Publicado 01/12/2010 09:44 | Editado 04/03/2020 16:32
Há séculos, desde que se iniciou o processo de ocupação dos espaços no estado do Rio de Janeiro, as favelas foram instalando-se como retrato dessa ocupação desordenada ligados à grande densidade demográfica acompanhando a marginalização das comunidades de grande maioria nordestina. Durante séculos também, vê-se a falta de políticas públicas em saúde, educação, lazer e uma estratégia clara de distribuição de renda e trabalho.
Todos os fenômenos do caos social se materializam no espaço e no tempo não só na cidade maravilhosa, mas em todas as capitais brasileiras, porém lá com mais ênfase, sempre se tratando a violência e o tráfico como uma questão exclusiva de polícia.
Segundo Michel Foucault, uma das grandes contradições do Estado é a de que, ele, cria pela sua omissão na minguada execução das políticas públicas de inclusão social, a exemplo da educação, da saúde pública dentre outras, as condições ideais para as manifestações das mazelas sociais, dentre elas o aumento vertiginoso do uso de entorpecentes pela juventude desassistida brasileira e a violência em todas as sua manifestações. O Estado trata o “problema” como caso de polícia e manda os órgão ligados à Segurança Pública “consertarem” seu próprio fruto, sobre a alegativa de suas ações estarem respaldadas pelo estado democrático de direito. Contudo, caro leitor, que direito é esse que só atinge uma microscópica parcela da sociedade mais abastada?
O grande debate que quero aqui suscitar é que não foram apenas as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) que levaram o Estado do Rio de Janeiro a tomar a importante iniciativa de combater de forma veemente tanto as milícias como as facções de traficantes nos morros da “Cidade Maravilhosa”. Existe uma internacional discussão acerca das reais condições detidas pelo Brasil de sediarem dois grandes eventos ligados ao esporte em 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Olimpíadas). Para tanto, é preciso que tenhamos um olhar “sobretudo” crítico sobre o episódio.
É bem verdade que a iniciativa está ganhando o grande apoio da opinião pública, inclusive pelo fato de estarem utilizando material bélico com grande poderio de fogo e com o uso de blindados das Forças Armadas. Aplaudo de pé a iniciativa e acredito que todos nós, brasileiros de boa vontade, gente trabalhadora e honesta que busca apenas viver com o mínimo de dignidade e qualidade de vida também o faz.
Contudo insisto, quantas pessoas tiveram que morrer com balas perdidas, quantos jovens se envolveram com drogas, crimes de todas as ordens pela secular omissão desse mesmo Estado? Quantas famílias foram desestruturadas por falta de políticas incisivas como o acesso ao trabalho e quantas vezes mais teremos que ver as mudanças do quadro caótico de nossas comunidade, apenas quando estivermos às vésperas seja de eleições, seja de eventos como o que será a Copa ou o que for?
Os problemas são presentes, correntes, concretos. Estão ocorrendo agora enquanto você lê esse texto. Avançamos muito é bem verdade, esperamos avançar mais, pois muito nos foi tolhido pela corrupção do nefasto modelo capitalista de se ver as coisas. Só se pode permitir um Estado. O estado paralelo que tem como mandatários corruptos políticos, traficantes como vereadores e o povo como refém deve acabar agora para que tenhamos uma sociedade verdadeiramente livre e soberana.
Samuel Duarte Siebra é Professor efetivo da Rede Estadual de Ensino e acadêmico do curso de Enfermagem na Universidade Regional do Cariri
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