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Estados Unidos temem ascenso da Irmandade Islâmica no Egito

Após uma semana de hesitação para decidir o que fazer em relação ao seu aliado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, desentendeu-se com o chefe de Estado egípcio Hosni Mubarak, pressionado por protestos sem precedentes em mais de três décadas de governo.

Após o discurso de Mubarak em que ele anunciou sua decisão de permanecer no poder até as próximas eleições, em setembro, Obama disse que a transição do país do Nilo "deve começar agora”, ainda que sem pedir explicitamente a renúncia de Mubarak.

"O que está claro e expressei hoje ao presidente Mubarak, é que eu acho que uma transição ordenada deve ser significativa, deve ser pacífica e deve começar agora", disse o presidente estadunidense.

O debate é: Obama errou ao não pedir que Mubarak saia rapidamente? Os Estados Unidos devem abandonar à própria sorte outros sistemas similare? É o que pergunta o veículo The Washington Post.

Medo do islã

Veículos da mídia nacional destacam a preocupação que desperta na classe política norte-americana o futuro dessa nação norte-africana com uma população superior a 80 milhões de habitantes e cujo Poder Executivo é considerado uma fortaleza na luta contra "o movimento islâmico".

Até agora, tanto os líderes democratas quanto os republicanos no Congresso permanecem em silêncio e apenas apoiam as ações de Obama, uma das poucas questões que parecem ser acordo entre os dois partidos nos últimos anos.

No entanto, nem todos os políticos são tão cautelosos, muitos se somam às vozes que pedem a renúncia. Em um artigo de opinião no The New York Times, o democrata John Kerry disse Mubarak deve se afastar para permitir uma transição pacífica.

"A ação mais acertada para o governante é anunciar que nem ele nem seu filho irão concorrer à presidência", disse também o ex-candidato à Casa Branca.

"Mubarak não pode tomar medidas drásticas outra vez, como fez ao impor as forças de segurança e ao bloquear o acesso à Internet; ao contrário, terá que sair", disse, por sua vez, o senador Bill Nelson.

Democratas e republicanos

Ex-governador de Massachusetts e um dos possíveis candidatos republicanos à Casa Branca em 2012, Mitt Romney se juntou ao coro dos que pedem a renúncia.

Postura similar anunciou o eventual candidato republicano Tim Pawlenty, ex-governador de Minnesota. Por sua vez, os deputados democratas Gary Ackerman e Dennis Kucinich apelaram ao governo para suspender a ajuda para o Cairo.

Entretanto, a mídia e os analistas começam a agitar o fantasma da islamização do Egito, uma questão muito sensível para o país desde os atentados terroristas de 11 de setembro.

Irmandade Muçulmana

Este é um assunto de grande preocupação para a Casa Branca, especialmente a possibilidade de que a Irmandade Muçulmana assuma um papel primordial na era pós-Mubarak, por sua política anti-israelita e pelos seus projetos de implementar a Sharia (lei islâmica), comenta o diário digital Politico.com. "No entanto, ignorar esse grupo, com raízes profundas na terra dos faraós, poderia minar a credibilidade dos Estados Unidos na região", acrescenta.

Diante da realidade, o Salão Oval parece ter flexibilizado a sua posição e, portanto, estaria disposto a dialogar com a Irmandade Muçulmana. "É claro que uma maior democratização no país deve incluir as organizações religiosas", disse esta semana o porta-voz de imprensa da Casa Branca, Robert Gibbs, embora sem mencionar nomes.

Estado islâmico

No entanto, Daniel Kurtzer, ex-embaixador dos Estados Unidos no Egito e em Israel, pediu cautela ao considerar que desde a sua fundação, em 1928, o objetivo final da Irmandade é a implementação de um Estado islâmico.

"Não devemos ter medo desta organização, é a maior da oposição e ignorá-la terá consequências muito piores", disse no jornal USA Today o analista Lionel Beehner.

Os protestos egípcios também têm consequências incalculáveis no Oriente Médio e no norte da África, onde já se acumulam manifestações e as crises do Iêmen, da Tunísia e da Jordânia, que poderiam causar graves perturbações a Washington, dada a sua estratégica importância econômica e militar.

Amigos de Israel

Além disso, o Egito, junto com a Jordânia, é o único país árabe que mantém relações diplomáticas com Israel, principal aliado e receptor de ajuda militar e econômica dos Estados Unidos no mundo.

Na verdade, acompanha-se de perto a situação egípcia a partir de Tel Aviv, onde a classe política teme um isolamento ainda maior e o fim dos acordos de paz de Camp Davis, assinados em 1979 e amplamente criticados no mundo árabe, pelas concessões feitas ao Estado sionista.

Fonte: Prensa Latina, por Roberto Castellanos
Tradução: Luana Bonone