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Senado homenageia Noel e Adoniran; Inácio cita artigo do Vermelho

Acatando proposta dos senadores Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Eduardo Suplicy (PT-SP), o Senado realizou nesta quinta-feira (16) uma sessão em homenagem ao centenário de nascimento dos compositores Noel Rosa e Adoniram Barbosa.

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A íntegra do pronunciamento do senador Inácio Arruda

Em seu pronunciamento, o senador comunista se refere aos sambistas como “dois gênios da música popular brasileira” e cita trechos de um artigo publicado recentemente pelo Vermelho sobre Noel Rosa, na editoria de prosa, poesia e arte, intitulado “O samba não tem tradução no idioma francês”.

Confira abaixo os trechos citados por Inácio Arruda:

Em artigo publicado no Portal Vermelho, Umberto Martins afirmou “O poeta da Vila Isabel conhecia como poucos o ser humano e o seu próprio tempo. Prezava a boemia, amava o samba e apostava na força, originalidade e beleza da cultura nacional e popular. No samba intitulado “Não tem tradução”, ele critica com bom humor e lucidez a influência bizarra das potências coloniais e neocoloniais nos hábitos cariocas, que se insinuava então através do cinema. Na música, Noel revela convicção na força do samba para combater tais tendências e defender a cultura genuinamente brasileira.”

A crença na superioridade do samba e da cultura nacional sobre os novos hábitos é traduzida em vários versos: “Lá no morro, se eu fizer uma falseta a Risoleta desiste logo do francês e do inglês. A gíria que o nosso morro criou, bem cedo a cidade aceitou e usou”. O samba, diz Noel, “não tem tradução no idioma francês”, pois “tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português. Amor lá no morro é amor pra chuchu. As rimas do samba não são I love you. E este negócio de alô, alô boy e alô Johnny, só pode ser conversa de telefone..”

Noel Rosa

Noel Rosa nasceu em 11 de dezembro de 1910 no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro, que se tornou célebre graças a suas músicas. Em 1927, fundou o Bando dos Tangarás, com os compositores João de Barro (Braguinha), Almirante, Alvinho e Henrique Brito. Em 1929, Noel criou suas primeiras composições: Minha viola e Toada do céu. Posteriormente, trabalhou com dezenas de parceiros e integrou outros grupos musicais.

Em 1930, entrou para a Faculdade Nacional de Medicina atendendo a um desejo da mãe, que era filha de médico, mas abandonou o curso dois anos depois. No ano seguinte, compôs Com que Roupa?, sucesso no carnaval de 1931, e tornou-se um clássico do cancioneiro popular. A composição teria sido feita quando Noel descobriu que não poderia ir a uma festa com os amigos porque a mãe, preocupada com sua saúde frágil, escondeu as roupas do filho para ele não sair de casa.

Noel tornou-se um compositor criativo e protagonizou uma carreira de sucesso, com mais de 300 composições, entre sambas e marchinhas. Além de crônicas do cotidiano da vida carioca, muitas carregadas com seu senso de humor, as letras de Noel falaram sobre amor, briga e ciúme. Entre suas músicas de sucesso, destacam-se: Feitiço da Vila, Filosofia, Fita amarela, Gago apaixonado, O x do problema, Palpite infeliz, Pra que mentir, Mulher indigesta, Pierrô apaixonado, Conversa de botequim, Coração e Três apitos.

O compositor vendeu suas músicas para outros cantores e ficou conhecido no rádio pelas vozes de Araci de Almeida, Mário Reis e Francisco Alves. Participou ainda de programas de rádio e fez recitais e apresentações públicas.

Tuberculose

Em 1934, o poeta, que chegou a namorar várias mulheres ao mesmo tempo, apaixonou-se por Ceci, dançarina de profissão. No fim desse mesmo ano, no entanto, acabou casando-se com Lindaura. Nos anos seguintes, Noel contraiu tuberculose e passou uma temporada em Belo Horizonte em busca de tratamento. Apesar de travar uma luta contra a doença, continuou na vida boêmia no Rio, bebendo e fumando.

Em 1935, duas de suas composições estrearam no cinema, no filme Alô, Alô Carnaval, de Adhemar Gonzaga. Eram duas marchas de carnaval que constaram da trilha sonora do filme, feitas por Noel em parceria com Heitor dos Prazeres e Hervé Cordovil: Pierrô apaixonado e Não resta a menor dúvida.

Primeiro filho do comerciante Manoel e da professora Martha de Medeiros Rosa, Noel nasceu de um parto difícil com uso do fórceps, o que acabou causando um afundamento em sua mandíbula. Aos seis anos de idade foi operado, mas teve o queixo um pouco retraído por toda vida.

Com sua mãe, aprendeu a tocar bandolim, e depois passou a tocar violão, instrumento usado pelo pai. O único irmão, Hélio de Medeiros Rosa, era quatro anos mais novo que Noel. O compositor tinha apenas 26 anos quando faleceu em casa, no bairro de Vila Isabel, em 4 de maio de 1937, em consequência da tuberculose. Para Inácio Arruda, apesar da morte precoce, Noel "mostrou ao mundo por que veio, teve uma vida cultural e artística pródiga e foi um dos maiores ícones da música brasileira".

Adoniran Barbosa

Diz a certidão de nascimento que João Rubinato, conhecido como Adoniran Barbosa, teria nascido em Valinhos (SP) no dia 23 de novembro de 1910, filho dos imigrantes italianos Ferdinando e Emma Rubinato, de Veneza. A data real do parto, contudo, foi adulterada pelos pais para que o menino trabalhasse de forma legal no país como entregador de marmitas. Nessa época, a idade mínima dos trabalhadores era 12 anos.

Os Rubinato tinham oito filhos, contando com Adoniran, e viveram muitos problemas financeiros. Moraram em Valinhos, Jundiaí, Santo André e finalmente em São Paulo, na tentativa de melhorar de vida. Adoniran abandonou a escola cedo, pois precisou trabalhar para ajudar no sustento da família.

Sofreu muitos percalços antes de fazer sucesso. Sem instrução nem padrinhos que o ajudassem, foi rejeitado nos palcos como ator. Como compositor, vendeu várias de suas músicas para sobreviver. Posteriormente, sua vida profissional se desenvolveu a partir de interpretações de outros compositores. Sua primeira composição gravada foi Dona Boa, na voz de Raul Torres, e, em seguida, Agora pode chorar.

Depois desse período, começou a carreira de ator radiofônico. Criou e interpretou vários personagens com perfis populares em programas de rádio escritos por Oswaldo Moles, que lhe renderam relativo sucesso. A partir desses programas ele somou as várias experiências vividas para construir sua própria linguagem no samba, pontuada pela fala popular típica do paulistano e a vida de pessoas simples que buscavam inserção social.

Cotidiano

Nesse contexto, compôs músicas que retratavam a vida de pessoas despejadas das favelas, engraxates, mulheres submissas que se revoltavam e abandonavam o lar e homens solitários. Com o humor e a descrição criativa de cenas tragicômicas do cotidiano, o compositor revelou a realidade da exclusão social dessas pessoas e também de sambistas como ele. O primeiro sucesso que virou canção obrigatória em casas de show e rodas de samba foi Trem das onze, de 1964.

Adoniran casou-se duas vezes. O primeiro casamento não durou um ano, e o segundo, com Matilde, durou toda a vida do artista. Boêmio e assíduo frequentador de bares, o compositor bebeu demais certa noite e perdeu a chave de casa, tendo que acordar Matilde para abrir a porta. Aborrecida, ela discutiu no dia seguinte com o marido, o que inspirou a composição do samba Joga a chave, de 1952.

Além de Trem das onze e Joga a chave, as composições de maior sucesso de Adoniran foram, entre outras: Malvina e Saudosa maloca (1951); Samba do Arnesto (1953); As mariposas (1955); Iracema e Apaga o fogo Mané (1956); Bom dia Tristeza (1958, com letra de Vinícius de Morais); Abrigo de vagabundo (1959); Prova de carinho e Tiro ao Alvaro (1960); Samba italiano (1965); O casamento do Moacir (1967); Mulher, patrão e cachaça (1968); Despejo na favela (1969);Fica mais um pouco amor (1975); e Acende o candeeiro (1972).

Devido a um enfisema, ficou sem poder sair de casa e frequentar a boemia nos últimos anos de vida. Dedicou-se, então, a gravar algumas de suas músicas, dar depoimentos e entrevistas. Começou também a criar objetos com pedaços velhos de lata e madeira, todos movidos à eletricidade, como rodas-gigantes, trens de ferro, carrosséis, enfeites, cigarreiras e bibelôs. Adoniran morreu em 1982, aos 72 anos de idade, em conseqüência do enfisema.

Com informações da Agência Senado