Orlando Silva fala sobre trabalhos na próxima gestão do esporte
O ministro do Esporte, Orlando Silva, esteve ontem (28) no Rio para reunião com integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI). Mais uma vez explicou os visitantes o porquê do atraso na criação da Autoridade Pública Olímpica (APO). Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, ele falou sobre os desafios para a próxima gestão, destacando a proposta de criar, na próxima gestão, um programa que alie esporte e atividade física, com o Ministério da Saúde.
Publicado 29/12/2010 15:36
Leia a íntegra da entrevista:
Estado – Por que a APO (Autoridade Pública Olímpica) não sai do papel?
Orlando Silva – Ela depende de uma complexidade de normas. Estou convencido de que será consolidada no começo de 2011. A APO consta da MP502/2010, que tem eficácia até fevereiro. Se, numa eventualidade, não for aprovada – não acredito nisso -, a presidente Dilma Rousseff poderia reedita-la. A APO precisa da aprovação dos três níveis de governo. No plano federal, vai se concretizar. O Estado do Rio já a aprovou. E o prefeito Eduardo Paes me garantiu que vai trabalhar pela votação na Câmara de Vereadores antes do carnaval.
Estado – O Comitê Olímpico Internacional (COI) já se manifestou publicamente mais de uma vez sobre a demora da criação da APO. Como evitar novos constrangimentos na relação com o comitê?
OS – Falando a verdade, nós optamos por criar um consórcio inédito no País e dois dos três níveis de governo passaram por eleições recentemente. Isso teve um impacto na consolidação de projetos e iniciativas, como a da APO. Então, estamos dizendo ao COI a verdade, estabelecendo uma relação de confiança.
Estado – Seu nome é cotado para exercer o cargo de Autoridade Pública Olímpica. Não seria conflitante para o ministro do Esporte o acúmulo de funções?
OS – O grau de qualificação e de capacitação das equipes técnicas que vão conduzir o trabalho da APO é mais importante do que falar ou debater sobre o nome de quem vai presidir o consórcio.
Estado – Qual a garantia de que haverá ocupação das instalações esportivas dos Jogos a partir de 2016?
OS – A primeira coisa a fazer é produzir instalações provisórias quando não houver necessidade de obras permanentes. Depois, reduzir a capacidade de público onde for possível.
Estado – Quanto custará ao governo federal a Copa de 2014 e os Jogos de 2016?
OS – Não existe um número final. Há temas, como segurança, que ainda não têm plano operacional definido. Sem isso, não há condição de chegar a uma conta. O que se sabe é que só para 2011 o governo vai investir R$ 1,5 bilhão para a Olimpíada.
Estado – Está otimista quanto à aprovação do estádio de Itaquera pela Fifa?
OS – Recebi notícias positivas do próprio Corinthians, dono do estádio, e do empreendedor do negócio. Estive dias atrás com o prefeito Gilberto Kassab e guardei uma frase dele que me tranquilizou. Ele disse: "Ministro, fique tranquilo que vamos resolver o assunto do estádio em São Paulo." Mais que isso. Ele me informou que tomou providências para que não apenas a abertura seja em São Paulo, mas que a cidade receba também o Congresso da Fifa, o que exige oferta de um centro de eventos. O prefeito está muito seguro e me passou confiança.
Estado – A lei que garante isenção fiscal para os gastos da Fifa com a Copa de 2014 gerou algum desconforto ao governo federal?
OS – O Brasil firmou compromisso com a Fifa de encaminhar essas isenções e, daqui a pouco, haverá uma nova lei para renúncia fiscal visando à realização da Olimpíada, acordo prévio com o COI. Essa redução da arrecadação não causa nenhum constrangimento, estava programada.
Estado – Quais as prioridades de políticas públicas do Ministério do Esporte a partir de 2011?
OS – Há vários desafios. Um deles é criar um programa que alie esporte e atividade física, com o Ministério da Saúde. Se a gente observar os indicadores, há redução de doenças no Brasil de todos os tipos, exceto das que têm como fator gerador a obesidade. Também pretendemos interagir cada vez mais esporte e escola e já há um piloto em curso em parceria com o Ministério da Educação.
Estado – Faz parte da agenda do Ministério do Esporte a discussão sobre a perpetuação de dirigentes nas entidades esportivas?
OS – Houve um tempo em que o Estado tutelava. Foi assim desde 1941, quando Getúlio Vargas normatizou pela primeira vez a atividade esportiva. Em 1988, a Constituição deu autonomia às entidades. Na minha opinião, elas devem ter uma dinâmica, quanto mais democráticas e participativas, melhor. Mas não cabe ao Estado intervir.
Estado – Logo depois de escolhido por Lula para ocupar o Esporte, em 2006, o senhor disse que a tradição brasileira preza a transição sem ruptura. Desde então, houve algum sinal de transição nas principais entidades esportivas do País?
OS – Há uma evolução muito positiva na gestão do esporte no Brasil. O desafio agora é reforçar a economia do futebol brasileiro, Há potencial para isso. Olhe o exemplo do Corinthians nesse período presidido por Andrés Sanchez. O crescimento das receitas do clube é fabuloso. Veja também o nível alcançado pelo São Paulo. Podemos crescer ainda mais diversificando as fontes de receita. Bilheteria dá muito pouco, licenciamento de produtos no Brasil é quase nada se comparado com o mercado europeu. Eu me interesso mais por esses temas, pelo mérito de programas, medidas, e iniciativas que fortaleçam a economia do futebol. Para mim, isso vale muito mais do que discutir se fulano, beltrano ou sicrano têm de ter um ou dois ou três mandatos.