Depois de pesquisas, Instituto não reconhece Mata Atlântica no PI

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio, não reconhece a região da Serra Vermelha/Serra das Confusões como Mata Atlântica. Segundo sua coordenadora no Piauí, a mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Eugênia Medereiros, para enquadramento de determinada região em um bioma necessitamos de similaridades geoclimáticas, sendo que os fatores ambientais relacionados a distribuição das chuvas, solo e altitude são imprescindíveis para a definição de seus limites.

De acordo com a coordenadora, que durante anos atuou no IBAMA, desde a criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, em 1979, os estudos apontavam para a importância não só arqueológica como ambiental daquela região. Ela ressalta que a  doutora em fitossociologia, Laure Emperaire,  durante 8 anos estudou a flora para o plano de manejo do referido Parque apontando tratar-se de uma caatinga arbórea densa, remanescente de floresta estacional semidecidual, com  12 extratos arbóreos diferentes de cobertura vegetal.  “A falácia de que a região é Mata Atlântica, desqualifica e desconhece a importância do bioma da Caatinga, o único exclusivamente brasileiro e adaptado às condições de semi-aridez do clima nordestino.
 
A pergunta é: a quem serve o discurso de que alí é Mata Atlântica, os estudos não apresentados, os autores Sem sobrenome e as fotos  de outros lugares para enganar quem verdadeiramente nunca esteve naquela área?”,indaga Eugênia Medeiros.
 
A coordenadora em conversa com o secretário estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Dalton Macambira, mostrou-se indignada com as notícias que circularam em mídia local e nacional, pontuando que existe mata atlântica no Piauí e pouco está se fazendo para preservar. 
Segundo o professor Doutor Alberto Jorge, da Universidade Federal do Piauí, “temos que nos pautar em pessoas que pesquisaram, realizaram estudos sobre esses temas. Estudos feitos por professores doutores da Universidade Federal do Piauí e da Universidade Federal do Ceará encontraram cinco gêneros de plantas comuns aos dois biomas, mas infelizmente nenhuma espécie. Gostaríamos de ver a lista das espécies encontradas pelos estudiosos da Mata Atlântica feitos no Piauí, como também a comprovação da existência de solos, precipitações pluviométricas e temperaturas com influencia do Atlântico, imprescindíveis para o Bioma da Mata Atlântica.
 
Para o professor, doutor em Botânica, que pesquisou durante muito tempo aquela região, seus estudos, pesquisas e considerações podem ser vistas no site  (www.bioten.bio.br). “Já me manifestei por diversas vezes sobre o assunto, infelizmente a voz de técnicos e especialistas não ecooa como a de "ambientalistas" que  com falsas verdades e oportunisticamente desconstroem e desconhecem o trabalho de conservação da biodiversidade que vem sendo feito no Piauí, hoje com mais de dois milhões de hectares protegidos na forma de Unidades de Conservação”, acrescenta Eugênia Medeiros.
 
Eugênia Medeiros disse que o status de conservação da Mata Atlântica de um patamar de cerca de 5% para 27% com a inclusão das áreas do mapa do IBGE e que tal fato é de grande reconhecimento internacional,  ficando mais fácil o financiamento de projetos por organismos internacionais para as ONG's que atuam no sul e sudeste do país e que não tem projetos para o nordeste. 
 
O Art.2º da  Lei 11.428 que regulamente o Art. 225 da Constituição Federal, destaca que para efeitos desta Lei, considera-se integrante do Bioma  Mata Atlântica as seguintes formações nativas e ecossistemas associados, com as respectivas delimitações estabelecidas no mapa  do IBGE, conforme regulamento: Floresta Ombrófila Densa; Atlântica, Floresta Ombropfila Mista, também denominada de Mata de Araucárias; Floresta Ombrófila Aberta; Floresta Estacional Semidecidual; e Floresta Estacional Decidual, bem como os manguezais, as restingas, campos de altitude, brejos interioranos e encraves florestais do Nordeste.
 
No mapa do IBGE elaborado em 2004, a área não se estende até o sudeste do Piauí. Todos os documentos e mapas do MMA que fazem referência àquela área o fazem como Caatinga e área de transição Caatinga/Cerrado, inclusive os que tratam de sua prioridade para conservação.
 
Aqui relevamos a importância do bioma Caatinga com as suas fitofisionomias características e adaptadas ao semi-árido o qual deve ser tratado com o mesmo grau de importância que os demais biomas brasileiros,principalmente nos dias de hoje quando passamos por profundas mudanças climáticas, preservar a caatinga que é resistente e adaptado a baixas precipitações e a altas temperaturas, deveria ser prioridade nacional.
 
Acerca da ampliação do Parque Nacional da Serra das Confusões, O ICMBio esclarece que o processo foi aberto ainda no IBAMA. A pretensão inicial era estender sua área em mais uns cem mil hectares, com vistas à conservação do maciço ainda preservado de caatinga arbórea. Passados mais de três anos, o avanço dos estudos realizados e o processo de negociação com as comunidades locais e o Governo de Estado do Piauí, com acompanhamento da SEMAR, levaram a anexação de mais de trezentos mil hectares, incluindo mais de 50% da área da JB Carbon e chegando até os limites da APA Estadual do Rangel.
 
“Ampliar o Parque Nacional da Serra das Confusões em mais de trezentos mil hectares não pode ser considerado um desserviço, mais sim uma missão cumprida na preservação do bioma da Caatinga, que eleva o seu patamar na conservação para cerca de 10%, desserviços presta quem não considera a importância da Caatinga  como patrimônio nacional querendo forçar seu enquadramento como outro bioma. Trabalhamos hoje na perspectiva de ver o Parque implantado com a construção de sua infra-estrutura para recepção ao turista para que a população daquela região possa ter opção de desenvolvimento econômico que não seja a exploração dos recursos naturais” conclui Eugênia Medeiros.

Fonte: Semar