Grupo de Marina quer “democratizar” PV ou até criar outro partido
Dois dias após o prefeito Gilberto Kassab ter anunciado a criação de seu PSD, um expressivo grupo de parlamentares e líderes do PV, entre eles a ex-senadora Marina Silva, decidiu pôr na rua um movimento destinado a mobilizar as bases verdes para cobrar a democratização do partido. Eles querem a realização de uma convenção nacional, no prazo de seis meses, e a convocação de eleições diretas para a escolha de novos diretores.
Publicado 23/03/2011 10:55
A médio prazo, se a ação não funcionar, o grupo não descarta a hipótese de o movimento, denominado Transição Democrática, desaguar no surgimento de um novo partido. O primeiro ato político do grupo está programado para quinta-feira (24). Líderes de diferentes regiões do país devem se reunir em São Paulo para o lançamento de um manifesto com as teses do movimento.
Segundo o presidente do diretório paulista, Maurício Brusadin, já está confirmada a presença de sete deputados federais – o equivalente à metade da bancada verde. Marina, terceira colocada na eleição presidencial do ano passado, com quase 20 milhões de votos, é aguardada, mas tem problemas de agenda e pode faltar. Seu papel na Transição Democrática é, sobretudo, a organização de debates políticos com militantes verdes e simpatizantes por todo o país.
A principal meta é a renovação do partido. Quando Marina se desligou do PT e desembarcou com seu grupo no PV, em 2009, ficou combinado que seriam realizadas no primeiro semestre deste ano a convenção nacional e a eleição interna, precedidas de debates sobre democracia. Isso valeu até quinta-feira da semana passada, quando a direção nacional se reuniu na sede do partido, na região do Lago Sul, em Brasília.
Acatando proposição do deputado Zequinha Sarney (MA), a maioria dos participantes do encontro votou pelo adiamento da convenção até 2012. Com isso, o atual presidente, deputado José Luiz Penna (SP), ganhou mais um ano de mandato – o 13º. Como ninguém acredita que se promovam convenções e eleições partidárias no ano que vem, por causa das eleições municipais, é provável que Penna atravesse o 14º aniversário no poder. Seus críticos já o chamam jocosamente, nos bastidores, de “Penna Mubarak”, em referência ao ex-ditador do Egito.
O adiamento irritou Marina Silva. Segundo ela, os 19,6 milhões de votos dados em 2010 à sua candidatura devem ser vistos como um legado político, tanto no plano nacional quanto no plano interno, provocando a democratização na estrutura do PV. No mesmo diapasão, a deputada Aspasia Camargo (RJ) diz que seu partido vive um momento crítico, no qual deve fazer a transição democrática e incorporar "o legado da campanha".
O adiamento também deu origem a uma crise que expõe as fissuras internas do PV e a resistência de alguns setores à presença de Marina no partido. Para esses grupos, mais próximos do presidente Penna, considerado um dirigente pragmático, a candidatura de Marina não trouxe tantos benefícios ao PV como se imaginava. Citam o fato de a bancada federal continuar com as mesmas 14 cadeiras que tinha antes.
"Quem diz isso não vê como a base do partido foi ampliada na eleição passada", observou Brusadin. "O que há por trás desses comentários é o medo de que a renovação dos quadros leve o PV a um papel de protagonista, em vez de se resignar ao papel de coadjuvante, servindo aos partidos maiores."
Na própria Transição Democrática existem diferenças. Enquanto o deputado Alfredo Sirkis (RJ), do núcleo de assessores mais próximos de Marina, eleva o tom e fala abertamente na possibilidade de novo partido, o amigo e ex-deputado Fernando Gabeira baixa o volume. Ele acredita que o debate produzirá um acordo interno. Essa também é a opinião do ex-candidato a governador de São Paulo em 2010 pelo PV, Fábio Feldman.
Da Redação, com informações do O Estado de S. Paulo