Russos ignoram cada vez mais Gorbatchov, o traidor do socialismo
O último presidente e principal responsável pela dissolução da União Soviética (URSS), Mikhail Gorbatchov, completa 80 anos nesta quarta-feira (2) em meio à indiferença dos cidadãos russos. É o que revela uma sondagem do Centro de Estudo da Opinião Pública da Rússia, que testou as opiniões das pessoas sobre o homem que, há mais de duas décadas, capitulou ao sistema, traiu o movimento socialista e abriu as portas das repúblicas da antiga URSS para o capitalismo.
Publicado 02/03/2011 09:33
Segundo a pesquisa, 73% dos russos têm dificuldade em encontrar “momentos positivos” na trajetória de Gorbatchov, pai de reformas como a “Perestróica” e a “Glasnost” – que levaram a Rússia ao colapso político e econômico. Quanto aos “momentos negativos”, 31% recordam a “desintegração da URSS”, 5% assinalam “o declínio do país”, 3% “desordens” e 2% a “venda do país ao Ocidente”.
Apenas 10% lhe são gratos pelo fim do socialismo e pela introdução da “iniciativa privada na economia” e 5% “pelo fim da guerra fria”, que impunha contraponto à altura da hegemonia imperialista dos Estados Unidos. O número de russos que olham Gorbatchov com indiferença subiu, nos últimos dez anos, de 25% para 47%. Caiu também de 16% para 5% o número dos russos que simpatizam com a atividade política de Gorbatchov e de 15% para 10% os que olham para esse político com “respeito”.
No Natal de 1991, Gorbatchov anunciou formalmente o fim da União Soviética – o imenso país erguido por Lênin nos anos 20 sob a égide da igualdade social e da soberania popular. As repúblicas independentes que se formaram após a queda da URSS enfrentaram uma gravíssima crise econômica e social, que se estendeu para a década seguinte. Em 1996, ao se candidatar a presidente da Rússia, Gorbatchov foi humilhado nas urnas e não obteve sequer 1% dos votos.
Gorbatchov deve receber 300 amigos e parentes em um restaurante de Moscou, capital russa, para celebrar seu aniversário. Em Ekaterimburgo, numa solitária – e deplorável – homenagem oficial ao traidor do socialismo, a Avenida Lênin foi rebatizada nesta quarta-feira com o nome de Mikhail Gorbatchov.
Mas a principal cerimônia – "Mikhail Gorbatchov, o homem que mudou o mundo" – será um banquete elitista no Royal Albert Hall de Londres, em 30 de Março, com a participação da rainha de Inglaterra, bem como de conhecidas figuras do mundo artístico e musical ocidental. O preço do bilhete de entrada na festa varia entre 50 e 100 mil euros.
“Ele, inicialmente, levou a uma crise econômica e, depois, ao caos político. Não é por acaso que comemora o seu aniversário não em Moscou, ou em Stavropol [terra natal], mas em Londres. Gorbatchov não faz falta a ninguém aqui", diz Anatoli Lokot, um dos dirigentes do Partido Comunista da Federação da Rússia.
“Na história de nosso país, houve muitas figuras que causaram muito mal à sua pátria e ao seu povo. Mas não há nenhuma mais destrutiva que Gorbatchov”, opinou Gennady Ziugánov, outro líder dos comunistas russos. "Por que Gorbatchov é tão popular no Ocidente? Porque ajudou a destruir e fazer praticamente desaparecer da face da terra um grande país, com o qual sonhavam muitos líderes das potências ocidentais.”
Em meados de fevereiro, em entrevista ao jornal conservador Novaïa Gazeta, Gorbatchov revelou ter “vergonha” do seu próprio país. Boa parte dos russos sente algo semelhante – mas por Gorbatchov.
Da Redação, com agências