Capistrano: Hiran Pereira, um bravo combatente comunista
Hiran de Lima Pereira, nome que não pode e nem deve ser esquecido pelos norte-riograndenses. Homem dedicado as letras e as artes, um bravo combatente comunista, nome que honra a história do nosso país, figura que pontificou na militância política em Natal e em Recife.
Publicado 22/03/2011 12:55 | Editado 04/03/2020 17:07
Desde os meus primeiros anos na militância comunista, 1960, ainda adolescente, empolgado com a dinâmica política e cultural do PC, já o conhecia de nome, escutei algumas vezes Luiz Maranhão, Bento Ventura, Pretextato e outros velhos militantes, falar no seu nome e, mais recentemente, lendo o belo texto de Moacyr de Góes, “Entre o rio e o mar”, Editora Revan, um misto de ficção e realidade, encontro lá Hiran como personagem das lutas populares na década de 1940 e dirigente comunista na cidade do Natal. Mesmo sem o conhecer, pessoalmente, tenho por ele uma grande admiração.
Sentindo que o seu nome é praticamente desconhecido dentre as novas gerações de militantes comunistas, resolvi fazer uma pesquisa sobre a vida desse bravo militante, pretendo publicar o resultado desse trabalho no ano do seu centenário, 2013. Será uma modesta contribuição a história dos militantes comunistas do nosso estado.
Hiran nasceu em Caicó no dia 03 de outubro de 1913, filho de Hilarino Amâncio Pereira e Maria Marieta de Lima Pereira, casou-se com Célia Pereira, com quem teve quatro filhos, morou em Natal até 1949, quando se transferiu para a cidade do Recife, onde continuou a sua militância política, o seu trabalho como jornalista e advogado, sem deixar o seu lado artística/cultural.
Em 1945, na eleição para a Assembleia Nacional Constituinte, ele foi candidato a deputado federal, sendo o mais voltado em Natal, não foi eleito porque o partido não conseguiu fazer o coeficiente eleitoral necessário para eleger um deputado. Nessa mesma eleição, outro candidato do PCdoB, este a presidência da república, Yedo Fiúza, foi, também, o mais votado em Natal, cidade de tradição revolucionaria e de esquerda.
Em Recife, Hiran foi secretário de administração do prefeito Miguel Arrais e depois do prefeito Pelópidas da Silveira. Muito ligado as atividades culturais, ele era amigo de Ariano Suassuna e Hermilo Borba Filho, participando de projetos culturais, montando textos teatrais, tanto de Ariano como de Hermilo, no famoso Núcleo de Cultura Popular de Recife. Hiran era membro da direção nacional do PC, um importante quadro do partido no nordeste, um dedicado militante comunista.
Hiran de Lima Pereira foi um dos presos políticos do período que ficou conhecido como os anos de chumbo da ditadura militar (1969/1977), período negro da história do Brasil. Como outros comunistas, Hiran foi preso em janeiro de 1975, segundo testemunhas, foi barbaramente torturado, sendo assassinato friamente nos porões da ditadura, até hoje não se tem informações sobre os seus restos mortais, seu nome consta na relação dos presos políticos “desaparecidos”.
A luta da sociedade brasileira é pela condenação dos torturadores e assassinos, do período da ditadura militar, até porque a tortura é um crime para o qual não existe perdão. A condenação desses bandidos é uma questão de cidadania, é passar a limpo a história, é evitar que fatos como esse voltem a se repetir. A impunidade é um péssimo exemplo para as novas gerações, é ruim para a democracia que queremos construir.
Onze dirigentes do Comitê Central do PCB foram assassinados nesse período, todos, até hoje, são considerados “desaparecidos”, porque os seus corpos não foram encontrados, existem diversas versões do sumiço dos cadáveres, uma delas é que foram jogados em alto mar para não deixar vestígios, essa era uma prática comum usada pelos torturadores durante os regimes militares em toda a América Latina.
Entre os onze membros do Comitê Central do PCB assassinatos nos porões da ditadura militar estão os nomes de Luiz Maranhão Filho e Hiran de Lima Pereira, dois norte-riograndense, dois grandes homens, dois amigos, um único sonho, a construção de um país justo e democrático. Nessa sinistra lista de “desaparecidos” encontramos outros bravos camaradas do Comitê Central do PC que merecem o registro dos seus nomes no panteon dos heróis da Pátria, são eles: David Capistrano, Walter de Souza Ribeiro, Elson Costa, Jayme Amorim de Miranda, Nestor Veras, Orlando da Silva Rosa Bonfim, Itair José Veloso, João Massena de Melo, Jose Montenegro de Lima.
Portando, na semana de mais um aniversário de fundação do Partido Comunista do Brasil, 25 de março de 1922, este ano completando 89 anos de existência, fica aqui registrado o nome desse bravo militante comunista, um potiguar do seridó, um homem que doou a sua vida a luta em defesa de um mundo de paz e de justiça social. Hiran de Lima Pereira, um seridoense, merecedor de todas as homenagens do povo brasileiro, mártir da liberdade, herói das lutas democráticas, um verdadeiro socialista.