Apóllo Natali: Perguntar ofende, sim

Essa leitura tem o dom de fazer com que alguns entrevistadores de TV pensem antes de fazerem perguntas, desculpem o termo, idiotas, como a que foi feita para uma mulher cuja casa desabou com as chuvas. "O que a senhora está sentindo, agora que a senhora perdeu sua casa?", teve a bárbara coragem de perguntar o entrevistador. "Ah, estou muito feliz agora que perdi minha casa e minhas coisas e não tenho para onde ir" seria a resposta que o entrevistador queria ouvir? A mesma pergunta tem sido feita sempre que uma mãe perde um filho, quando uma criança é abusada, o barraco pega fogo, matam um membro da família: o que você está sentindo? Essa pergunta ofende, no mínimo, o professor que se mata de dar aulas de Jornalismo.

Agradando gregos e coreanos

Esse tipo de pergunta, abominado até por quem nunca ouviu falar em comunicação, é de autoria das gerações de jornalistas do tempo da obrigatoriedade do diploma. Tendo o Supremo Tribunal Federal (STF) acabado com a escola de imprensa neste nosso país amplamente iletrado, agora, sim, é que notórias grosserias e erros jornalísticos de quem não frequenta escola (estou usando palavras de Alberto Dines) vão integrar a história acachapante das raízes do Brasil.

Entre as divertidas perguntas – divertidas mas irritantemente ofensivas à inteligência de qualquer asno –, destaco uma do José Nello. Uma repórter de TV correu esbaforida atrás de um bombeiro que esticava a mangueira até o fogo e, resfolegando, lançou a pergunta que ofende a gregos e troianos: "O senhor vai jogar água no fogo?" Por falar em gregos e troianos, vi na TV uma jornalista falar que alguém não conseguiu agradar a gregos e coreanos.

Perguntar Ofende, de José Nello Marques, é a salvação da lavoura.

*Apóllo Natali é jornalista.

Fonte: Observatório da Imprensa