Jô pede respeito e se solidariza com moradores

Rechaçando o conceito de que moradores da periferia e aglomerados são todos criminosos, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB/MG) à tribuna da Câmara denunciar o que considera uma verdadeira guerra civil instaurada no Aglomerado na Serra e se solidarizar com os trabalhadores que vivem nesta área de 1,5 milhão de metros quadrados da região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Aglomerado da serra - Alfredo Durães(EM)

A ação de uma unidade da Polícia Militar na madrugada de sábado (19), que culminou com a morte de dois moradores e deflagrou a explosão de revolta da comunidade de uma das oito favelas do Aglomerado, a Vila Marçola, foi relatada pela deputada a seus pares.

Jô enfatizou que ali moram “trabalhadores, pessoas que querem dar o melhor de si para que se construa uma cidade melhor”. E também pediu que sejam tomadas as devidas providências para que a Polícia Militar de Minas Gerais, como um todo, volte ao seu conceito original, de corporação cidadã.

Ela acrescentou que “os trabalhadores da periferia são homens e mulheres que precisam ser respeitados”.

Discurso

“Senhor presidente, senhoras e senhores deputados,Venho aqui expressar minha solidariedade às milhares de famílias de trabalhadores e trabalhadoras do Aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de Belo Horizonte.

Trata-se de um conjunto de oito vilas e favelas numa área de 1,5 milhão de metros quadrados e com uma população estimada em mais de 50 mil pessoas. Gente, em sua imensa maioria, que luta para estudar e trabalhar, para manter-se como família, a despeito das inúmeras carências decorrentes da miséria, do abandono, da ausência da mão do Estado.

Pois essa população simplesmente explodiu em revolta diante da morte de dois de seus moradores, executados a tiros por policiais militares: o estudante Jefferson Coelho da Silva, de apenas 17 anos, e o técnico de enfermagem Renilson Veriano da Silva. Ambos queridos e respeitados pela comunidade. O primeiro, filho, e o segundo irmão de um policial militar.

Eles foram mortos na madrugada de sábado, numa história mal contada pelos policiais envolvidos. Os militares apresentaram várias versões, todas veementemente contestadas pela população que se revoltou, colocou fogo em dois veículos, foi às ruas protestar. Representantes das forças policiais reagiram às manifestações e o caso acabou em grave confronto. A presença de policiais em viaturas do segmento da corporação acusada de execução dos dois moradores foi o estopim para a explosão.

Horas antes, o aglomerado havia enterrado seus dois representantes e não suportou. Reagiu com gritos e pedras. Os policiais revidaram com prisões, bombas, tiros de bala de borracha, que atingiram outros inocentes, entre os quais uma criança de apenas 5 anos.

Hoje, com o afastamento dos policiais acusados, abertura de inquérito e investigações de denúncias que apontam até para a formação de milícia pela parte dita podre da corporação, a situação está mais calma. Mas o serviço de ônibus continua suspenso.

Senhores, senhoras, considero que devemos, com toda a certeza, acabar com essa idéia de que os trabalhadores da periferia são todos criminosos. Os trabalhadores da periferia são homens e mulheres que precisam ser respeitados. O crime organizado usa desses injustos atentados para ampliar o seu espaço.

Faço esse relato para reiterar a necessidade de os governantes estarem mais atentos aos seus servidores. Ao que acontece no interior de cada segmento, de cada corporação. Para que a maioria da população trabalhadora não fique refém de bandidos, sejam eles uniformizados ou não. Basta de traficantes, de milicianos dominando regiões enormes de nossas cidades! Basta! Não podemos mais aceitar essa omissão do Estado. E não estou me referindo ao braço armado!

Refiro-me ao Estado indutor do desenvolvimento; fazedor de obras de infra-estrutura básica. Ao Estado que ergue escolas e as mantém. Que deve gerar bem-estar social, pois para isso pagamos os mais altos impostos do mundo. Faço minha, as palavras gritadas, gemidas, choradas pelos milhares de mulheres, homens, idosos, jovens e crianças do Aglomerado da Serra: Basta de omissão! Basta de violência. Nossa paciência se esgotou. Basta!”

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