Alckmin e Kassab ignoram apelos de Serra e se aproximam de Dilma
O ex-governador José Serra está prestes a sofrer mais uma derrota dentro do PSDB. Depois de perder as eleições presidenciais de 2010 para Dilma Rousseff, rachar a oposição demo-tucana e se ver isolado na disputa pela direção do partido, Serra tampouco emplacou sua orientação de que PSDB e DEM precisam fazer uma oposição mais acirrada e implacável ao governo federal.
Publicado 31/01/2011 12:35
É em São Paulo — estado do ex-governador e principal reduto da oposição — que as palavras de Serra soam mais inúteis. Tanto o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB), quanto o prefeito da capital, Gilberto Kassab (DEM), dão sinais claros de que aceitam ser parceiros da gestão da presidente eleita, Dilma Rousseff.
Desde o começo do ano, Serra tem pressionado tucanos e “demos” a endurecer o contraponto a Dilma. De acordo com a avaliação serrista, os 43% dos votos que recebeu nas eleições são “votos de oposição” e que esse eleitorado vai querer dele e do PSDB um firme contraponto ao governo. Na opinião de aliados de Serra, o partido não foi combativo no confronto com o governo Lula e, na campanha eleitoral, ainda fez uma oposição “frufru”, dizem, repetindo expressão usada pelo ex-governador paulista.
O futuro político de Serra é incerto, mas ele sabe o que quer: em 2014, disputar a Presidência da República pela terceira vez ou o governo de São Paulo, o qual ele ocupou de janeiro de 2007 a abril de 2010. Em qualquer um dos casos, espera fazer dobradinha com Alckmin — um concorrendo ao Palácio do Planalto e o outro, ao dos Bandeirantes.
Em seu cálculo, ambos estarão igualmente fortes no estado em quatro anos — e seus projetos estarão necessariamente vinculados. Visto hoje, porém, é projeto quase impossível. Primeiro, porque o senador eleito Aécio Neves (MG) representa a expectativa de poder no PSDB e não está disposto a abrir mão de disputar a próxima eleição para a Presidência. Segundo, por causa da afinidade entre Alckmin e Aécio. Terceiro, porque vários setores do partido, não só de Minas Gerais, estão cansados da hegemonia paulista no PSDB e defendem um candidato não-paulista a presidente.
Aécio está decidido a não abrir mão de ser o próximo candidato a presidente do PSDB e a barrar ofensivas de Serra desde já. Para começar, trabalha para impedir que o ex-governador suceda o senador Sérgio Guerra (PE) na presidência do partido a partir de 2011. O receio é que, uma vez presidente do PSDB, Serra torne fato consumado uma nova candidatura sua ao Planalto.
Problemas em SP
Serra, de todo modo, não conseguiu sequer sensibilizar Alckmin para seu projeto, nem mesmo o “pupilo” Kassab. À frente do maior colégio eleitoral comandado pela oposição, Alckmin reservou para sua agenda diversas reuniões com integrantes do governo federal.
Na primeira semana do mandato, pouco após receber o vice-presidente, Michel Temer, o governador defendeu a aproximação com a gestão Dilma. "Quero reiterar o nosso compromisso de sermos parceiros", disse Alckmin à imprensa, reforçando o discurso que fez ao tomar posse — e ignorando Serra solenemente.
Uma semana depois, o governador reuniu representantes de sete centrais sindicais, sinalizando que pretende dialogar com o movimento — uma clara demarcação de postura com seu antecessor, Serra. Alckmin também se encontrou com o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e recebeu os ministros da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, da Saúde, Alexandre Padilha, e do Esporte, Orlando Silva.
Em paralelo, secretários estaduais se reuniram com ministros, como o secretário de Desenvolvimento Metropolitano, Edson Aparecido, que se encontrou com o ministro das Cidades, Mário Negromonte, e o de Desenvolvimento Social, que pediu recursos à ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. Segundo esses secretários, Alckmin lhes determinou que busquem recursos junto à União para investimentos no estado.
A luta de Kassab pela sobrevivência
Além de buscar uma relação mais amena com o governo Dilma, diferente da que teve em sua gestão anterior com Lula, Alckmin também acena a Kassab. Nesta segunda-feira (31), secretários estaduais e municipais devem se reunir no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para iniciar a construção de projetos em comum.
Mas é o prefeito que dará o passo mais ousado para se distanciar de Serra e da oposição. A aliança entre Kassab e o ex-governador, forjada na eleição municipal de 2004 e repetida com sucesso na disputa de 2008, começa a dar os primeiros sinais de esgotamento. Com "os dois pés no PMDB", segundo definiu um aliado, o prefeito tem se aproximado cada vez mais do governo federal e está prestes a integrar a base aliada à Dilma.
O movimento de Kassab acontece no momento em que Serra aumenta o tom das críticas à gestão Dilma, até como forma de se cacifar na condição de principal liderança da oposição. Herdeiro político de Serra ao assumir a prefeitura de São Paulo em 2006 — quando o tucano renunciou ao cargo para disputar o Palácio dos Bandeirantes —, Kassab articula a ida para o PMDB pelas mãos de Michel Temer.
"Ele vem com o apoio total e irrestrito do governo Dilma", afirma um peemedebista. "A única dificuldade é tocar isso com o Serra", desabafou o prefeito a um interlocutor. No domingo, Kassab admitiu que poderá usar uma adulteração do estatuto partidário como justificativa para trocar o DEM pelo PMDB. Nesse caso, ele se valeria de uma manobra do presidente nacional do partido, Rodrigo Maia (RJ), para reduzir seu espaço dentro do partido.
Em 2007, Maia alterou artigo do estatuto que conferia ao conselho político do DEM poder de "decidir" sobre coligações e "indicar" candidatos a presidente e vice. Ele trocou "decidir" por "recomendar" e "indicar" por "propor", alegando que o conselho é "consultivo e não pode deliberar no lugar das convenções". Como é presidente do conselho, Kassab pode alegar que foi prejudicado pela mudança. O prefeito reconheceu que "essa é uma das hipóteses, caso decida mesmo mudar de partido".
Até 2010, Kassab se manteve leal a Serra, abrigando até, em seu secretariado, serristas "expatriados" do governo por Alckmin. Mas a fidelidade do prefeito ao projeto tucano no estado se tornou um empecilho ao futuro político de ambos. Uma vez no PMDB, Kassab pretende disputar o Palácio dos Bandeirantes em 2014. Ocorre que Alckmin é candidato natural à reeleição e não pretende ver o afilhado de Serra disputando espaço com ele nos próximos quatro anos.
De seu lado, em busca da sobrevivência política, num momento em que os aliados de Aécio tentam isolá-lo no partido, Serra procura jogar alinhado com Alckmin. A ala serrista favorável a uma aliança Serra-Alckmin em 2014 para derrotar o grupo mineiro sugere que Kassab possa ficar com a vaga de vice-governador ou com uma cadeira no Senado.
De acordo com essa lógica, para manter a aliança com os tucanos, Kassab teria de enterrar o sonho de disputar o governo paulista em 2014. Lideranças do PSDB, no entanto, veem com desconfiança uma aliança Serra-Alckmin. "Alckmin é de escorpião, não dá para saber nunca o que ele está pensando", diz um dos principais nomes do partido, para quem o governador atua "com um pé em cada canoa".
Da Redação, com agências