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Japão cogita estatizar empresa de usina nuclear

O Japão cogita estatizar a Tokyo Electric Power Company (Tepco), num momento em que a empresa enfrenta críticas crescentes por causa dos vazamentos da usina nuclear de Fukushima. O premiê japonês, Naoto Kan, fez terça-feira (29) as críticas mais duras até agora à companhia, contribuindo para as especulações de que esteja preparando a estatização. As ações da empresa estão despencando.

Kan disse pela primeira vez que as defesas da usina contra tsunamis eram inadequadas. Segundo ele, a Tepco construiu uma barreira capaz de suportar uma onda de 5,5 metros, mas o tsunami do dia 11 alcançou quase três vezes essa altura. "É inegável que os cálculos em relação ao perigo de tsunamis foram muito equivocados. O fato de seus padrões de segurança terem sido tão baixos praticamente foi um convite para que a situação atual ocorresse."

Koichiro Gemba, ministro de Políticas Nacionais do Japão, disse que a estatização era uma opção: "Todas as opções quanto ao que fazer com a Tepco são possíveis".

Nos últimos dias, acumularam-se as reclamações de autoridades quanto ao modo da empresa lidar com a emergência. Protocolos de segurança negligentes, que teriam levado à hospitalização de trabalhadores das equipes de emergência, superestimação dos níveis de radiação e incapacidade de dar notícias acuradas sobre a operação de esfriamento dos reatores afetados foram algumas dessas críticas.

Uma onda de indignação da população japonesa em relação à empresa e a como o governo a fiscaliza pode atingir diretamente o Partido Democrata do Japão (PDJ), de Kan, o que contribui também para as especulações de que o governo terá de tomar medidas urgentes para salvar sua autoridade.

Segundo o "Yomiuri Shimbun", jornal de maior circulação no país, o governo já está estudando como efetivamente tomar o controle da companhia.

Outra coisa a influir nisso é a possibilidade de uma onda de ações contra a Tepco pedindo indenizações e lucros cessantes, tanto pela contaminação de áreas próximas quanto pela falta de fornecimento de energia. Uma falência da Tepco criaria o problema de saber quem se responsabilizaria pela manutenção das usinas.

As ações da Tepco vêm registrando quedas espetaculares e atingiram seu menor patamar em 47 anos. O valor de mercado da empresa caiu 70% nas últimas duas semanas.

O desastre nuclear ocorrido no Japão é uma ilustração do que é entregar a geração de energia elétrica por meios nucleares a empresas privadas ou a terceirizar seus serviços. Nunca é demais lembrar que uma empresa privada procura somente o lucro, sendo obrigada a obedecer padrões estabelecidos por um governo burguês.

Além da crítica quanto à barragem anti-tsunami construída pela Tepco, o governo japonês deveria criticar também a localização da central, à beira do mar, feita para baratear custos — e maximizar lucros, assim como a pouca proteção a terremotos.

O sismo do dia 11 de março também foi um dos responsáveis pelo problema do resfriamento dos quatro reatores nucleares, já que danificou e impossibilitou o trabalho de resfriamento. A empresa também é acusada de omitir informações em relação ao acidente e suas consequências.

Com agências