Tucanos se engalfinham para decidir quem dará as cartas no PSDB
Passada uma semana das eleições presidenciais, o PSDB ainda sente os efeitos da ressaca da derrota. Atolado em dívidas que ultrapassam os R$ 20 milhões, o partido, em vez de juntar os cacos, afinar o discurso e marchar unido em oposição ao governo de Dilma Rousseff, mergulha numa crise interna resultante das feridas abertas durante a campanha.
Publicado 08/11/2010 10:11
Nos últimos dias, os tucanos divergiram publicamente sobre temas que envolvem desde o relacionamento com o futuro governo até o melhor momento para a escolha do candidato do PSDB à Presidência em 2014. A raiz da cizânia, porém, é a definição do tucano que personificará a cara da oposição daqui em diante. Para o candidato derrotado à Presidência da República, José Serra, ele, do alto de seus mais de 42 milhões de votos, está mais do que credenciado para exercer esse papel.
Mas, para quem tem este objetivo, os serristas começaram mal. Logo após a contagem dos votos, Xico Graziano, integrante destacado da campanha de Serra, colocou em seu Twitter: “Perdemos feio em Minas. De quem será a culpa?” A insinuação contra o ex-governador Aécio Neves alvoroçou os tucanos mineiros. Eles passaram a atribuir toda a responsabilidade pelo resultado à atuação desastrosa do candidato Serra.
Logo apareceram também claramente as divergências quanto ao estilo da oposição. Tucanos como o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador eleito Aécio Neves defendem uma renovação nos postos de liderança nos próximos anos, além da adoção de uma linha de oposição mais propositiva. Para os tucanos com menos de 60 anos, o único dirigente da legenda capaz de estruturar uma frente de resistência ao governo Dilma e dar uma cara nova à oposição é Aécio.
Para conturbar ainda mais a legenda, na última semana, dirigentes tucanos foram surpreendidos com a notícia de que Serra trabalha nos bastidores para ser o novo presidente nacional do partido. Para Serra, seria a chance de fugir de um possível ostracismo político previsto para os próximos anos quando estará sem mandato eletivo.
Mas a ambição de Serra é tida internamente como uma tarefa mais difícil do que vencer uma eleição presidencial. Os tucanos não confirmam, mas nove em cada dez representantes do partido preferem ver o perfil centralizador de Serra longe da direção partidária. “Não é preciso trocar o comando. O primeiro passo é saber onde estamos errando”, avalia Nárcio Rodrigues, presidente do PSDB em Minas Gerais.
Outra polêmica que serviu para alimentar o racha interno foi levantada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista, ele defendeu a antecipação da escolha do candidato do PSDB ao Planalto de 2014 para 2012. “Falar agora de estratégia para daqui a quatro anos é totalmente descabido”, disse o deputado federal Jutahy Magalhães Jr. (PSDB-BA), aliado de Serra, para quem a decisão só beneficiaria Aécio.
Alckmin e o governador eleito do Paraná, Beto Richa, também consideraram a discussão prematura. “FHC é nosso grande líder. Sempre deve ser ouvido. Mas há tempo para se discutir”, disse Alckmin. O único a concordar com FHC foi o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra. “Na minha opinião, devemos ir para a eleição municipal já com candidato à Presidência”, diz ele.
O que o tucanato não revela publicamente é que FHC não está muito preocupado com a data em que será escolhido o candidato. Na verdade, a declaração do ex-presidente representa um duro recado a Serra. No entender de FHC, o ex-governador paulista fez tudo errado e, por isso, o PSDB saiu derrotado das eleições presidenciais.
Para tentar dar um ponto final à disputa interna e definir estratégias de atuação, a Executiva Nacional do PSDB reúne-se no próximo final de semana. O entendimento não será fácil. Há um clima de animosidade entre as principais lideranças do partido, que refletem claramente a disputa pelo espólio tucano. O problema é que os antigos donos do partido, em especial a ala paulista capitaneada por Serra, entendem que a derrota nas urnas não significa uma derrota interna.
Um dos pontos de divergência entre as principais forças do PSDB é exatamente em relação a como o partido deve se mostrar ao País. Serra, Guerra e seus aliados continuam acreditando que a melhor estratégia é apostar na força da personalidade de seus líderes para conquistar eleições, como ocorreu neste ano. Aécio e dirigentes de outros estados entendem que o PSDB, ao contrário, deve abandonar a personificação de suas propostas e encaminhá-las de forma mais institucional.
O que sairá desse embate é incerto. Assim como incertos são os destinos dos principais atores dessa batalha. A princípio, a lógica diz que Serra sai de cena e que Aécio emerge como a grande força tucana. Mas na política, assim como na economia, análises cartesianas nem sempre são capazes de prever com precisão o resultado das equações mais simples.