Dilma x Lula: pseudojornalismo para idiotas autênticos
Na site da revista IstoÉ, a prova de que a grande imprensa se dedica hoje a um filão cadente da opinião pública, mas que ainda tem carne nos ossos para uns sujeitos que se crêem muito espertos explorarem. Um dos editores da revista tratou de escrever uma das peças mais inacreditáveis que já li.
Publicado 14/02/2011 09:58
O nome do jornalista é Leonardo Attuch. Para quem não se lembra, há alguns anos entrevistou a ex-secretária do publicitário Marcos Valério, envolvido nos mensalões petista e tucano.
A secretária que esse jornalista entrevistou foi Fernanda Karina Somaggio, de quem conseguiu arrancar algumas acusações contra o PT que jamais foram provadas. Depois de aparecer até no Jornal Nacional, a oportunista pediu 2 milhões de reais à Playboy para posar nua. A revista, obviamente (vide foto acima), recusou a oferta.
Mas, desta vez, em vez de fazer a felicidade de oportunistas, Attuch resolveu fazer seus leitores de idiotas completos com um textinho sem pé nem cabeça em que inverte tudo o que se sabe sobre o processo que redundou na eleição de Dilma Rousseff.
Sob o título “Ciúme precoce”, juntou-se a esse exército de colunistas de grandes meios de comunicação que acham que podem vender à sociedade a idéia ridícula de que Lula estaria triste porque Dilma estaria agradando mais do que o padrinho político.
Algumas passagens do texto serão mais do que suficientes. Irei reproduzindo e comentando cada um desses trechos que selecionei e que, com um pedido de desculpas pela insalubridade intelectual, terei que fazer o paciente leitor encarar.
Attuch — Terá ele [Lula] percebido que o governo Dilma poderá ser melhor do que o seu? Ou que a opinião pública aprecia mais o estilo discreto da presidente do que a verborragia lulista?
De onde Attuch tirou essa informação?, perguntará o leitor. De alguma pesquisa de opinião? Não, não tirou. Não existe qualquer base para sua afirmação de que Dilma esteja agradando mais ou menos do que Lula. Tirou de sua cachola? Tampouco. Tirou, isso sim, das páginas impressas ou virtuais de Globos, Folhas, Vejas e Estadões. Só isso. E apresentou como fato.
Attuch — Com menos de 45 dias de governo, Lula já tenta se apropriar do provável êxito de sua sucessora. E talvez só agora ele tenha percebido que não elegeu um poste, mas alguém com estilo e com idéias próprias.
Sobre Lula tentar se apropriar do que ainda não existe – e que espero que venha a existir, porque votei em Dilma –, não vale nem comentar. Mas sobre ele achar que a candidata que indicara era um poste, aí não tem jeito: há que rir. A mídia passou dois anos dizendo que ela era um poste e que não se elegeria e Lula passou todo esse tempo dizendo o contrário. E agora é ele quem a achava “um poste”.
Attuch — O ciúme precoce [de Lula] é até compreensível. Depois de oito anos usufruindo o fausto poder, não é nada simples se acostumar com o anonimato e com a vida de cidadão comum.
Deixemos a parte mais idiota de lado e concentremo-nos na mais inacreditável: Lula no anonimato? Quando foi que isso aconteceu? Quem acredita em que acontecerá? Como poderia ter mergulhado no anonimato se os Attuchs da imprensa golpista não esquecem dele um só dia mesmo depois que deixou o poder?
Attuch — O fato é que Dilma tem agradado por razões que vão muito além do fato de ter a caneta presidencial. Sua política externa é bem mais equilibrada do que a de Lula, a gestão fiscal é responsável – note-se o corte de R$ 50 bilhões em despesas.
Uau! Em quarenta dias ele já pode fazer decretos sobre a “política externa” de Dilma. Com base em que? Em duas ou três declarações dela sobre o assunto. Nossa, que mudança, não!? E corte de despesas, quando Lula fazia era “rendição ao neoliberalismo”.
Attuch — A reabertura da discussão sobre a compra dos caças para a Aeronáutica, com foco na transferência de tecnologia para a aviação civil, sinaliza uma postura mais pragmática do que ideológica.
Vejam bem: Lula poderia ter tomado a decisão, mas adiou e deixou para Dilma justamente porque achava que o assunto precisaria ser melhor estudado. E a exigência de transferência de tecnologia foi sempre o cerne da questão. Mas o Attuch atocha essa imbecilidade em seu leitorado idiota.