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Política econômica conservadora impede a valorização do mínimo

O pano de fundo da batalha política em curso sobre o novo valor do salário mínimo é a política econômica conservadora, na opinião do presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes. “É em nome dela que se nega o aumento real”, argumenta o sindicalista em entrevista concedida nesta quarta-feira (9) ao Vermelho.

- Arquivo CTB
Wagner sustenta que as centrais não vão recuar. “Já que a presidente Dilma fechou as portas à negociação do tema vamos pressionar o Congresso e intensificar a mobilização das bases”, afirmou. Na próxima terça-feira (15), os sindicalistas prometem realizar uma concentração no auditório Nereu Ramos da Câmara Federal, em Brasília, pelo mínimo de R$ 580 (o governo propõe R$ 545). No mesmo dia, o presidente da CTB vai se reunir com as bancadas do PSB e PCdoB no Congresso para esclarecer a posição das centrais e pleitear a solidariedade dos parlamentares à luta dos trabalhadores.

 

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Confira a entrevista:

Vermelho: O que levou o governo a encerrar as negociações com as centrais sobre o salário mínimo?

Wagner Gomes: A avaliação que a CTB e também as outras centrais fazem é que a equipe econômica do governo Dilma prioriza o pagamento de juros em vez de investir na produção, no crescimento e na valorização do salário mínimo. Nós estamos convencidos de que a raiz do problema é este, ou seja, é a política econômica baseada no superávit primário, câmbio flutuante e juros altos que colide com as demandas dos sindicatos. Os juros consomem mais de um terço do orçamento público e como a verba é limitada o governo corta outras despesas para encher o bolso dos rentistas. O salário mínimo entra nesta conta, mas os problemas não ficam aí. A política econômica conservadora joga contra o desenvolvimento nacional e pode levar o país à estagnação.

Vermelho: E existe alternativa? Qual a proposta do movimento sindical?
WG: O governo e os economistas ligados ao sistema financeiro dizem que não há alternativa. A ideologia que o mercado vende é esta, apresentada como verdade absoluta. Mas nós não concordamos. Sabemos que existem alternativas. É notório, por exemplo, que em muitos países a taxa de juros é bem mais baixa que no Brasil, que pratica os juros reais mais altos do mundo. A China e outras nações controlam o câmbio e o fluxo de capitais. A atual política econômica ainda tem um forte viés neoliberal e não é tão racional quanto se imagina. A única explicação plausível para sua manutenção são os interesses da oligarquia financeira, pois não restam dúvidas de que ela promove uma perversa e brutal transferência de renda em prol dos credores.

Defendemos a mudança da política econômica, com redução das taxas de juros, fim do superávit primário, controle do câmbio e do fluxo de capitais, incluindo remessas de lucros e dividendos. Entendemos que a valorização do trabalho, e especialmente do salário mínimo, é essencial. A experiência dos últimos dois anos evidenciou o papel notoriamente positivo do aumento real do salário mínimo para o crescimento econômico. Todos reconhecem hoje que a valorização do mínimo contribuiu decisivamente para amortecer os impactos da crise mundial do capitalismo no Brasil, pois fortaleceu o mercado interno e compensou, em grande medida, a dramática queda das exportações.

Vermelho: Representantes do governo alegam que as centrais estão rompendo o acordo em torno da política de valorização do mínimo, que reajusta o salário de acordo com a evolução do PIB de dois anos atrás. Uma vez que não teve crescimento em 2009 não se justificaria aumento real.

WG: É uma cortina de fumaça. O problema não é o acordo, mesmo porque o ex-presidente Lula e a presidente Dilma prometeram pessoalmente às seis centrais que em 2011 haveria um aumento real do mínimo, apesar da estagnação do PIB em 2009. Este acordo verbal ocorreu durante a campanha, em São Paulo, no dia 13 de outubro de 2010, em São Miguel Paulista. A verdade é outra. É a política econômica conservadora que impõe cortes no orçamento e impede a valorização do salário mínimo [o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou hoje redução de R$ 50 bilhões nos gastos públicos].

A política econômica conservadora não começou com Dilma, mas imaginávamos que o novo governo seria mais sensível à necessidade de mudança neste terreno. Infelizmente, não é o que se verifica.

Vermelho: Quais os próximos passos nesta luta?
WG: Uma vez que o governo fechou as portas à negociação vamos para o Congresso fazer a disputa política. Acredito que o salário mínimo é um divisor d´água e que não é apenas um problema sindical. A peleja em torno do seu valor em 2011 revela o caminho que o governo pretende seguir e com o qual não concordamos, somos contra. Nossa luta não se resume ao mínimo. Queremos uma política econômica que prioriza a produção, o desenvolvimento e a distribuição de renda. Batalhamos por um novo projeto nacional de desenvolvimento, com soberania, democracia e valorização do trabalho.

Na terça-feira (15), a convite da deputada Ana Arraes (PSB-PE), debaterei o tema com a bancada do Partido Socialista na Câmara Federal. Depois pretendo conversar com os deputados do PCdoB. No mesmo dia, as seis centrais realizarão uma concentração no auditório Nereu Ramos para pressionar os parlamentares. Vamos intensificar o processo de mobilização e conscientização das bases, que já foi deflagrado com as paralisações promovidas pelos metalúrgicos de São Paulo. Uma coisa é certa. A luta continua. Não vamos capitular à pressão do Planalto.

De São Paulo, Umberto Martins