Crise do DEM-RJ e apoio do Planalto beneficiam partido de Kassab
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que anunciou sua saída do DEM para criar o Partido Social Democrático (PSD), disse nesta quinta-feira (24) que sua permanência no antigo partido havia se tornado impossível. Em sua opinião, ele não poderia continuar numa legenda que torcia pelo insucesso do governo Dilma Rousseff.
Publicado 25/03/2011 11:19
“Não me sinto à vontade para ser governo, mas posso me manifestar agora sem a camisa de força do DEM. Não serei considerado parte do governo, mas tenho muita disposição de ajudar a presidenta”, disse Kassab, em discurso feito durante almoço promovido pela Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, na capital paulista.
Indagado sobre a decisão da direção nacional do DEM – que não pretende entrar na Justiça com uma ação contra Kassab por infidelidade partidária –, o prefeito lembrou que a legislação partidária permite a saída de partido para a criação de outra legenda. “Seria um grande equívoco qualquer manifestação contrária.”
O prefeito se disse “muito animado” com a criação do PSD, relatando que já tem as 101 assinaturas necessárias para o início da formalização do partido na Justiça Eleitoral. De acordo com Kassab, o novo partido já conta com o apoio de 11 deputados federais, sendo seis da Bahia e cinco de São Paulo, além dos vice-governadores da Bahia e de São Paulo.
Rio
Kassab espera receber o apoio do ex-deputado federal Indio da Costa (RJ) – que anunciou na quinta-feira sua saída do DEM – e da prefeita de Ribeirão Preto, Darcy Vera (DEM). “Ela está avaliando. Torço para que ela venha.”
A adesão de Indio é mais provável. A família Maia provocou uma crise na seção fluminense do DEM que pode engordar as fileiras do PSD no estado. No início desta semana, o ex-prefeito Cesar Maia, pai do deputado federal Rodrigo Maia (RJ), enviou um e-mail ao presidente do diretório municipal do DEM no Rio, ex-vereador Paulo Cerri, pedindo que renunciasse e informando que ele próprio assumiria a presidência do partido na capital fluminense.
Cerri, que foi secretário de administração de Cesar Maia, estranhou a ordem, tentou conciliar, e sugeriu ao ex-prefeito que fizesse uma transição. No dia seguinte, o ex-prefeito fez uma reunião em sua casa com alguns fiéis aliados. Dos oito vereadores do DEM no Rio, apenas dois participaram. Lá, foi decidida a nova presidência. Enfurecidos com o golpe e alijados da reunião, saíram do partido Indio da Costa, Paulo Cerri e também a ex-deputada Solange Amaral, até então fiel defensora de Cesar Maia, de cujos governos ocupou vários cargos.
A primeira a pedir para deixar o DEM foi Solange. Com um longo histórico de parceria e defesa do ex-prefeito, ela disse que a decisão foi custosa. "O partido já estava vivendo um momento difícil. Existe uma hierarquia que ele desrespeitou", reclama a ex-deputada. "Reconheço que ele é o maior quadro do DEM no Rio. Mas não pode se autointitular nada". Na quarta-feira, Solange comunicou sua saída da executiva nacional.
Indio foi avisado por Cerri em São Paulo da decisão. "Cerri me pediu para levá-lo ao Agripino. Juntos, pedimos a desfiliação do partido", conta. "Não há como defender a democracia num partido de coronel."
Dois motivos levaram Indio a deixar o DEM. Os deputados Rodrigo Maia e Clarice Garotinho são cotados para formar uma chapa à Prefeitura do Rio. "Seria a chapa de maior rejeição no Rio", ironiza Indio, que também almeja entrar na disputa. Outro motivo é a própria criação do PSD por Kassab.
Apoio do Planalto
A executiva nacional do DEM – que formalizou nesta quinta-feira (24) a dissolução da Comissão Provisória Estadual do partido em São Paulo – diz que a prioridade agora é recompor o partido no estado. Deve ganhar espaço o deputado federal Rodrigo Garcia, aliado histórico de Kassab, que anunciou a intenção de ficar no DEM.
Ao mesmo tempo, os “demos” tentam evitar que mais filiados troquem o DEM pelo PSD. A cúpula identifica no Palácio do Planalto um movimento para lideranças políticas a se filiarem ao PSD. O alvo não são apenas políticos do DEM – como a deputada Nice Lobão (MA), mulher do ministro Edison Lobão –, mas também de outros partidos, como o governador do Amazonas, Omar Aziz (PMN), e o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB).
"É uma luta desigual a minha", afirmou o novo presidente do partido, senador José Agripino (RN), que presidiu, na quinta, a primeira reunião da executiva nacional. Para dirigentes “demos”, o objetivo ao fortalecer o PSD seria "criar um clima para atrair outros por gravidade", enfraquecendo a oposição.
Agripino tem conversado com lideranças do partido que enfrentam divergências locais, para tentar conter insatisfações, como a do deputado Vilmar Rocha (GO), que tem diferenças com o presidente do DEM no estado, deputado Ronaldo Caiado. Rocha não participou da reunião da Executiva.
Da Redação, com agências