Franceses ampliam protestos contra reforma de Sarkozy
Em toda a França continuam multiplicando-se os protestos contra a reforma previdenciária proposta pelo conservador e neoliberal presidente Nicolas Sarkozy. Em nota, o Partido Comunista deplora que o primeiro mandatário da nação queira declarar guerra ao povo e afirma:: "Não se governa contra a vontade popular"
Publicado 21/10/2010 11:27
Manifestantes franceses bloquearam o aeroporto de Marselha, pneus interromperam avenidas e uma apresentação da cantora Lady Gaga foi cancelada nesta quinta-feira (21) em Paris, às vésperas da votação no Senado da reforma da Previdência proposta pelo governo conservador e neoliberal de Nicolas Sarkozy, que provocou a justa ira dos trabalhadores e estudantes em todo o país.
Um quarto dos 12,5 mil postos do país estava sem combustível, apesar da ordem do presidente francês, Nicolas Sarkozy, cada vez mais arrogante e autoritário, de abrir à força barricadas em depósitos de combustíveis.
O governo se recusa a dialogar com os sindicatos, os quais entendem que a aposentadoria aos 60 anos é um direito por merecimento. A reforma pretende aumentar a idade mínima para 62 anos e, a integral, de 65 para 67 anos.
Centenas de trabalhadores bloquearam todos os acessos ao principal aeroporto de Marselha por cerca de três horas nesta quinta-feira. Os passageiros carregavam suas bagagens pelas vias bloqueadas e tentavam escalar o terminal, antes da polícia chegar e dispersar os manifestantes.
Estudantes bloquearam a entrada de uma escola de Paris e planejam manifestações nacionais na tarde desta quinta, dia que o Senado pretende finalizar o adiado debate sobre a reforma, que Sarkozy considera crucial para sua Presidência. Na cidade de Lyon, manifestantes jogaram pedras na polícia na noite de quarta.
O governo francês, em profunda crise do endividamento, como muitos países capitalistas europeus, diz que o aumento da idade para aposentadoria é vital para conter o déficit público e assegurar a sustentabilidade do sistema previdenciário. Uma concepção neoliberal e conservadora, que consiste em atirar sobre os ombros de quem trabalha o ônus da crise do capitalismo. Os sindicatos dizem que a classe trabalhadora é punida injustamente pela reforma e que o governo deveria buscar financiamento para as aposentadorias em outras fontes pensão em outro lugar.
Ainda nesta quinta-feira os sindicatos, que estão à frente dos protestos, se reunirão para decidir os próximos passos do movimento.
Politicamente, o presidente Sarkozy está criando uma situação de impasse, contra a expressa vontade da maioria da população. O Partido ComunistaFrancês, cuja militância está de corpo e alma engajada nos protestos populares, considera que enquanto o presidente da República quer declarar guerra aos trabalhadores, os franceses querem dialogar.
O secretário nacional do Partido Comunista Francês, Pierre Laurent, publicou nesta quarta-feira (20), declaração em que destaca entre outras coisas: “No momento em que mais do que nunca o país está reunido para prosseguir o movimento, quando oito em cada dez franceses exigem a abertura de negociações sobre o projeto de lei das aposentadorias, Nicolas Sarkozy lhes dirige uma negativa repleta de ameaças aos assalariados em luta põe em causa o direito de greve ».
O dirigente comunista francês condena a violência policial e conclama os trabalhadores a não caírem em provocações.
Pierre Laurent considera que « Sarkozy quer a desordem » e escolheu o caminho da tensão, da agressão e da provocação.
Numa aguda análise dos efeitos políticos da intransigência presidencial, o dirigente comunista assinala : "O fosso existente entre a vontade popular e os atos do poder mostra a que ponto o presidente da República perdeu contato com a realidade. É preciso se render a essa evidência. Nicolas Sarkozy não se comporta mais como presidente de todos os franceses. A direita deve ter consciência das consequências de um tal divórcio com o país. É preciso dar força ao diálogo. Não se governa contra a vontade popular".
Da Redação, com agências