão Dias ligando Cumbica à estação Tucuruvi formando um anel metropolitano. Essa proposta foi amplamente debatida pelos diversos atores e foi amadurecida ao longo de meses de estudo e discussão. Á época, quem estava à frente da Subprefeitura era o PCdoB.

O primeiro trecho da linha, entre Itaquera e a USP Leste foi aprovado na lei do Plano Regional de 2004, com indicação de locais para as futuras estações, só falta tirar do papel.

Esta ligação pretendia induzir o crescimento econômico na região e integrar o Porto de Santos com o Aeroporto de Guarulhos dentro de uma visão estratégica do MERCOSUL. Além disso, aproximaria as áreas de emprego do ABCD e também de Guarulhos da população da Zona Leste, região mais populosa do Município de São Paulo. Mas, o benefício maior seria criar a mobilidade entre várias modalidades de transporte, metrô, ferrovia e aeroportuária.

Esta seria uma das grandes contribuições da Copa de 2014 à cidade de São Paulo e à região metropolitana, criar empregos, estimular o uso do transporte público e levar desenvolvimento econômico a uma das regiões mais carentes da cidade.

Arquiteta Rosana Miranda
Prof. Dra. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Ex – Coordenadora de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da Subprefeitura de Ermelino Matarazzo (2002-2004)