William Bowles: Mantendo aparências
Em artigo publicado no site Resistir.info, o analista internacional, William Bowles, critica a campanha midiática imperialista contra a Líbia utilizada para legitimar a intervenção militar e os ataques, liderados pelos Estados Unidos, ao país. Ele explica que a invasão, nominalmente apoiada pela ONU, busca assegurar o controle sobre os ativos petrolíferos vitais da Líbia, os maiores da África, e para garantir o controle geral do Império sobre a região.
Publicado 24/03/2011 11:20
Refere-se aos derrubes com êxito dos antigos membros do Bloco do Leste e, naturalmente, à destruição da Jugoslávia. Assim, a Líbia está para ser o primeiro dentro muitos países que, de acordo com Rasmussen, estão em vias de obter "assistência humanitária" estilo Otan.
Na realidade, tendo sido apanhada a dormitar na região, a invasão nominalmente apoiada pela ONU é uma tentativa do Império para recuperar o controle não só da resultante da rebelião da Líbia como também para estabelecer o cenário para muito mais — e não para a democracia ou direitos humanos mas sim para assegurar controle sobre os ativos petrolíferos vitais (para o Ocidente) da Líbia, os maiores da África, e para assegurar o controle geral do Império sobre a região.
Como escrevi anteriormente, criar uma "zona de interdição de vôo" é um ato de guerra, ponto de vista que é confirmado pelo embaixador dos EUA na ONU, Rice:
Enquanto isso, a esquerda ocidental, tal como ela é, e da mesma forma deprimentemente previsível, agora está numa aflição real. Um jornalista "de esquerda", Gilbert Achcar, escrevendo para a ZCommunications disse o seguinte:
Será isto a "esquerda" a falar numa bem conhecida plataforma "de esquerda"? Por que neste mundo Achcar pensa que o Egito, ainda uma ditadura militar, está interessada em direitos humanos na Líbia? Achcar justifica isso utilizando o mesmo argumento do Império, de que isto está a ser feito para impedir que Kadafi cometa atrocidades. Então porque Achcar não advogou uma "zona de interdição de vôo" há muito mais tempo se ele acredita que isso teria impedido atrocidades de Kadafi? Por falar nisso, porque o Império não o fez?
Perco a esperança…
Absorto em todas as alegações de um "reino de terror" de Kadafi, armado pelos mesmos que estão agora ocupados a destruí-lo, ao invés de centrar nos motivos porque o Império estava tão preocupado com o regime de Kadafi, na verdade a armar Israel quando este dizimava Gaza, esta "esquerda" é agora apanhada no assalto propagandístico do ocidente acerca da defesa de "direitos humanos"! Recordo a propósito que os media de referência fazem grande estardalhaço quando propagandeiam a favor Império, declarando em numerosas ocasiões que só deveria ser utilizada a força para defender civis.
Mas tal como a infame Resolução da ONU que levou à invasão da Líbia, "defender civis" é uma declaração vazia e totalmente vaga que pode ser interpretada de qualquer modo.
O que não entendo é porque a Rússia e a China abstiveram-se de votar exceto pela afirmação feita pelo responsável do Partido Comunista da Rússia, Gennady Zyuganov, de que:
"Revolução" da Líbia inspirada e arquitetada pelos EUA?
Desde o princípio, a rebelião líbia foi apresentada como uma continuação das rebeliões em outras partes do Médio Oriente/África do Norte e os Estados/media de referência frequentemente utilizam as "revoluções" alhures como justificação para apoiar a "revolução" líbia, deixando de mencionar naturalmente que até agora não tem havido revoluções em qualquer parte do Médio Oriente ou África do Norte. De fato, o oposto é que tem sido o caso, com o Estado a assassinar seus cidadãos no Bahrain, na Arábia Saudita e no Iêmen e nenhum sinal de os mísseis do Império choverem sobre o Bahrain, o Iêmen ou Arábia Saudita abastecidos com arsenais dos EUA.
Primeiro, esperar e ver se os rebeldes podem encenar um golpe com êxito. Se não – e foi o que aconteceu com as forças de Kadafi prontas para recuperarem Bengazi – persuadir aqueles em dúvida de que Kadafi estava prestes a cometer horrores indizíveis (já gerados desde o primeiro dia da rebelião com os rumores não fundamentados das atrocidades de Kadafi e de mercenários africanos) e pressionar por uma resolução ilimitada do Conselho de Segurança que desse ao Império rédea livre para fazer o que quer que quisesse fazer com a Líbia.
E para tornar todo o caso sórdido e ilegal mais palatável para um mundo bastante habituado a ser "libertado" pela "generosidade" dos EUA na sua distribuição de democracia, fazer tudo isto através de uma frente anglo-francesa (eles que têm mais a perder na Líbia, juntamente com os italianos, devido às suas concessões petrolíferas), mas com os EUA a puxarem todos os cordões (e a dispararem a maior parte dos mísseis).
Um acordo cínico e sórdido digno apenas de piratas que tiveram êxito em transformar um antigo aliado num ogre, como Manuel Noriega, que também passara a data de validade e na verdade era um embaraço potencial para o Império.
William Bowles é analista político e colaborador da Global Research
Fonte: resistir.info