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Ex-cortadores de cana ingressam na luta pela reforma agrária

A perda de empregos causada pela mecanização da colheita da cana-de-açúcar tem levado uma parcela significativa de ex-cortadores paulistas a integrarem movimentos de luta pela terra. Desde 2007 foram fechados no estado cerca de 40 mil postos de trabalho no corte da cana, segundo o professor do departamento de Economia Rural da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), José Giacomo Baccarin.

Sem formação escolar ou dinheiro para se tornarem empreendedores, os trabalhadores encontram dificuldades para desenvolver novas atividades. “A população sobrante desse processo tem baixo nível de escolaridade e está completamente descapitalizada”, o coordenador do Núcleo de Estudos de Reforma Agrária (Nera) da Unesp, Bernardo Mançano.

Nesse contexto, ingressar na luta para se tornar um beneficiário da reforma agrária é uma opção para muitos dos desempregados pela mecanização, como constatam os sindicatos que representam a classe. Segundo o primeiro secretário da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de São Paulo, Sílvio Palviqueres, já é expressivo o número de ex-cortadores participando do movimento no país.

“Geralmente, quando há invasão nas fazendas quase 50% são trabalhadores rurais que perderam o emprego”, afirma Palviqueres que também preside o Sindicato de Empregados Rurais de Ribeirão Preto, umas das maiores regiões produtoras de cana do estado.

José Rainha Júnior, um dos líderes sem-terra que atua na região do Pontal do Paranapanema, confirma que os ex-cortadores têm fortalecido os movimentos sociais. Ele estima que entre os 6 mil militantes que participaram das 42 ocupações de janeiro deste ano, pelo menos um terço era composto de egressos do setor sucroenergético. “A tecnologia chegou, as máquinas desempregaram muita gente no corte de cana”, conta Rainha.

Para Bernardo Mançano, a luta dessas pessoas por um lote de terra onde possam viver e produzir é também uma batalha para se reinserir na sociedade. “Como o corte da cana vem intensamente mecanizado, essa população vai procurar emprego na cidade. E não encontrando trabalho na cidade elas vão viver ou de ajuda do governo, ou procurar na luta pela terra uma perspectiva de ressocialização.”

Existem ainda os trabalhadores que têm tentado conseguir um lote de terra por meio do crédito rural. O presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Regente Feijó, Marcelino Sotocorno, disse que apesar dos problemas burocráticos, essa também de tornou uma opção. “É uma forma de o pessoal ter, pelo menos, o lugarzinho para trabalhar”, explica. Ele lembra que ter um lote de terra, mesmo que pequeno, é uma garantia de sobrevivência. “Se ele souber plantar um pé de mandioca ou de milho, fome ele não passa”.

Fonte: Agência Brasil