Peça Filha da Anistia será apresentada em Fortaleza
Com um viés crítico que foge de fórmulas óbvias, a montagem tem o seu vigor na interpretação dos atores e na simplicidade com a qual discute os efeitos da ditadura pós-golpe de 64 nas posturas políticas, sociais e culturais do país. Após temporada de sucesso em São Paulo, a peça Filha da Anistia segue para outras seis capitais, dentre elas Fortaleza.
Publicado 22/03/2011 12:07 | Editado 04/03/2020 16:32
A Caros Amigos Cia de Teatro, da Cooperativa Paulista de Teatro, em parceria com o Projeto Marcas da Memória, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, realizará apresentações do espetáculo “Filha da Anistia” em seis capitais a partir de março: Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Teresina, e Brasília. As apresentações serão seguidas de debates com a participação do público, do elenco e de convidados locais que participaram da resistência à ditadura implantada com o golpe de Estado de 1964, com curadoria do Núcleo de Preservação da Memória Política.
A peça que estreou em São Paulo em março do ano passado, nasceu após três anos de intensa pesquisa. Carolina Rodrigues e Alexandre Piccini, co-autores e atores da peça, mergulharam em arquivos públicos e bibliotecas, selecionando documentos, jornais, livros, teses e biografias. Além do escasso material publicado, foi imprescindível conhecerem o olhar e a experiência de pessoas que viveram e lutaram na resistência ao regime autoritário. Construíram, assim, uma ficção que busca apropriar-se deste período, desvendar seus mitos, elucidar e questionar a História, incitando no espectador o surgimento da consciência crítica.
“Buscamos produzir algo que vasculhe o inconsciente coletivo e, fora da racionalidade incapacitada pela conjuntura histórica, torne esse trauma mais nosso, mais visível, mais elaborável”, sintetiza Carolina.
A peça
"Filha da Anistia" conta a história de uma jovem que parte em busca do pai que nunca conhecera e acaba descobrindo um passado de mentiras e omissões, forjado durante os anos de chumbo no Brasil.
Clara é uma advogada que procura refazer sua história e esclarecer seu passado, sem imaginar que a sua vida seria radicalmente transformada nessa trajetória. Todas as suas certezas caem por terra diante das descobertas sobre seu passado familiar e sobre um período da história de nosso país que poucos conhecem – e que a maioria prefere esquecer. Para ela, isso não será mais possível. "Filha da Anistia" provoca no espectador a reflexão sobre esse período, usando como metáfora os desencontros de uma família despedaçada pela ditadura.
“Esse projeto colabora com a necessidade de compreendermos a História e de aprendermos com ela. Nosso principal objetivo é contribuir de uma maneira artística para que o Brasil avance na consolidação do respeito aos Direitos Humanos, sem medo de conhecer e reconhecer a sua história recente”, afirmam os autores.
De acordo com o diretor do espetáculo, João Otávio, o vigor da montagem está em sua simplicidade. A tensão dos diálogos é a própria materialização da violência, fugindo de fórmulas prontas, como cenas de tortura, por exemplo. “O jogo cênico é o mais importante. O confronto entre os personagens, as perspectivas que surgem e a visível reação da plateia não permitem aqui diálogos que explorem o didatismo ou mesmo uma mão pesada no discurso político.” Todos os artifícios e recursos foram eliminados, e para compor o cenário apenas algumas caixas de papelão foram espalhadas pelo palco, ilustrando o desnudar dos personagens a cada passo em busca do esclarecimento. Essa configuração implica na construção de um olhar que sempre busca aquilo que está oculto na história que está sendo contada.
O diretor aponta, ainda, que não houve interesse em retratar historicamente o período, considerando que a realidade dos fatos ocorridos possui uma dimensão de violência e barbárie inaceitáveis. Ao contrário, nesta ficção, a Cia apresenta uma inversão, onde o passado figura como o período de otimismo, luta, idealismo e vivacidade, enquanto o presente é que se mostra obscuro, melancólico e incoerente com esse passado.
Alexandre Piccini ressalta que o principal objetivo dessa montagem é desfazer a sensação de que o que aconteceu só diz respeito aos diretamente envolvidos. “Buscamos o tom exato para que o público se identifique com os personagens e compartilhe dos seus sentimentos, entendendo que a brutalidade da ditadura poderia ter atingido qualquer um de nós. Mas também procuramos manter um distanciamento crítico para alcançarmos racionalmente a compreensão de que o passado é a raiz do presente. Lá estão as origens de muitos dos problemas que vivenciamos hoje. A brutalidade da ditadura continua nos atingindo: educação, cultura, segurança, economia e política dizem respeito a todos nós”.
Contemplado pelo Programa de Ação Cultural (ProAC) da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo em 2009, “Filha da Anistia” dialoga com as atuais discussões sobre Direitos Humanos. A seriedade e a coerência do projeto atraíram apoiadores fundamentais para a concretização da montagem – A Caros Amigos Cia de Teatro agradece a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, Núcleo de Preservação da Memória Política e Ação Educativa.
Serviço
Filhas da Anistia – Fortaleza
Apresentações gratuitas
Dia 23 de março, quarta feira, 17h e 20h.
Dia 26 de março, sábado, 11h e 20h.
Local: Teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. (246 lugares)
Endereço: Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema – Fortaleza/CE.
Informações bilheteria: (85) 3488-8600
Debates após todas as apresentações. Convidados confirmados: Maurice Politi, Mário Albuquerque, Lúcia Alencar, Francisco Alencar, Messias Pontes e Pedro Albuquerque.
Apoio: Secretaria de Cultura do Governo do Estado do Ceará/ Secretaria de Justiça e Cidadania do Governo do Estado do Ceará/ IACC – Instituto de Arte e Cultura do Ceará/ Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura/ Instituto Frei Tito de Alencar/ Associação 64-68 Anistia/ Comissão Especial de Anistia Wanda Sidou.
Fonte: Blog Filha da Anistia