Paulo Henrique Amorim: quem gostava do Silvio Santos era a Globo
Como se sabe, o Silvio fazia questão de dizer que estava muito feliz com o segundo lugar. Silvio transformou uma concessão pública de televisão num instrumento de venda de seus produtos fora da televisão.
Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada
Publicado 12/11/2010 17:30
Silvio não estava preocupado em tirar o lugar da Globo. Ele não queria ser o primeiro. Não era o modelo de negócio dele. Por isso, Silvio nunca investiu muito dinheiro na televisão.
Silvio não se notabilizou por novelas, minisséries, esporte, e muito menos por jornalismo. Dizem que Silvio tem pavor de jornalismo. Ou seja, Silvio gostava de programas baratos, de auditório, como os dele, da Hebe e do Gugu. Programas de custo reduzido, controlável e com muita mão-de-obra avulsa. Isso não dava uma rede de televisão que pudesse enfrentar a hegemonia da Globo.
No governo Figueiredo, quando a Tupi quebrou, Roberto Marinho foi tão esperto que conseguiu escolher até os concorrentes. E o governo Figueiredo dividiu a Tupi em duas: uma, a Manchete, quebrou. A outra, o SBT, vai ter que trocar de mãos.
Roberto Marinho pretendia interromper o movimento da Terra em torno do Sol. Manter o regime militar e o Silvio no segundo lugar. Aí, apareceu a Record, que quer ser a primeira. Aí, apareceu o Lula, que reduziu de 90% no Governo FHC para 50% a participação da Globo na publicidade oficial. Aí, veio a Dilma, que, se não fizer a Ley de Medios, a Globo derruba ela.
Agora, o Silvio sofreu esse baque irremediável. Como diria o Cala Boca Galvão, quando a Holanda empatou: a situação já esteve melhor para a Globo.
Silvio leva a Folha para o banco da Praça É Nossa
Silvio fez uma gozação com a Folha que se tornou manchete da primeira página: “Quem pagar leva o SBT”. É o que o Silvio diz há quatrocentos anos. Disse à Televisa, à Disney, ao Boni. E a Folha acha que é sério o Silvio dizer que vende, hoje, o SBT pela dívida? R$ 2,5 bi? Só a Folha leva isso a sério. Ou não sabe o que são R$ 2,5 bi.
Na verdade, a entrevista do Silvio parecia com as entrevistas do programa da Hebe: ri-se muito e nada é sério. É como se o Silvio tivesse levado o Otavinho para o banco da Praça É Nossa. O Silvio tirou um sarro da Folha. Quem é o Lula? O Eike? “Bota uma foto minha bem bonita no jornal.” E a Folha levou a sério.
O mais interessante a Folha não quis saber. Silvio Santos deu toda a sua fortuna pessoal como garantia do empréstimo. Nunca um empresário do setor financeiro tinha feito isso, antes. Ou seja, o Silvio, de maluco, só na Folha. A única coisa séria que a Folha publicou hoje foi o Simão:
“O Silvio vai dar de garantia o Jaça, a menina Maisa e o Bozo.”
“E se ele não pagar, o governo fica com o Celso Portiolli.”
O Simão adora o Silvio, ao contrário da Folha. O Simão gosta, principalmente, “quando ele combina a cor do cinto com a cor do cabelo.” “E diz que ele maquiava o balanço do banco com produtos Jequiti. Só podia dar nisso.”
Este é o verdadeiro Silvio? Não. É a verdadeira Folha. Que não tem o menor senso de humor.