Gisele Teixeira: A visão dos jornais argentinos sobre Dilma
Jornalistas e analistas argentinos se esforçam para prever as relações de seu país com o Brasil, agora sob o comando da presidente Dilma Rousseff. O interesse não é à toa. É do Brasil que chegam 40% dos investimentos estrangeiros diretos na Argentina, e é para aí que seguem 17% das exportações do país.
por Gisele Teixeira*, em seu blog
Publicado 04/01/2011 18:31
O anúncio de que a Argentina será o primeiro destino internacional da presidente parece que resolveu pelo menos as primeiras interrogações: a reação de Brasília ante a ausência de Cristina Kirchner na posse (era o primeiro Ano Novo sem o esposo Nestor) e o interesse em consolidar a região.
O jornal La Nación, em matéria assinada por Carlos Pagni, destacou que tanto Dilma como o ministro das relações exteriores, Antonio Patriota, conhecem pouco a Argentina.
Para saber sobre o país, disse o La Nación, “Dilma terá de recorrer a Marco Aurélio Garcia”, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, classificado como “um homem expansivo e hedonista, de formação marxista, e apaixonado por Buenos Aires”.
A permanência do ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi considerada pelo jornal como “crucial para o governo argentino, por afastar uma eventual desvalorização do real no momento em que a moeda é superavitária para o Brasil e por desmentir uma guinada protecionista impulsionada por motivos ideológicos”.
Clarín destacou que no novo perfil governamental do Brasil não há espaço para temas “ao acaso” e ressaltou possíveis avanços nos campos nuclear e espacial.
“No caso da energia atômica há muita paridade, ainda que os dois países tenham desenvolvido diferentes linhas tecnológicas. E no terreno aeroespacial os argentinos, como agora também os brasileiros, possuem larga tradição”.
Segundo o jornal, as visitas de Patriota e Nelson Jobim, “o homem que dirige as forcas armadas”, sugerem que há projetos para estabelecer joint-ventures nessas duas áreas.
O Página 12 enfatizou o encontro entre Patriota e Héctor Timerman, ministro das relações Exteriores da Argentina, em Brasília. Os dois, que foram embaixadores de seus países em Washington no mesmo período, teriam conversado sobre Mercosul e Malvinas, sendo que Patriota teria dado total apoio à posição Argentina em relação às ilhas.
Em geral, a mídia argentina crê que Dilma pode ser uma boa colaboradora com o país nos próximos anos, especialmente na economia.
Por outro lado, creio que a Argentina também pode fazer bem que ao Brasil, principalmente com exemplos na área de direitos humanos ou civis, onde eles estão ganhando de goleada.
*Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me quedo, com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha.