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Operação Guilhotina: 43 réus, 41 já presos

A Justiça aceitou nesta sexta-feira (18) denúncia do Ministério Público Estadual (MP) contra 43 dos 45 acusados de integrar o grupo — formado em sua maioria por policiais — investigado e preso na Operação Guilhotina, desencadeada pela Polícia Federal semana passada. 

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Os suspeitos foram denunciados por formação de quadrilha, peculato, corrupção passiva, extorsão, violação de sigilo funcional e comércio ilegal de arma. Dos 45, 41 estão presos. Dois acusados não viraram réus porque seus nomes completos não foram descobertos.

A pedido do coordenador da 1ª Central de Inquéritos do MP, promotor Homero das Neves, a denúncia foi desmembrada em quatro, pois as investigações revelaram esquemas criminosos distintos. “Entre os crimes cometidos, a milícia é o pior porque domina milhares de pessoas em comunidades carentes, cobrando taxas por vários serviços”, criticou Homero.

Segundo o MP, os “denunciados, consciente e voluntariamente, em proveito próprio ou alheio, apropriaram-se e desviaram bens em razão do cargo que ocupavam”. Para o juiz em exercício da 32ª Vara Criminal, Guilherme Schilling Pollo Duarte, o desmembramento da ação, além de fundamental para a defesa dos réus, ajudará também na celeridade processual.

Entre os denunciados está o delegado Carlos Oliveira, ex-subchefe operacional de Polícia, que foi braço-direito do ex-chefe de Polícia Civil Allan Turnowski. Oliveira vai responder por formação de quadrilha, peculato (apropriação de bens por servidor público) e comércio de armas de fogo.

De acordo com as investigações, um grupo fazia parte de milícia; dois eram ligados a traficantes e praticavam o ‘espólio de guerra’ (desviavam armas, munição, drogas e objetos apreendidos em operações); e o quarto atuava na segurança de contraventores.

Segundo a Polícia Federal, um dos grupos “promoveu uma verdadeira devassa no Complexo do Alemão”, durante a ocupação da região ano passado. Os agentes chegaram a chamar o local de Serra Pelada, região do Pará famosa pela corrida ao ouro nos anos 80. Outros policiais teriam recebido propina dos traficantes Rogério Rios Mosqueira, o Roupinol, morto no ano passado, e de Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, para vazar as operações.

Juiz: "Regime de terror em comunidades"

Para o juiz Guilherme Schilling , a investigação revela que “alguns dos indiciados exercem efetivo comando de organização criminosa, impondo verdadeiro regime de terror em determinadas comunidades carentes”. É uma referência do magistrado à milícia da Favela Roquete Pinto, em Ramos. Do grupo, formado por 20 pessoas, faria parte o delegado Carlos Oliveira.

Segundo a denúncia, não existia hierarquia entre a chefia da milícia, exercida por três policiais, e os que atuavam no segundo escalão do bando. Oliveira seria responsável por “facilitar suas atividades controlando as autoridades das delegacias nas quais os milicianos exerciam suas funções”.

Alguns integrantes tinham a missão de arrecadar bens e armas, enquanto outros patrulhavam a favela. No grupo, também havia os encarregados de atacar quem se opusesse à milícia. Controle do transporte alternativo, ‘gatonet’ e distribuição de gás e água eram outras funções.

Beltrame pronto para depor

O secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, se prontificou a prestar depoimento na Polícia Federal sobre o telefonema que deu ao delegado Allan Turnowski. Segundo o ex-chefe da Polícia Civil, a ligação comprovaria que ele não vazou informações sobre uma operação da PF ao inspetor Christiano Gaspar Fernandes, um dos presos na Guilhotina denunciados pelo MP

“Se tiver que ser ouvido, serei. Falarei à autoridade que quiser, à instituição que quiser, sem problema nenhum, isso faz parte do processo. Não vejo problema nenhum em falar. A Polícia Federal é uma parceira nossa não só nessa questão”, afirmou o secretário.

Sobre o indiciamento de Turnowski por violar o sigilo funcional, Beltrame foi cauteloso: “É temerário tecer juízo de valor. Isso não tem que se comentar”.

O inquérito que indiciou o delegado já foi encaminhado para análise do Ministério Público.

Fonte: O Dia