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O sonho acabou: há 30 anos, John Lennon era assassinado

Há 30 anos, cinco tiros disparados num dia frio de dezembro, em Nova York, iriam causar uma das maiores tragédias da história da música. Um "admirador" fanático e desequilibrado, Mark Chapman, matava assim o ex-beatle John Lennon, na porta de sua casa, no famoso edifício Dakota. O mundo custou a acreditar naquela notícia. Lennon era, para muitos, o cérebro pensante dos Beatles e, acima de tudo, o rosto mais visível de uma geração. O sonho chegava ao fim.

O ex-Beatle e a mulher, Yoko Ono, voltavam de uma sessão de gravações do segundo disco da nova fase do cantor, no estúdio Record Plant. Quando o casal já estava na frente ao edifício Dakota, Lennon foi abordado pelo desconhecido, Mark David Chapman, de 25 anos, que lhe pediu um autógrafo no novo LP.

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John atendeu ao pedido e foi gentil com o homem que, horas mais tarde, iria lhe tirar a vida. Dos cinco tiros de um revólver calibre 38, Chapman acertou quatro. Lennon morreu logo após chegar ao hospital. O homicida foi preso no mesmo dia e mantido isolado pela polícia, que temia que fãs do artista o matassem.

A notícia chocou não apenas o gigantesco exército de fãs dos Beatles, como toda uma geração que foi embalada pelos ideais de paz e de amor propalados por Lennon nos últimos anos de sua carreira.

John Lennon acabara de completar 40 anos e vivia, na época, distante das badalações e da mídia. Dedicava-se ao ocultismo e à alimentação macrobiótica. Mas, depois de cinco anos de silêncio, ensaiava a retomada de sua carreira com o disco Double Fantasy, no qual cantava suas esperanças.

Há tempos, ele havia deixado para trás a fama de rebelde, pela qual sempre foi identificado nos Fab Four. Idealizador da banda mais famosa de todos os tempos, havia mantido os holofotes em sua direção durante os anos de beatlemania, seja por seu incontestável talento como compositor, seja pela postura de contestador.

Em 1970, rompeu com os Beatles e passou a dedicar-se a trabalhos solo. A época também foi marcada pelo casamento com a artista plástica japonesa Yoko Ono, eternamente acusada de ser o estopim do fim do grupo, mas, ao mesmo tempo, grande incentivadora de seu lado mais político.

Abraçando o idealismo libertário dos anos 60 e 70, Lennon, um pacifista, trocou a rebeldia da jaqueta de couro pela inquietação diante da sociedade e do governo. Ficou muito famosa a “bed-in”, manifestação pelo fim da guerra do Vietnã feita em uma cama, ao lado de Yoko.

O assassino

O que se conta é que o assassino de John Lennon tinha fixação pelo ídolo. Imitava o ex-Beatle constantemente e chegou até mesmo a se casar com uma japonesa mais velha, assim como Yoko. A idolatria afetou sua saúde mental e ele perdeu a noção da realidade: ao pedir demissão, assinou John Lennon, ao invés de escrever seu nome verdadeiro.

Segundo o próprio Chapman, o ataque foi planejado porque ele acreditava que o ídolo era uma farsa e que não merecia viver, pois havia aderido a práticas consumistas e não agia mais conforme pregava em seus atos como militante pacifista. Chapman acreditava que o autor de “Imagine” e “Give peace a chance” não poderia morar em um prédio luxuoso como o Dakota e não merecia mais viver.

O assassino não fugiu do local e ficou parado, sem qualquer reação. Trazia consigo o clássico “O apanhador no campo de centeio”, de J.D. Salinger, um livro que marcou gerações. O homem que matou Lennon foi condenado à prisão perpétua e está preso desde dezembro de 1980, sem aparentes chances de liberdade.

Em 1992, ele disse, em uma entrevista para a televisão, que matara John Lennon "para se apropriar um pouco de sua celebridade", que "não matou uma pessoa real, mas sim uma imagem". Chapman chegou a dizer que estava arrependido, mas não ousava pedir perdão, pois tinha dimensão do dano que sua atitude gerou.

Em 2000, ele recorreu pela primeira vez e pediu a liberdade condicional, mas os argumentos contrários de Yoko Ono convenceram a Justiça a não conceder o benefício. Este ano, o sexto pedido de Chapman teve a mesma reação negativa.

Na época da morte de Lennon, o vespertino New Standart, de Londres, dedicara as três primeiras páginas à morte de Lennon, comentando em editorial que "o assassinato sem sentido de John Lennon revela uma característica cada vez mais marcante de Nova York e dos Estados Unidos em geral, onde a liberdade de se carregar armas faz com surjam monstros". Pouca coisa parece ter mudado desde então.

Tributos

O ato de Mark Chapman, no entanto, só fez aumentar a idolatria por John Lennon. Ao longo dos anos, o músico não deixou de ser tema de várias homenagens, tributos, menções, referências.

O interesse em sua carreira – solo ou nos Beatles – segue em evidência em diversas frentes. Há mais de um ano, é sucesso absoluto de vendas (independentemente de seu custo alto) o game "The Beatles: Rock Band". Recentemente, a chegada do catálogo dos Beatles na loja virtual iTunes devolveu o grupo às paradas, sendo comemorada como a boa notícia da temporada.

Fãs também podem recorrer à "John Lennon Signature Box", caixa com CDs, gravações raras e um livro. Outra novidade relacionada a Lennon é o CD e DVD "Power To The People: The Hits", que reúne 15 canções e videoclipes marcantes de sua carreira.

Também está em cartaz atualmente o filme "O Garoto de Liverpool". Dirigido por Sam Taylor Wood, o filme mostra a infância, a juventude e seus primeiros momentos como músico.

Inesquecível

John Lennon não é um figura inesquecível apenas para seus fãs, como também na memória de seus célebres ex-colegas.

Durante a passagem de Paul McCartney pelo Brasil, um dos momentos mais marcantes da "Up and Comig Tour" foi a homenagem feita ao "meu amigo John" na menção ao sucesso de Lennon "Give a Peace a Chance".

Mas foi em "Here Today" que Paul resumiu os sentimentos de todo um séquito de apaixonados por John: "…but as for me, I still remember how it was before and I am holding back the tears no more…oooooh I love you" ("…mas, para mim, eu continuo lembrando como foi antes e não estou mais segurando as lágrimas…oooooh, eu te amo"), disse ele, resumindo o sentimento de uma multidão que ficara orfã naquele 8 de dezembro de 1980 .

Com agências