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Santa Joana dos Matadouros: A crise versus Brecht

A peça Santa Joana Matadouros, que esta semana faz suas últimas apresentações da temporada em São Paulo, tem como temas a crise econômica, a perda de empregos, a miséria e incertezas quanto ao futuro. Mesmo com quase 80 anos desde que foi escrita, a obra do dramaturgo alemão Bertold Brecht (1989-56) parece até recente ao levar para os palcos assuntos tão atuais.

O “crash” da bolsa em 1929 foi a principal fonte de inspiração da obra. Os prejuízos e o desespero gerados pela crise compõem uma história instigante de disputa entre interesses contrários: o empregador que explora o empregado; o trabalhador que luta pela sobrevivência; fé e a desilusão na natureza humana.

A obra é ambientada na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, durante um rigoroso inverno que intensifica as dificuldades dos desempregados. Assim como na crise atual, na obra de Brecht a sociedade norte-americana é a que mais sofre com a situação econômica, expondo contradições do capitalismo.

Os dois personagens centrais da peça são Joana (Érika Coracioni) e Jack Pierpoint (Alexandre Krug). Joana pertence ao grupo religioso “Boinas Pretas” que prega para os desiludidos trabalhadores que foram demitidos devido a crise. Ela é uma personagem cheia de fé, que se une à luta dos miseráveis contra a exploração.

Pierpoint é o contraponto de Joana. Ele é um dono de açougue que faz uso da especulação financeira para forçar a falência dos rivais. Os seus principais objetivos são a conquista de vantagens e de lucro cada vez maior.

A direção do espetáculo é de José Renato, um dos fundadores do Teatro de Arena, que já dirigiu Turandot, também de Brecht. Renato acredita que a história ainda desperta interesse do público porque ajuda a compreender “os tempos sombrios que vivemos onde crises econômicas e políticas, se misturam em nosso cotidiano, provocando terremotos e tsunamis na vida de todos”, declara.

Produção

A produção fica por conta do grupo CPC-UMES (Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo). Essa é a reestreia da peça que ficou em cartaz entre junho e julho e teve sucesso de público e crítica.

Gabriel Alves, representante da CPC-UMES, em entrevista ao Conselho Nacional da Juventude, explica que a obra ajuda a entender como os monopólios empresarias interferem na realidade social visando apenas os seus próprios interesses. Renato elogia o perfil motivado e polêmico do elenco que permite explorar a crítica da obra de Brecht.

Em Santa Joana dos Matadouros, fica clara a possibilidade da mudança, de transformação da realidade. Nas palavras do próprio Brecht: “Só poderemos descrever o mundo atual para o homem atual na medida em que descrevermos um mundo passível de modificação”.

Fonte: Opera Mundi