Dólar fraco desafia a competitividade externa dos países da AL
Os países da América Latina têm apresentado ao longo de 2010 cenários de forte crescimento económico.
Publicado 03/11/2010 15:19
Muitas delas beneficiam da recuperação do mercado internacional de commodities, como é o caso do México ou da Argentina, e outras também conseguiram estabelecer uma forte dinâmica interna, como é o caso do Brasil. Este processo de expansão econômica tem sido liderado pelo Brasil, com uma perspectiva de crescimento em 2010 acima de 7%, seguido por outros como a Argentina, o México, Chile e Peru. O cenário positivo em termos de crescimento tem ditado que nestes países (à excepção da Argentina), os bancos centrais tenham decidido no último semestre retirar as medidas de incentivo introduzidas durante a crise, e progressivamente tenham vindo a adotar medidas mais restritivas, que passam por ciclos de subida de taxas de juro (caso do Brasil e do Chile), reconfirmando o compromisso com o controlo das pressões inflacionários.
Este cenário de crescimento económico robusto contrasta com os sinais de hesitação que surgem na economia internacional, em particular nos EUA. O esforço para promover a actividade econômica norte-americana e impedir um cenário de deflação, leva à manutenção de uma política monetária ultra-expansionista, que diverge do cenário de taxas de juro mais elevadas noutras economias, nomeadamente nas economias emergentes da América Latina. Esta divergência de cenários, aliada às fortes perspectivas de crescimento oferecidas por algumas economias, como é o caso do Brasil, tem contribuído para a intensificação de fluxos de capitais para estes mercados, colocando pressões sobre as moedas locais. As moedas latino-americanas têm vindo a sofrer uma forte pressão, com valorizações nominais na ordem dos 5% desde o início de 2010 até meados de Outubro.
Por exemplo, no caso do Brasil, a forte apreciação do real ao longo de 2010 levou a um ganho de 6% em termos nominais. As notícias que vêm dos EUA deixam antever que esta tendência tenderá a agravar-se, com a manutenção de taxas de juro baixas e a atribuição de medidas adicionais de estímulo à economia. Se por um lado a valorização nominal verificada até ao momento é, até certo ponto um fator de alívio, numa perspectiva de contenção de pressões inflacionistas que pairam no Brasil e noutras economias na região, por outro lado, a forte valorização da moeda coloca desafios a vários níveis, nomeadamente em termos da competitividade do setor exportador. As autoridades brasileiras já deram sinais de que este movimento não será tolerado: decidiram aumentar o programa de intervenção no mercado cambial; e o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 2% para 4%, para operações de investimentos de capitais estrangeiros em ativos a taxa fixa.
Existe um outro conjunto de medidas que as autoridades brasileiras poderão considerar, com o objetivo de gerir o elevado montante de divisas e impedir sobrevalorizações dos ativos brasileiros, tentar impedir que a competitividade do setor exportador seja significativamente afectada, bem como assegurar a sustentabilidade das contas externas e do sistema financeiro. Neste cenário, o real manterá a pressão de valorização, embora esse movimento possa ser menos acentuado do que no passado recente.
Entretanto, na última reunião, o Banco Central do Brasil (Bacen) manteve a taxa básica de juros inalterada em 10.75%, uma medida que foi interpretada como um sinal de que as autoridades brasileiras estão confiantes de que a inflação está controlada. Porém, persistem fatores de risco que devem ser observados, pelo que o Copom (Conselho de Política Monetária) deu sinais de que poderá retomar um movimento de subida da taxa Selic se eles se tornarem uma ameaça à estabilidade dos preços. Para já, um conjunto de fatores permite acreditar que a taxa de juro atual é compatível com o objectivo de estabilidade de preços: em 2011 e 2012 o governo irá prosseguir com uma política fiscal mais restritiva (objetivo de superavite primário de 3.3% do PIB); o Bacen acredita que o contexto internacional será favorável à evolução da inflação doméstica; o Bacen defende que a taxa de juro neutra é agora mais baixa, considerando os progressos estruturais da última década, e que os mecanismos de transmissão são mais eficazes.