Militares serão julgados por roubo de bebês na Argentina
Um tribunal da Argentina começará nesta segunda-feira (28) a julgar os ex-ditadores Jorge Videla e Reynaldo Bignone no primeiro processo que debaterá a existência de um plano sistemático para o roubo de bebês de mulheres sequestradas grávidas pela última ditadura que vigorou no país (1976-1983).
Publicado 28/02/2011 06:06
Além desses dois ex-presidentes, o Tribunal Oral Federal 6 colocará no banco dos réus o ex-general Santiago Riveros, o ex-almirante Antonio Vañek, o ex-capitão da Marinha Jorge “Tigre” Acosta, o ex-delegado Jorge Azic, o ex-marinheiro Rubén Franco e o ex-médico José Luis Magnacco.
Todos os acusados serão julgados por “subtração, retenção, ocultação e substituição de identidade de menores de dez anos”.
O tribunal analisará especificamente 35 casos de roubos de bebês de mulheres grávidas prisioneiras nas duas principais prisões clandestinas da ditadura: a Escola de Mecânica da Armada (ESMA) e a guarnição militar de Campo de Maio.
Ao longo de pelo menos 12 meses os três juízes do tribunal escutarão mais de 370 testemunhas de um processo que foi impulsado há 14 anos pelas Avós da Praça de Maio, que denunciaram um plano sistemático de apropriação de seus netos nascidos durante o cativeiro de suas mães.
Prevê-se que no meio do ano Eduardo Ruffo se somará aos réus pelo roubo de um recém-nascido na prisão clandestina “Automotores Orletti”, considerada peça-chave do “Plano Cóndor”, a repressão coordenada no Cone Sul durante a década de 1970 pelas ditaduras da Argentina, do Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Peru.
A prisão ilegal funcionou em 1976 sob a fachada de uma usina mecânica no bairro portenho de Flores e nela estiveram encarcerados ilegalmente centenas de presos, em sua maioria uruguaios, embora também tivessem passado por lá argentinos, chilenos, cubanos, bolivianos e paraguaios.
Trata-se de Simón Riquelo, o filho que foi arrebatado à uruguaia Sara Méndez quando estava presa em “Automotores Orletti” e que 26 anos depois foi recuperado por sua mãe, que sobreviveu às torturas da ditadura.
Também como acusados se somarão em meados de 2011 o ex-capitão do Exército Víctor Gallo e sua esposa pela apropriação de um bebê que integra a lista de 102 netos recuperados pelas Avós da Praça de Maio, que calculam que cerca de 500 crianças foram roubadas de suas famílias biológicas durante o último regime ditatorial.
Outros casos emblemáticos que estarão presentes no debate são os roubos dos netos de Estela de Carlotto, coordenadora das Avós da Praça de Maio, e do poeta argentino Juan Gelman.
O julgamento já recolheu o testemunho de Nélida Chorobik de Mariani, uma das fundadoras das Avós, que pediu para depor antes do começo do processo por sua avançada idade (87 anos) e delicado estado de saúde.
Pela demora do processo, quatro dos acusados morreram antes de ser julgados: o ex-almirante Emilio Massera, o ex-general Juan Bautista Sasiaiñ, o ex-delegado Héctor Febres e o ex-chefe do Exército Cristino Nicolaides.
A poucos dias do início do julgamento, o ex-ditador Videla despediu seus dois advogados e conta agora com a defensoria pública.
Em dezembro de 2010, o primeiro dos quatro presidentes da última ditadura argentina foi condenado à prisão perpétua por um tribunal da província de Córdoba que o julgou pelo fuzilamento de trinta presos políticos em 1976.
Bignone, por sua vez, foi sentenciado em abril do ano passado a 25 anos de prisão por delitos de lesa-humanidade cometidos no Campo de Maio.
Fonte: Cubadebate