Globo e Estadão lideram ofensiva contra as centrais sindicais
A reação das centrais sindicais ao valor do salário mínimo proposto pelo governo, não correção da tabela do IR dos assalariados e elevação das taxas de juros pelo Banco Central motivou comentários venenosos da mídia hegemônica, que revela uma atávica ojeriza às lutas e aos representantes da classe trabalhadora.
Por Umberto Martins
Publicado 20/01/2011 19:34
Na quarta-feira (19), ao comentar na rádio CBN (das Organizações Globo) as manifestações, pacíficas, realizadas no dia anterior pelo movimento sindical em 20 Estados por um salário mínimo de 580 reais, a jornalista Lúcio Hipólito (tucana de carteirinha e famosa pela análise embriagada e surrealista que fez sobre Lula e o Plano Nacional de Direito Humanos), acusou os líderes sindicais de truculentos, disse que estavam ameaçando a presidente e colocando o governo numa situação constrangedora.
Centrais ameaçam Dilma?
No mesmo diapasão, o jornal “O Estado de São Paulo”, porta-voz das forças conservadoras que na campanha presidencial teve a coragem de declarar abertamente seu apoio a José Serra, dedica seu principal editorial da edição desta quinta-feira (20) ao tema. O título é altamente sugestivo do conteúdo do texto: “As centrais ameaçam Dilma”.
Mas, afinal, onde está a ameaça? Rezem os costumes, leis e regras da democracia, e mesmo do bom senso, que é sagrado o direito do povo protestar de forma pacífica e levantar suas bandeiras, que em geral têm caráter progressista, nas praças, ruas e avenidas.
Isto nunca constituiu ameaça alguma a governos democráticos (como é o caso), muito embora as classes dominantes se incomodem diante de toda e qualquer manifestação dos trabalhadores, conscientes de que seus interesses estão quase sempre em contradição e choque com os do povo. E é este efetivamente o caso.
A hilariante e o carrancudo
Tanto a hilariante Hipólito como o carrancudo “Estadão” pinçaram algumas declarações mais enérgicas dos sindicalistas contra a atual política econômica (e seus juros altos, ajuste fiscal e câmbio flutuante), proferidas no calor da manifestação realizada terça-feira (18) em São Paulo (na Avenida Paulista), para incompatibilizá-los com a presidente. Quem não está informado sobre o tema é induzido a julgar que o jornalão da família Mesquita apoiou Dilma e os sindicalistas ficaram na oposição durante a campanha presidencial de 2010.
Ao longo da história brasileira, a direita e sua mídia nunca foram tolerantes com os movimentos sociais. Aparentemente, sentem a terra tremer sob seus pés quando se tem notícia de mobilização popular. Deram o golpe em 64 jurando que estavam destruindo a “república sindicalista” e só não repetiram o feito em 2005, durante o governo Lula, porque as condições eram outras e não lograram reeditar a sombria marcha da família com deus pela liberdade.
Valorização do trabalho e desenvolvimento
Mais que legítima e democrática, a manifestação do movimento sindical é orientada por uma causa justa, popular e progressista, identificada com os anseios nacionais traduzidos nos resultados do pleito presidencial de 2010, que rechaçaram a candidatura neoliberal de José Serra, apoiada pelo “Estadão” e pela hilariante Hipólito.
A valorização do salário mínimo não é uma ameaça para o Brasil, muito pelo contrário, está em sintonia com o projeto (defendido pelos sindicalistas) de desenvolvimento nacional com distribuição de renda. O mesmo se pode dizer em relação à correção da tabela do Imposto de Renda dos assalariados, a redução da jornada de trabalho e outras bandeiras.
Ao se analisar com isenção a evolução da economia durante os governos Lula, especialmente no segundo mandato, não é difícil enxergar os efeitos positivos da valorização do trabalho para o desenvolvimento nacional. O aumento real concedido ao salário mínimo, em particular, é apontado por muitos economistas como o grande atenuante da crise mundial do capitalismo. As exportações desabaram, mas o mercado interno, fortalecido pelo consumo acrescido dos trabalhadores e trabalhadoras, limitou os efeitos da recessão e assegurou uma rápida saída da crise.
Na contramão dos interesses nacionais
Os movimentos sociais, e as maiores centrais (sem exceção), apoiaram Dilma na expectativa de novas e maiores mudanças. Levantaram a bandeira do novo projeto nacional com soberania e valorização do trabalho e demonstram coerência com seus princípios ao mobilizar os trabalhadores em defesa das suas reivindicações e dos interesses maiores da nação, que não se realizam sem crescimento e justiça social e nem são compatíveis com a ideologia e a política neoliberais.
A verdadeira ameaça ao governo Dilma não provém das centrais sindicais, mas da velha direita, amarrada aos interesses da oligarquia financeira, que não esconde seu horror diante do protagonismo político da classe trabalhadora e insiste em demonizar e criminalizar as lutas sociais. Trata-se de uma oligarquia reacionária que caminha na contramão dos interesses nacionais.
Os representantes desta direita foram derrotados no pleito presidencial, mas querem manter o governo refém do capital financeiro, nacional e internacional, aprisionado a uma política econômica de viés neoliberal que, em passado recente, condenou a economia nacional a mais de duas décadas de estagnação. Aí é que reside o perigo, daí emana ameaça que ronda o governo Dilma e que pode levar ao estrangulamento da esperança de mudanças que alimenta o imaginário do povo brasileiro e as lutas dos movimentos sociais.