Niko Schvarz: Um salto na consciência humana
O chanceler cubano iniciou seu fundamentado discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas que tratou o tema do bloqueio com uma referência aos graves e iminentes perigos que ameaçam a existência de nossa espécie. Este discurso e a resolução adotada pelo organismo internacional, concitaram nestes dias uma aprovação generalizada. O fragmento inicial merece uma consideração especial porque aborda de frente o problema cardinal da humanidade na hora presente.
Por Niko Schvarz*
Publicado 03/11/2010 08:37
Em termos categóricos, o chanceler Bruno Rodríguez afirmou: “Para preservar a vida humana é preciso preservar a paz. Somente o emprego de uma parte ínfima do enorme arsenal nuclear mundial implicaria o fim da espécie. A única garantia de que as armas nucleares não podem ser usadas por Estados nem por ninguém, será sua destruição, junto à geração (quer dizer, ao conjunto) de armas convencionais de quase similar letalidade desenvolvidas no período recente. A única solução é o desarmamento”.
O parágrafo seguinte – que dá título a esta nota – também deve ser retida por constituir um chamado à consciência coletiva: “Para sobreviver, é imprescindível um salto na consciência da humanidade. Estamos em uma nova época e corresponde a esta Assembleia Geral, com toda urgência, como incessantemente pede Fidel Castro, liderar uma mobilização mundial para exigir o respeito ao direito dos seres humanos e o direito dos povos a viver. Construamos outra ordem mundial, fundemos uma ética coletiva baseada na solidariedade humana e na justiça, encontremos solução para os conflitos mediante o diálogo e à cooperação, cessem o egoísmo a privação que levam à guerra e ao uso da força. Diante do sério perigo, afastemos o que nos enfrenta ou divide e unamo-nos para salvar a paz, o planeta e a vida das futuras gerações”. Desde a tribuna da ONU, este chamado urgente ecoa em todo o mundo.
Todo o posicionamento adotado sobre o bloqueio (leia a nota da sexta-feira passada, intitulada As razões de Cuba) está concebido como uma contribuição à convivência civilizada entre as nações, em outros termos, a afiançar a paz mundial. Mas há além disso várias postulações específicas com idêntica finalidade, por exemplo no que se refere ao combate ao terrorismo, ao narcotráfico e temas conexos. O chanceler foca em que os EUA não têm respondido aos novos projetos de cooperação apresentados por Cuba este ano para avançar em temas de interesse comum como o combate ao narcotráfico e ao terrorismo, a proteção do meio ambiente, a prevenção de desastres naturais e inclusive o enfrentamento a acidentes petroleiros no Golfo do México, do que há trágicos exemplos. Ao contrário, esse governo coloca Cuba na espúria lista de Estados que supostamente patrocinam o terrorismo internacional, sem que exista nenhuma razão para isso, acrescentando que carece de autoridade moral para elaborar estas listas, nas quais em todo caso teria que colocar-se no topo.
Ademais, Cuba é vítima do terrorismo de Estado, e enquanto cinco lutadores antiterroristas cubanos estão presos há más de 12 anos nos EUA, autênticos terroristas passeiam cmo se estivessem em casa, como Posada Carriles e Orlando Bosch, gestores de uma política que incluiu a sabotagem, o sequestro, o assassinato múltiplo e a agressão armada. É uma típica política de duas caras. Especial interesse tem a citação de um memorando (desarquivado há poucos anos) do subsecretário assistente de Estado, Lester Mallory, de abril de 1960, segundo o qual os EUA devem pôr em prática todos os meios possíveis contra Cuba “com o objetivo de provocar fome, desespero e o derrocamento do governo”. Esses objetivos não mudaram, disse o chanceler, e sobre essa base se desenvolve contra Cuba “uma política de agressão, cruel e absolutamente contrária ao direito internacional”, que qualifica como um ato de genocídio, segundo a Convenção de Genebra de 1948, e também como um ato de guerra econômica, em suma, como “um ato hostil e unilateral que deve cessar unilateralmente”.
Os três países que se abstiveram na votação são as Ilhas Marshall, a Micronésia e Palau. Los atóis de Kwajalein e Bikini, que integram as Ilhas Marshall, foram cenário entre 1946 e 1958 de 67 provas nucleares, além da detonação da primeira bomba de hidrogênio, passando a constituir a zona mais contaminada do planeta. Estas ilhas estão ligadas por um acordo de associação aos EUA, que dirige sua política exterior e de defesa. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA se encarregara de toda a Micronésia sob o regime de confiança. Palau se separou e em 2001 os EUA instalaram ali uma base de sua marinha de guerra. As três são parte do andaime militar dos EUA espalhado pelo mundo.
* Niko Scharvz é jornalista e membro da Direção da Frente Ampla do Uruguai