BA: A prioridade é o acesso à saúde, diz Solla
“Avançamos muito nos primeiros quatro anos, mas ainda há um longo caminho a percorrer para atender as necessidades básicas dos baianos na área de saúde”. Esta é a avaliação que o secretário de Saúde da Bahia, Jorge Solla, faz sobre a atual situação do setor no estado. Na entrevista ao Vermelho, Solla falou dos projetos e ações do governo para ampliar o número de leitos e unidades hospitalares, melhorando assim, a qualidade do atendimento prestado à população na rede pública estadual. Confira:
Publicado 15/02/2011 19:02 | Editado 04/03/2020 16:19
Vermelho – Como avalia a saúde pública no estado? Em que áreas da saúde o governo mais avançou ao longo desses quatro anos?
Jorge Solla – Primeiro, nós temos ainda um longo caminho a percorrer a nas ações voltadas para atender as necessidades básicas, no que diz respeito à ampliação do acesso e a qualificação da rede do estado. Nós encontramos uma situação, digamos assim, de falta de prioridade das gestões anteriores e que demandam investimentos a longo prazo.
Nestes quatro anos, sem sombra de dúvida nós tivemos a maior ampliação da rede pública de saúde feita em uma gestão aqui pelo estado. Nós tivemos um aumento de mais de 400 postos de saúde ligados ao Programa Saúde da Família, superamos mais de 1200 novos leitos hospitalares, inclusive a meta era chegarmos a 1.100 novos leitos e já estamos em 1.200. Abrimos cinco grandes hospitais regionais – Irecê, Juazeiro, Santo Antônio de Jesus, Feira de Santana e o Hospital do Subúrbio em Salvador, este inclusive foi o único hospital de emergência construído em Salvador nos últimos 20 anos – o último foi o Hospital Geral do Estado. Fizemos uma expansão importante em várias áreas, triplicamos a cobertura de psiquiatria do estado, dobramos o número de centros de atenção psicosociais, triplicamos o número de centros especializados em odontologia, chegamos ao aumento em torno de 80% em número de leitos de UTI – comparando com todos os leitos abertos em todos os governos anteriores.
Nas ações de vigilância, nós conseguimos debelar com uma epidemia de sarampo, estamos sem casos desde 2007. Temos tido um investimento importante na qualificação de recursos humanos. Foram mais de 25 mil funcionários de nível médio e agentes comunitário passando por cursos de qualificação. Foram mais de três mil profissionais de nível superior participando de cursos de especialização. Aumentamos em mais de 50% o número de vagas em residência médica no estado, em várias especialidades. Inclusive, criando residência em áreas que não existiam, como neurocirurgia e mastologia, por exemplo. Tudo isso em apenas quatro anos de uma mesma gestão. Além de todo o investimento para a recuperação da rede existente, já que a maioria dos hospitais foram encontrados sucateados, precisando de reformas, de aquisição equipamentos, de contratação de profissionais, fizemos o primeiro concurso para médico em mais de 15 anos no estado.
V- Quais os projetos prioritários para este segundo mandato?
JS – Por um lado tem as metas que o governador já anunciou na própria campanha eleitoral. Ele se propõe continuar a ampliação da rede com mais 400 novos postos de saúde, o mesmo quantitativo da primeira gestão, estamos continuando o processo de reforma e ampliação da rede – porque você não pode fechar um hospital para reformar todo, então fizemos um cronograma de reformas e algumas passaram da primeira para segunda gestão. Temos um desafio importante que é viabilizar na rede, serviços especiais para pessoas com dependência química (drogas), além centros de atendimentos para dependência química, há o propósito do governador de preparar na rede hospitalar leitos que possam ser legados para o atendimento destas situações.
E estamos continuando também o esforço para a regionalização de alguns serviços. Até janeiro de 2007, por exemplo, só tinha cirurgia pelo SUS na Bahia em Itabuna e Salvador. Hoje já temos equipes neurocirúrgicas atuando em Teixeira de Freitas, Vitória da Conquista, Jequié, Barreiras, Feira de Santana, além de Itabuna e Salvador. Na área de cardiologia de alta complexidade, não existia nenhum serviço no interior do estado. Hoje já temos serviços com credenciamento total do Ministério da Saúde em Vitória da Conquista e Itabuna. Já temos serviços, com contratos provisórios com o estado, enquanto não sai o credenciamento total com o Ministério, em Teixeira de Freitas e Feira de Santana, além disso, a partir de março, nós já teremos o contrato com o estado também em Juazeiro, enquanto tramita o convênio com o Ministério da Saúde.
V – Isto é parte um projeto para regionalizar as ações do SUS ou ações específicas do governo do estado?
JS – É parte de um projeto do governo do estado para fortalecer os pólos regionais. Por exemplo, o Extremo Sul da Bahia, cuja sede regional é Teixeira de Freitas, até janeiro de 2007 não tinha nenhum leito de UTI, nenhum serviço de alta complexidade. Hoje, com uma parceira entre governos federal, estadual e municipal, já temos UTI infantil e adulto, UTI neonatal, neurocirurgia, atenção e alta complexidade em cardiologia, com cirurgia cardíaca, tratamento de câncer com quimioterapia, banco de sangue. Este procedimento está sendo feito em várias regiões. Temos um projeto iniciado na gestão passada e que vamos continuar nesta gestão da criação de laboratórios regionais. Já estão funcionando os laboratórios de Bom Jesus da Lapa, Conquista e Senhor do Bonfim. Outros estão em fase de implantação. Temos outro projeto de implantação de 50 unidades de pronto atendimento (UPAS), duas já estão funcionando: Caitité e Vera Cruz e as demais estão em fase de construção e estarão prontas até o final da gestão e farão muita diferença no atendimento.
V- Mesmo com a inauguração de cinco novos hospitais, ainda há críticas quanto às filas e longa espera para atendimento nas emergências. O que a Secretaria tem feito para resolver este problema, principalmente em grandes hospitais, como o Roberto Santos, por exemplo?
JS – Em Salvador nós temos uma situação peculiar, pois é a única entre as 20 maiores capitais que não possui nenhum hospital municipal, nenhum grande hospital privado lucrativo ou filantrópico que realize atendimento de emergência. Então todo atendimento de urgência é feito na rede estadual. E levou 20 anos sem investimento. Nós já triplicamos o número de leitos do hospital Eládio Lasserre, em Cajazeiras, que desde a criação do bairro tinha 50 leitos e que ampliamos para 150 no ano passado.
O governador já anunciou o propósito de construir um hospital para doenças infecciosas também na região, em frente ao Eládio Lasserre.
Nós estamos com o projeto de ampliação do Hospital Roberto Santos, que tem os serviços mais procurados. São mais de 500 pacientes por dia procurando aquela unidade. Então nós estamos já com o projeto aprovado pelo Ministério da Saúde, que deve ser iniciado ainda este ano, provavelmente, e prevê grandes investimentos naquela unidade. A construção de unidade de pronto atendimento logo na entrada, para receber os pacientes com emergências de menor complexidade, um prédio anexo que vai ter toda a estrutura de laboratórios, administração, com áreas paradidáticas, com auditório e salas de aula, porque é uma unidade, que é um hospital do estado, mas que recebe alunos de vários cursos. Vamos ter uma estrutura melhor para isso. Inclusive a UNEB, já está discutindo a criação de um curso de medicina em parceria com o Roberto Santos. E isto tudo aumentaria o número de leitos, pois toda a parte administrativa, que hoje está no prédio principal passaria para o prédio anexo e com isso o hospital ganharia novas enfermarias nos locais que hoje são ocupados pela parte administrativa e ambulatorial. Isso além de um projeto para a construção de um prédio anexo para a verificação de óbito e análise patológica, já que aqui na Bahia a gente ainda não tem um serviço de verificação de óbitos.
Outra unidade que está com projeto em negociação com o Ministério para ampliação é o Hospital São Jorge, no largo de Roma, na Cidade Baixa. Lá nós já reformamos toda a parte térrea. A emergência já está toda nova, equipada, bem estruturada, com o novo desenho no formato previsto pelo Ministério para unidade de pronto atendimento. E já temos um projeto aprovado pelo MS, faltando tramites administrativos para licitar a obra, para a reforma de todo o restante do prédio, onde vão funcionar dois hospitais: um de pronto atendimento com 100 leitos e um hospital dia- cirúrgico com 30 leitos, este inclusive vai ser o primeiro hospital dia- cirúrgico do SUS no nosso estado. Estes são alguns projetos que visam continuar o investimento na saúde no estado, que buscam melhorar a qualidade do atendimento, principalmente no que diz respeito aos serviços de urgência e emergência.
V – E a questão das fundações. A Secretaria tem utilizado as fundações estatais para gerenciamento das unidades? Qual o resultado desta experiência?
JS – Na rede hospitalar nós ainda não estamos trabalhando com fundações. É propósito nosso, inclusive retomar estas discussões. Foi criada uma fundação para a Saúde da Família, que está tendo um resultado muito positivo. E estamos reconstruindo a Bahiafarma também com este formato institucional de fundação estatal. Na área hospitalar, a inovação mais recente, foi assumida na gestão do Hospital do Subúrbio, com o primeiro projeto de Parceria Público Privada (PPP). Ele vai completar agora no meado de março seis meses de funcionamento e a avaliação tem sido extremamente positiva. Inclusive por parte dos usuários que são lá assistidos.
Eu defendo o uso de fundações para o gerenciamento de hospitais, mas ainda não utilizamos este modelo aqui na área hospitalar, diferentemente de outros estados, como Sergipe e Rio de Janeiro, que já estão mais avançados nesta área.
V- E sobre a situação da saúde em Salvador, com essas recentes manifestações dos profissionais da área de saúde por conta de atrasos salariais e condições inapropriadas de trabalho, afora o troca-troca de secretários – o último ficou apenas dois meses. Como o estado tem ajudado Salvador a resolver as questões geradas pela instabilidade na área de saúde?
JS – Nós temos ajudado. Inclusive temos ajudado na questão de serviços, que vem enfrentando algumas dificuldades. A mais de dois anos que o estado contrata cirurgias pelo SUS aqui em Salvador, utilizando recursos do Tesouro estadual, coisa que não é obrigação do estado. Porque é o município que recebe o recurso é o responsável por contratar serviços privados de forma complementar. Mas, devido á carência e a dificuldade de recursos, o estado tem assumido este ônus. Temos contribuído com a construção da rede municipal. Das 400 unidades construídas, 12 foram aqui em Salvador, inclusive unidades com um porte maior do que em outros municípios. Temos uma relação de parceria em diversos projetos. Temos acompanhado de perto as ações de combate a dengue, inclusive já tem mais de dois anos que a gente coloca equipes do Corpo de Bombeiros, remuneradas pelo estado, para reforçar o combate à dengue. No próximo final de semana estará vacinando a os jovens contra a meningite meningocócica. Ou seja, são diversas ações para ajudar a prefeitura na área de saúde.
De Salvador,
Eliane Costa