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Sachs denuncia ligações perigosas entre política e ricos dos EUA

Renomado intelectual norte-americano, Jeffrey Sachs, referindo-se aos EUA, evidencia a ligação entre poder econômico e sistema político.

Por David Fialkow Sobrinho*

Em artigo de 29/12/10, publicado no jornal Valor Econômico, adotando tom de quase denúncia, Sachs mostra os mais ricos dos EUA, pessoas físicas e grandes empresas, como sendo os principais contribuintes das campanhas eleitorais, tanto de republicanos quanto de democratas. Essas campanhas, que devem alcançar US$ 4,5 bilhões nas eleições de meio de mandato, representam cifra que os pequenos contribuintes não conseguem financiar.

Em retribuição, desde 1981, início da era Reagan e do neoliberalismo, o sistema orçamentário orientou-se a apoiar o acúmulo de riqueza no topo da distribuição de renda. Como conseqüência, “a parcela de 1% mais rica de famílias americanas hoje possui patrimônio líquido maior que a de 90% da parte de baixo. A renda anual das 12 mil famílias mais ricas é maior do que a dos 24 milhões mais pobres”.

Para ele, essas conexões entre as classes capitalistas mais elevadas e a ação de Estado se expressam hoje na forma como se combate o déficit público dos EUA, de U$ 1 trilhão ao ano. Os cortes orçamentários atingirão áreas de saúde, educação e outros programas sociais, o que penalizará os mais pobres, já assolados pelo desemprego, salários baixos e instáveis. Ao mesmo tempo, o pacote de estímulos corta impostos predominantemente dos mais ricos.

Sachs estende sua crítica ao sistema político norte-americano, dizendo ser necessário criar-se um terceiro partido, “comprometido em limpar a política dos EUA e recuperar algo de decência e justiça”, mas que deverá ser difícil e demorado, pois enfrentará um sistema eleitoral “profundamente orientado contra qualquer desafio contra os dois partidos estabelecidos”. Isso contraria brasileiros que, com certa xenofobia de sua própria nação, recitam ao cansaço a suposta superioridade da “democracia norte-americana” sobre a brasileira e pregam copiá-la.

A argumentação de Sachs, mesmo que não parta de formulações marxistas, evidencia um dos mecanismos de transmissão da relação entre economia e Estado apontada por Marx e Engels. Isso, independentemente das relações incestuosas entre um e outro, hoje designadas no terreno da ética. A correlação existe para além da ética, é política e profunda, é intrínseca ao sistema. A venalidade é apenas uma das expressões, uma das formas, embora torne a atuar sobre a política, sobre o conteúdo e, às vezes, toma o lado prevalente da contradição.

Para Sachs, que – repita-se – não tem nada de marxista, mesmo sendo longo e penoso o processo de afirmação de uma nova agremiação, a situação é tal que o momento de mudanças chegará.

*Do Comitê Estadual do PCdoB-RS