Patinhas: “O PCdoB prega a unidade das forças de esquerda”
O PCdoB foi um dos partidos convidados para participar do “1º Seminário Repensando os Tradicionais Partidos de Esquerda por Eles Mesmos”, realizado por professores e alunos da Universidade Estadual do Ceará (UECE). O debate que aconteceu na quinta-feira (13), no Centro de Humanidades da UECE, trouxe como questão central a reflexão sobre os espaços políticos dos partidos tradicionais de esquerda no quadro atual brasileiro.
Publicado 14/01/2011 12:34 | Editado 04/03/2020 16:32
Os principais partidos de esquerda do Brasil foram convidados para falar sobre suas ideias. O PCdoB, partido quase centenário, foi o tema dos debates. Carlos Augusto Diógenes (Patinhas), presidente estadual do Partido, foi o debatedor e abordou temas como a trajetória da legenda, as dificuldades, os avanços e os desafios dos comunistas brasileiros desde sua fundação no Brasil.
Patinhas parabenizou professores, estudantes e Universidade pela iniciativa de promover o seminário. “Esta é uma forma aberta que temos de construir este debate, buscando opinar, contribuir de maneira aberta, fraterna e construtiva para o fortalecimento dos partidos políticos. Este encontro será importante para nós também, pois estamos fortalecendo nossa ligação com a Universidade, com as pessoas que pensam e estudam a realidade política brasileira. Será um caminho de mão dupla porque também aprenderemos com vocês”.
História
O dirigente comunista iniciou sua apresentação falando sobre a fundação do Partido no Brasil. “Nascemos de uma corrente comunista, fundada por Karl Marx. Já construímos aqui uma longa história. Nossa fundação foi em 1922. Neste ano, no dia 25 de março, completaremos 89 anos de luta”. A criação do Partido Comunista do Brasil surgiu como consequência do movimento operário que se desenvolvia no país na época e sua criação teve influência da Revolução Russa, ocorrida em 1917.
Segundo Patinhas, o PCdoB sempre carregou a marca da defesa da liberdade política. “Em março completamos 89 anos de fundação. Destes, durante 61 anos fomos impedidos de falar livremente para o povo, fazer isso que estamos fazendo aqui. Enfrentamos momentos difíceis e só conseguimos a legalidade em 1985, com o fim do regime militar. Na maior parte da nossa trajetória, atuamos na clandestinidade”, recorda.
O PCdoB, segundo Carlos Augusto, sempre defendeu bandeiras da liberdade e do nacionalismo. “Fomos também o primeiro partido político a defender a reforma agrária e o direito dos trabalhadores, por exemplo. Temos orgulho da nossa trajetória permeada de acertos e erros, avanços e recuos”, avalia.
Novo modelo socialista
Em 1989, poucos anos após a legalidade, o PCdoB encarou um momento delicado na sua história. “Vivíamos num mundo bipolar, onde Capitalismo e Socialismo, Estados Unidos e União Soviética duelavam. Estávamos saindo da clandestinidade e ainda vivíamos resquícios da Gerrilha do Araguaia, quando muitos dos nossos tombaram em defesa da soberania nacional, da liberdade e democracia. Estávamos nos reerguendo quando surge o desmoronamento do modelo soviético. Tivemos que buscar compreender o novo momento político, adaptar nossos ideais de Socialismo à nova realidade, numa nova situação de liberdade política no Brasil”.
Com a queda do modelo soviético, surge a luta em defesa do Socialismo sob novas condições. “Muitos partidos não resistiram e se perderam na história. Ao contrário disso, nós reafirmamos a importância do Socialismo e insistimos no questionamento ao Capitalismo”, relembra o presidente estadual do PCdoB.
Os críticos ao modelo soviético enfatizavam que, com sua queda, o Capitalismo seria o caminho da estabilidade e da paz. “Vinte anos depois, o que vemos hoje no mundo é paz? Muito pelo contrário. Vivenciamos crises profundas, desemprego, permanentes ameaças de guerras. Hoje, comprovamos que o Capitalismo é um modelo senil. O Socialismo não acabou com o modelo soviético. Ele ressurgiu”, considera.
Carlos Augusto reforça que o Socialismo brasileiro foi repensado após os recuos de modelos derrotados. “Pegamos a experiência da União Soviética e vimos que as ideias do Socialismo continuavam e a luta se daria em novas condições. Levamos em conta a análise dos críticos ao modelo soviético e procuramos avançar nessa análise. Tiramos lições e consequências para a evolução do pensamento do PCdoB”. China, Cuba e Vietnã fizeram reformas que prosseguem no ideário socialista.
Comunistas no Brasil
De acordo com Patinhas, no Brasil, o PCdoB prega a unidade das forças de esquerda. “Às vezes esta condução até nos prejudica, em projetos eleitorais, por exemplo. Mas temos clareza de que esta união trará mais progressos para o país. Fora o Partido dos Trabalhadores (PT), nós fomos o único partido que apoiou Lula em todas as eleições das quais ele participou. Temos a visão de que é preciso derrotar o Neoliberalismo, construir uma alternativa progressista e acreditamos que esta não é tarefa só de um partido, mas de uma frente de forças aliadas. Prezamos, porém, a característica de cada legenda. Esta diversidade faz a união”, acredita.
Programa do Partido
O PCdoB elaborou no último seu 12º Congresso, em 2009, um novo programa socialista. “Nosso programa é a evolução do pensamento do PCdoB. Após a legalidade, o Partido teve a chance de respirar com liberdade, contou com melhores condições para pesquisas e conhecer a realidade brasileira além de extrair lições das experiências socialistas no mundo. Deste debate que aconteceu em todas as bases do Partido, reunindo comunistas de todo o país, resultou nosso programa: O Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”.
Segundo Patinhas, o programa leva em conta a realidade brasileira, suas características e propõe um Socialismo com a maneira de ser do povo brasileiro. “Buscamos elementos desde a formação do estado e da sociedade brasileira”, afirma.
Saltos civilizacionais
O dirigente comunista ressalta que o país viveu dois saltos civilizacionais. “O primeiro, ainda no século XIX, foi a própria formação do Estado uno, desta grande nação. As marcas ocorridas durante a Colônia e o Império – a violência das elites dominantes e o escravismo – ainda ficaram até hoje. O segundo avanço surge com o movimento de 1930, com a industrialização, direito dos trabalhadores, voto das mulheres dentre tantas outras conquistas”, enumera.
Carlos Augusto Diógenes acredita que agora o Brasil está preparado para dar seu terceiro salto civilizacional. “Buscamos discutir com a Academia e com a sociedade de um modo geral, meios de transformar este país numa potência mundial nas mais diversas áreas como Ciência, Tecnologia, Saúde, Educação, Habitação. Lutaremos por um país avançado, moderno e justo. Reconhecemos que temos problemas e entraves vindos da nossa própria formação, mas consideramos que o processo de afirmação da nação brasileira já está em curso”.
O comunista defende a necessidade de construção de debates e a discussão de um novo projeto nacional de desenvolvimento. “Estas ações já foram sinalizadas nos Governos do ex-presidente Lula. Podemos citar o PAC, Bolsa Família e o combate à pobreza. Precisamos agora pensar em projetos mais globais, integrados, meios de enfrentar questões de reformas estruturantes na sociedade brasileira como a reforma agrária, urbana, política, tributária, na educação e nos meios de comunicação”, enumera.
Visando contribuir para a efetivação destas reformas que beneficiarão toda a sociedade brasileira, o PCdoB tem dialogado com diversas forças. “Apresentamos nossas propostas contidas no novo programa socialista com o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Não dizemos, porém, que este documento esteja pronto e acabado. Buscamos momentos como este para debater, junto com a sociedade e a Universidade, ideias e meios de implantar este programa”, reforça Patinhas. O dirigente lamenta que o período eleitoral, período ideal para discutir assuntos relevantes para o país, não tenha sido utilizado para este fim. “Infelizmente as campanhas se resumem à visão de marqueteiros que buscam ganhar eleição”.
Desafios
De acordo com Carlos Augusto, o PCdoB vive uma fase de afirmação e crescimento no país. “Vemos novas lideranças projetadas em todo o país; o Partido participa do executivo e legislativo em várias cidades; temos força junto aos movimentos sociais; ativa participação na luta de ideias; nossa atuação tem funcionamento permanente em órgãos de direções e estamos agregando lideranças expressivas das mais diversas áreas”, contabiliza. Apesar dessas conquistas, o dirigente alerta que ainda são muitos os desafios a serem superados. “Para a realidade brasileira, para o que nós propomos para o país, somos ainda pequenos e enfrentamos desafios grandes. No atual momento, é necessário um PCdoB grande, com influência real na massa”, considera.
Quando afirma que é necessário um partido grande, Patinhas faz questão de ressaltar que isto não se restringe apenas ao crescimento de filiados. “Nosso desafio de transformação da sociedade que queremos requer fileiras de militantes estruturados desde as bases do Partido, realizando atividades nas outras frentes como a da luta de ideias e junto aos movimentos sociais. O PCdoB precisa de uma estrutura de quadros que, juntos, tenham uma atividade política permanente Atuamos de forma estruturada e constante e não somente em períodos eleitorais”, ratifica.
Com uma visão a médio e longo prazos, o PCdoB já se planeja para um futuro próximo. “Pensamos daqui a 20, 30 anos. Até aqui, o Partido resistiu a grandes ofensivas ideológicas, tivemos uma geração de dirigente que assumiu nos anos 60, 70 e, muitos, deram a vida pelo Partido. Já estamos trabalhando com a perspectiva de continuidade desta corrente e pela constituição do poder socialista no Brasil”, projeta o dirigente.
Ao mesmo tempo em que o Partido vive uma onda de crescimento e liberdade política, encara também outras problemáticas. “Uma moeda tem duas faces. Vivemos o início de um tempo de crescimento e fortalecimento da democracia brasileira, mas, por outro lado, a elite desenvolve uma campanha midiática de desmoralização da política, sempre colocando todos os políticos no mesmo nível. Ao lado disso, no nosso sistema eleitoral, o voto é nominal e o financiamento de campanha é privado. São questões que arrefecem o espírito de militância. São pressões reais e concretas que nós buscamos nos contrapor”, considera o presidente estadual do PCdoB.
Três frentes de atuação
Dentro dos desafios que surgem, Patinhas ressalta a atuação mais ampla dos comunistas. “Somos um partido que não vive só de período eleitoral. Atuamos também junto aos movimentos sociais e na luta de ideias. Deveremos reforçar ainda mais nossa atuação nessas outras frentes”. O dirigente comunista considera de grande importância, neste momento, o Partido voltar suas forças para reforçar sua atuação nestes dois pilares. “No final, tudo caminha junto, não dá pra dissociar uma da outra, pois elas estão articuladas entre si. Ao contrário, uma ajuda a outra neste processo de acumulação de forças. Os movimentos sociais terão grande papel nesta nova fase”, avalia.
Essencialmente comunistas
O dirigente ratificou ainda a importância de reafirmar o Socialismo em cada ação desenvolvida pelo PCdoB, nas diversas frentes de atuação. “Temos a nossa marca política e procuramos desenvolvê-la com amplitude. Sempre buscamos aliados, mas não negamos que, essencialmente, somos comunistas e sonhamos com a transformação da nossa sociedade. Defendemos uma convivência democrática e respeitosa com todos os partidos de esquerda, respeitamos a diversidade de opiniões, dialogamos com setores mais avançados da sociedade e com os diversos movimentos sociais. Buscamos unir o povo brasileiro para a construção de um Brasil soberano, próspero, desenvolvido, moderno, justo e avançado”, defende
De Fortaleza,
Carolina Campos