Mídia portuguesa promove campanha mistificadora pró-Otan
Neste texto, Filipe Diniz escreve sobre a mistificadora campanha dos meios de comunicação em Portugal em torno da Reunião de Cúpula da Otan, que acontece em Lisboa, e a promoção do evento que, a propósito foi feita "de um ambiente de intimidação e histeria securitária que procura identificar ações de massas com violência e desacatos". No cerne da campanha está a publicação diária de análises e comentários fazendo a apologia e a justificação da coisa, por "ideólogos e papagaios" de serviço.
Publicado 20/11/2010 18:31
Se os grandes veículos de comunicação prestassem algum serviço público decente não deixariam de passar nas vésperas da cúpula da Otan o "Dr. Strangelove" de Kubric, obra-prima que descreve os mecanismos demenciais "do militarismo anticomunista e a ameaça de destruição global que representa".
Mas o que acontece é o inverso: é a promoção de um ambiente de intimidação e histeria securitária que procura identificar ações de massas com violência e desacatos; é a publicação diária de prosas e comentários fazendo a apologia e a justificação da coisa.
Nesta tarefa há duas categorias: a dos ideólogos e a dos papagaios. O "Público" (jornal português) de sábado passado trazia excelentes exemplos: Teresa de Sousa (TS, na categoria papagaio) e Pacheco Pereira (PP, na categoria ideólogo).
TS papagueia um "relatório de peritos" chefiados por Madeleine Allbright: a Otan prepara a guerra no "ciberespaço", o novo "inimigo invisível". Inimigos invisíveis são uma especialidade da Otan. À conta deles tem cometido agressões militares, crimes de guerra e violências de toda a ordem, desde a ex-Iugoslávia ao Afeganistão. Como não existe "ameaça comunista", não faltam à Otan peritos para inventar "novas ameaças".
Já Pacheco Pereira ("As democracias devem estar armadas") escreve um concentrado reacionário sobre as ações de massas de protesto e sobre a Otan: ações de massas são expressões de "antiamericanismo"; sem a Otan "o mundo fica muito mais perigoso e inseguro".
"Antiamericanismo" não quer dizer politicamente nada. O termo certo é "anti-imperialismo". É em seu nome que muitos e muitos milhares de norte-americanos combatem também a Otan, cuja potência hegemônica são os EUA. Sabem que o imperialismo, inimigo dos povos, é igualmente inimigo do povo dos EUA. Sabem que são os seus filhos — oriundos na maioria das camadas sociais mais pobres e excluídas — que morrem aos milhares nas atuais aventuras imperialistas.
A Otano, entre cujos fundadores está o Portugal de Salazar, nunca foi defensiva e nada tem a ver com a democracia. É uma ameaça permanente contra a segurança e a paz.
No encontro de cúpula estarão Cavaco e Sócrates.
Na rua, contra a Otan e pela Paz, estará o povo português.
Fonte: Jornal Avante! (Portugal)